segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Avaliação: debate dos presidenciáveis na Record em 28/09


r7debate
O debate dos presidenciáveis na TV Record foi muito melhor do que o vergonhoso debate na CNBB. A grande vantagem do evento ocorrido ontem, 28/09, é que ele foi quase todo baseado em confrontos entre candidatos. A exceção foi uma rodada de perguntas de jornalistas aos candidatos. No restante, o couro comeu.
Em um avaliação geral, Aécio foi o vitorioso, enquanto Dilma e Marina praticamente empataram. Mas vamos a mais detalhes.
Logo no começo, Dilma questionou Marina sobre suas “mudanças de posição”, e cravou na testa desta última o rótulo de mentirosa, pelo fato de ter votado contra a CPMF mas ter afirmado em campanha que votou a favor. Ponto para Dilma neste momento. Foi um dos raros instantes onde a candidata se deu bem.
Em seguida, o revide de Marina veio quando ela falou do fracasso da política do governo para o etanol, mencionando a perda de 60.000 empregos. Dilma saiu-se com respostas vagas, que não neutralizaram o ataque.
De resto, Dilma acabou sofrendo ataques de todos os lados. O que não foi bom para a imagem do governo. Alias, ela pediu quatro direitos de resposta e só conseguiu um.
Já Aécio Neves simplesmente esmagou Dilma Rousseff em dois momentos: ao citar a corrupção na Petrobrás (em dobradinha com o Pastor Everaldo) e, especialmente, quando citou a aberração da semana passada, a proposta feita por Dilma na ONU por negociação com terroristas que decepam cabeças (termo utilizado por Aécio). Chego a dizer que esta foi a melhor atuação de Aécio nos debates para presidente.
Mas existem pontos a serem corrigidos, como uma mania horrível que ele precisa perder, que é a de deixar acusações sem contra-ataques a todos os pontos. Veja o que Dilma afirmou:
Tem gente que combate para usar as denúncias de corrupção para enfraquecer a Petrobras. Eu registro que os senhores foram sempre favoráveis a uma relação com a Petrobras de privatização. É eleitoreiro falar o que senhor vai reestatizar. Aliás, o senhor vendeu uma parte das ações a preço de banana e tentaram tirar o “bras” do nome Petrobras, de Brasil, por quê? Para vender mais fácil no exterior.
Nesses momentos, ele geralmente se esquece das acusações e foca apenas no tema principal em discussão. Mas veja como ele poderia responder: “Dilma não sabe do que fala. Estudos sobre Petrobrax nunca tiveram nada a ver com privatização. Isso é uma mentira calhorda. Sempre que ela acusar a gente dizendo que nós queríamos privatizar a Petrobrás, podemos dizer na cara dela, de cabeça erguida, que ela mente de forma cretina. Quem mente desse jeito não é confiável. Quem denuncia a corrupção, como nós, só pode fortalecer a Petrobrás, que tem sido danificada pelo PT”.
Note que uma resposta assim tem aproximadamente o mesmo tamanho e neutralizaria todo o ataque petista, rebatendo todas acusações. Em suma, Aécio precisa, como já disse, perder a mania de deixar ataques sem resposta…
Um outro exemplo onde as respostas de Aécio foram incompletas é o momento no qual Dilma afirmou:
Na verdade uma coisa tem que ficar clara, quem demitiu o Paulo Roberto fui eu. A Polícia Federal, no meu governo, foi quem investigou todos esses ilícitos. Eu fui a única candidata que apresentou propostas para o combate da corrupção.
Ao responder, Aécio acertou acertou ao dizer que a responsabilidade da investigação é da PF, não do governo. Mas ele poderia ter acrescentado o seguinte: “Uma prova de que o governo não tem poder de investigação é que quando tentou obter as delações, não conseguiu. O governo é investigado. É o oposto do que ela diz.”
Novamente, neste caso temos que pressionar Aécio para que ele perca a mania de deixar ataques sem resposta.
Outra dica para Aécio: nunca falar “eu não vou acabar com Bolsa Família”, mas dizer coisas como “é mentira do PT dizer que eu acabaria com o Bolsa Família, pois esse programa foi criado pelo FHC, enquanto o PT ficou contra”. Lembremos sempre que na guerra política quem está se defendendo, está perdendo, mas quem está atacando (e somente aí embute sua defesa junto) pontua.
Essas dicas de evitar as defesas (sem anexá-las a ataques) e contra-atacar todos os mísseis políticos vindos do outro lado são pontos que se fossem assimilados por Aécio teriam feito com que ele reinasse absoluto no debate de hoje. E que fique bem claro: quem precisa correr atrás (como ele) tem que obter largas vantagens no debate. Mesmo assim, como já disse, ele venceu a contenda. Mas poderia ter sido ainda melhor.
Outro ponto para ser aproveitado daqui para frente é a questão da maioridade penal. Aécio se posicionou a favor da redução e Dilma contra. Isso pode ser explorado na campanha a partir de agora. Lembre-se: 87% da população é a favor da redução da maioridade penal.
Mas e o Pastor Everaldo? Em um momento onde Levy Fidelix o questionou sobre a relação do Brasil com os demais países bolivarianos, ele simplesmente “travou”, proferindo pusilanimidades como “acho que seria melhor não pensar tanto no Mercosul, e pensar em outras alianças” (ou algo mais ou menos nessa linha), um discurso totalmente aguado. Ele deveria ter tratado o bolivarianismo como “projeto de poder baseado em saqueamento de estados e ditadura, como já ocorre na Venezuela, Argentina, etc.”.  A postura do Pastor Everaldo nessa questão foi uma afronta a quem confiou nele.
Um item de checklist poderia ser este: sempre que um candidato “de direita” ouvir temas como “decreto 8243″,”censura de mídia” e “países bolivarianos” qualquer afirmação que não faça Dilma tremer nas bases significa serviço porco.
Lá no final Levy Fidelix ainda usou expressões que se não eram homofóbicas, pegaram muito mal, especialmente ao falar de um “enfrentamento” da maioria contra a minoria. Já passou da hora dos conservadores adotarem uma plataforma mais inclusiva, onde se respeita o direito da minoria, pedindo que ela não oprima a maioria. Mas daí a falar em enfrentamento da maioria heterossexual contra a minoria homossexual já é demais. Com certeza isso vai dar o que falar.

Tirando esse detalhe bizarro, uma coisa deve ser lembrada: Levy Fidelix e Pastor Everaldo, dentre os “pequenos”, precisam comer muito feijão com arroz antes de demonstrarem a mesma assertividade de Luciana Genro. É claro que as ideias desta última são bizarras. mas estou falando de assertividade. Ela sabe atacar, usar a técnica da metralhadora e lançar shaming, dentre outros recursos. Ei, Levi e Everaldo, prestem atenção na postura dela e aprendam um pouco. Já que pensar em aprender guerra política agora é tarde demais para estas eleições, ao menos aprendam com Luciana para irem quebrando o galho.

Aguardemos o debate da Globo. Enquanto isso, devemos pressionar Aécio para que ele foque nos pontos de melhoria e mantenha os seus acertos. Já Marina Silva aparenta estar desanimada com a desconstrução feita do PT para cima dela. A continuar por esse ritmo, os debates de hoje e o da Globo podem ser suficiente para Aécio diminuir a diferença de vez e chegar no segundo turno.

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