Segurança pública
VEJA
Somente no primeiro semestre de 2014 houve 106% de roubos a mais do que o esperado na região onde empresária foi morta durante um assalto
Leslie Leitão, do Rio de Janeiro
Movimentação em frente ao Guimas após a morte de empresária
(MARCOS DE PAULA)
Mês após mês, os índices de criminalidade do 23º BPM (Leblon) – responsável pelo policiamento da região mais nobre da cidade, englobando Jardim Botânico, Lagoa, São Conrado, Ipanema, Leblon e Gávea, onde ocorreu o crime – vêm ultrapassando com folga todas as "metas" estabelecidas pelo governo.
Sim, a Secretaria de Segurança têm metas estipuladas para o que considera tolerável. Para resumir o cenário do primeiro semestre de 2014, a "meta" para a área neste período era de 399 assaltos nas ruas dos seis bairros, mas o número total chegou a 824 roubos, ou seja, 106% acima do previsto.
Os dados obtidos por VEJA constam num relatório interno feito no próprio batalhão da área, com base em dados que são enviados para o Instituto de Segurança Pública. E eles mostram um nítido aumento dos crimes no asfalto depois que as duas favelas da área, o Morro do Vidigal e a Favela da Rocinha, foram ocupadas pelas forças de segurança, em outubro de 2011 e, em seguida, receberam Unidades de Polícia Pacificadora (UPP). Hoje, o efetivo do projeto nessas duas localidades é de 869 policiais, para uma população total de 82.153 moradores, fazendo com que a relação policial por habitante chegue a um para cada 94,5 moradores.
O problema é que, com o cobertor curto, a proporção para o restante da região (onde vivem 156.449 pessoas e há 643 policiais lotados) é de um PM para cada 243 pessoas.
Para se ter uma ideia do reflexo desse abismo de patrulhamento, o número de assaltos nas ruas da região ao longo dos seis primeiros meses de 2011 (pré-UPP) foi de 482 (70% a menos do que os 824 de hoje). Outro dado impressionante é relacionado ao roubo de veículos, que há três anos registrou 25 e, agora, chegou a 57, um acréscimo de 128%. A "meta"’ de carros roubados para o primeiro semestre de 2014 era de 21.
Outro item utilizado pelos técnicos do Instituto de Segurança Pública para avaliar as taxas de criminalidade é classificado como "Letalidade Violenta", que engloba homicídio doloso, homicídio decorrente de intervenção policial (auto de resistência), lesão corporal seguida de morte e latrocínio (roubo seguido de morte). É nesta última legenda que se enquadra o caso de Maria Cristina Mascarenhas.
Vítima de uma "saidinha de banco", ela havia sacado 13.000 reis numa agência próxima e estava parada em frente à Praça Santos Dumont, ao lado do bar BG (local que foi o point principal de turistas no Rio durante a Copa do Mundo), quando um homem tentou levar sua bolsa. A empresária tentou evitar o roubo, levou um tiro na cabeça e morreu na hora. A Divisão de Homicídios assumiu as investigações.
O problema é que, sem o patrulhamento, esses índices de letalidade violenta têm apresentado números bem acima do que os especialistas previam. A "meta" deste item, que era de sete em todo o primeiro semestre, chegou a 17.
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