Em vez de choque de competência, CBF decide dar um choque de testosterona bronca na Seleção: Dunga deve ser anunciado como técnico na terça. Ou: Ele foi conviva de Dilma no Maracanã e fez a presidente rir até as lágrimas
Por Reinaldo Azevedo
O jornalista Wanderley Nogueira, da Jovem Pan, informa em seu blog que
Dunga — sim, ele mesmo, Dunga!!! — será o novo técnico da Seleção
Brasileira. Eu adoraria que ele estivesse errado, mas errar não está
entre os hábitos de Wanderley. Então deve ser isso mesmo. Na verdade, o
jornalista tinha essa informação havia alguns dias.
Santo
Deus! É o que eu chamaria de triunfo do caipirismo existencial — caipira
eu também sou; o caipirismo existencial é outra coisa: é a mentalidade
estreita pela própria natureza. Lá em Dois Córregos, a gente está
acostumado a larguezas…
O que quer
a CBF? Um bedel? Então encontrou! Dunga já recebeu um prêmio por ter
sido o “capitão do Tetra”: tornou-se técnico da Seleção em 2006. Ganhou
um pouco, perdeu um pouco e foi eliminado nas quartas-de-final pela
Holanda por 2 a 1. De fato, nada que se pareça com os 7 a 1 que o Brasil
tomou da Alemanha. O pior resultado foi um 3 a zero contra a Argentina,
placar que foi devolvido na Copa América, vencida pelo Brasil.
O melhor
resultado foi um 6 a 2 contra a Seleção de Portugal.
Vamos ver:
Felipão e Parreira foram campeões do mundo e levaram a Seleção ao pior
resultado de sua história. Dunga conquistou um título como jogador e se
despediu da Copa nas quartas-de-final, derrotado pela Holanda por 2 a
1. Por que essas informações? Eu
quero saber qual é o compromisso do técnico com o futuro, não com o
passado. Por que Dunga agora? A farsa se repete como… farsa!
Vamos ver
Parreira se sagra Campeão do Mundo em 1994
— era o Tetra, com Dunga como capitão. Em 1998, há o desastre contra a
França, com Zagallo no comando. Vocês se lembram do famoso episódio,
nunca suficientemente explicado, do mal-estar de Ronaldo etc.
Aí temos
dois anos de desacertos, maluquices e escolhas bisonhas.
Até que o
comando fosse passado a Felipão, esquentaram o banco Vanderlei
Luxemburgo, Candinho e Leão. Em 2002, o Brasil conquista o Penta. Em
2006, Parreira assume a Seleção, com o auxílio de Zagallo. Ficou
a impressão de que o técnico não tinha controle da equipe, que seria
gerida, digamos, por uma turma que gostava mais de farra do que de
disciplina, com destaque para Adriano e Ronaldinho.
Não só: também teria
mantido jogadores já fora de forma, como Roberto Carlos e Cafu.
Então
alguém teve a ideia: a Seleção precisa de um choque de ordem. E veio
Dunga, com o resultado conhecido. Com a mediocridade também conhecida.
De modo impressionante, tem-se a mesma conversa: teria faltado
disciplina à Seleção de Felipão: muito jogador com cabelo tingido, com a
perna raspada, com a cueca de fora…
Olhem aqui: disciplina é, sim, muito importante. Mas é bom não confundi-la com moralismo tosco. Recomendo mais uma vez uma reportagem da
revista alemã “Der Spiegel” sobre o sucesso do futebol alemão. É o
anti-Duga. Em vez de um choque de testosterona bronca, de manual, o
futebol alemão recebeu um choque de competência e planejamento.
A
revista até brinca, afirmando que os jogadores, hoje, são um pouco mais
“feminis” do que os antigos “machos Alfa”. Em vez de um comandante
esporrento, os alemães preferiram enviar seus técnicos para o outros
países, como Espanha, França e Itália, para ver como se jogava no resto
do mundo.
Não que
fosse um futebol malsucedido no mundo quando se tomou essa decisão: eles
já eram tricampeões mundiais — agora são tetra. Os alemães que vocês
viram no Brasil, interagindo com a população da Bahia, enviando
mensagens em português aos brasileiros no Twitter, sorridentes,
“moleques”… Tudo isso era parte de um planejamento também de marketing.
Dunga é a
contramão da modernidade; é o atraso orgulhoso, machão e, lamento, meio
abestado. Pode ganhar ou pode perder a próxima Copa.
Só não conseguirá
fazer o futebol avançar. Quando o atraso ganha, diga-se, em certo
sentido, é pior. A propósito: depois que ele deixou a Seleção, qual é
seu currículo para merecer tal galardão?
Sim, a
escolha também dá conta da ruindade da CBF. Vejam que coisa: a
confederação chegou a flertar com um técnico estrangeiro e acabou
escolhendo… Dunga! É o triunfo da falta de rumo e da… caipirice
existencial.
Dilma e Duga na área VIP
Espero que a convivência de Dilma e Dunga
na área super-VIP do Maracanã, na final entre Alemanha e Argentina, não
tenha definido a escolha. Ali, os dois conversaram de pertinho. Ele até
teria cochichado ao pé do ouvido presidencial:
— Eu tô torcendo para nenhum dos dois ganhar.
Dilma então respondeu:
— Essa foi boa! Eu também, Dunga! Mas não dá! Um vai ter de vencer.
Dilma riu tanto com o gracejo que foi às lágrimas.
Seria a escolha de Dunga o desdobramento de um gracejo sem graça?
Nenhum comentário:
Postar um comentário