Eu já tinha lido sobre a notícia que o Senado estaria
estudando uma reforma para simplificar a ortografia de modo a “facilitar a
alfabetização”, mas não dei muita bola, achando que a coisa não iria adiante,
mas ao ler hoje no editorial de O Globo que a Casa já criou um grupo de
trabalho com o propósito de estudar mudanças ortográficas, vi, mais uma vez, que no Brasil do
PT a estupidez não tem limites.
Se a tal reforma ortográfica recente já foi uma idiotice que
de nada serviu a não ser para confundir a nossa cabeça imagine esta - de se
escrever como se fala - que estão propondo. Leiam o editorial.
Populismo pauta discussão sobre ortografia
Senado dá abrigo a grupo que propõe introduzir mudanças com
o objetivo de opor à norma culta o princípio inaceitável de ‘escrever como se
fala’
A língua exerce importante papel na integração de um país.
Diversidade de dialetos — ou seja, a falta de um idioma unificado —, mesmo em
nações territorialmente pequenas, costuma ser um estímulo a conflitos e
contribuir para alimentar movimentos de secessão. O Brasil, de dimensões
continentais, e mesmo com realidades culturais que variam de acordo com cada
região, teve o mérito, ao longo de sua História, de preservar a língua, sem
descuidar da grafia. Sotaques à parte, o que é compreensível, o idioma que se
fala, e escreve, no extremo Norte é o mesmo das populações do Sul.
Sintomaticamente, nestes mais de 500 anos o país não sofreu
significativas ameaças de fragmentação territorial, graças também aos
portugueses. A preservação de uma língua unificada de Norte a Sul teve papel
fundamental nesse processo.
Defender o idioma contra a degradação é um compromisso que precisa ser abraçado pela sociedade, no dia a dia da linguagem falada, nas escolas, em todos os campos de atividades educacionais e culturais.
Contra esse pressuposto, no entanto, arma-se um movimento, deletério por princípio, que visa a promover uma reforma (mais uma) alegadamente para simplificar a ortografia e, em decorrência, facilitar a alfabetização. Entre outras propostas, pretende-se erradicar da escrita letras que não se pronunciam (como o “h” em “hora”) e a duplicidade de grafia para o mesmo som.
Defender o idioma contra a degradação é um compromisso que precisa ser abraçado pela sociedade, no dia a dia da linguagem falada, nas escolas, em todos os campos de atividades educacionais e culturais.
Contra esse pressuposto, no entanto, arma-se um movimento, deletério por princípio, que visa a promover uma reforma (mais uma) alegadamente para simplificar a ortografia e, em decorrência, facilitar a alfabetização. Entre outras propostas, pretende-se erradicar da escrita letras que não se pronunciam (como o “h” em “hora”) e a duplicidade de grafia para o mesmo som.
Enquanto esteve circunscrita a debates internos, a ideia não
passou de mera curiosidade. Mas tornou-se preocupante ao alcançar o Congresso,
onde encontrou acolhida. Por sua Comissão de Educação, Cultura e Esporte, o
Senado criou um grupo de trabalho com o propósito de estudar as mudanças
ortográficas. Tanto mais grave é que, em ato que pode contribuir para mais
confusão, a presidente Dilma assinou decreto ampliando até 2016 o prazo para a
adoção definitiva do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, assinado pelos
países lusófonos.
Escrever como se fala, em última instância o propósito desse
tipo de iniciativa, que não esconde seu viés populista, é um aviltamento da
língua. De um lado, dá abrigo a sofismas como a adoção, pelo MEC, de um livro
didático com erros de Português, em nome de um pretenso “idioma popular”, como
ocorreu em 2011; de outro, a deterioração da norma culta mal disfarça uma
discriminação contra aqueles a quem supostamente se pretende beneficiar: o
pressuposto é de que tais pessoas não teriam condições de se educar para
ascender a novo patamar cultural.
Menos mal que contra
essa estapafúrdia ideia há vozes representativas. O filólogo e acadêmico
Evanildo Bechara a bombardeou em artigo no “Estadão”. A escritora e também
acadêmica Ana Maria Machado, no GLOBO, observou: “O remédio (contra
dificuldades da língua e na alfabetização) é mais educação”. O Senado tem de se
dar conta que, ao avalizar a ideia, dá abrigo ao que pode soar como
brincadeira. De mau gosto.
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