Opinião: A “nova política” está grávida da velha
Marina parece oferecer lastro administrativo de Aécio – mas tem laços históricos com o pt de Dilma
Os
brasileiros amam novela e detestam política. A solução encontrada por
esse povo criativo foi simples: transformar a política em novela. Assim
surgiu o filho do Brasil (também conhecido como messias de Garanhuns),
sucedido pela mamãe-presidenta-faxineira-mulher. Quem imaginou que o
brasileiro havia se cansado de apanhar de personagens folhetinescos se
enganou. Vem aí a imaculada da floresta. Na verdade, Marina Silva pode ser uma excelente candidata – desde que consiga derrotar seu próprio mito...
Marina tem dignidade. Só isso já a situa anos-luz à frente dos canastrões que embromam o Brasil há 12 anos. Mas este é um país fascinado pela embromação. Já está louco para votar numa santa e ficar esperando sentado pelos milagres. Dizem que a onda verde é uma extensão das manifestações de 2013. Se for isso mesmo, danou-se. A famosa Primavera Burra – com seu lema “nada na cabeça e uma pedra na mão”, ou simplesmente “uma pedra na cabeça” (do próximo) – é o ingrediente ideal para mais uma era de mistificação.
O Brasil caindo aos pedaços, em véspera de recessão após três mandatos de sucção ininterrupta, quer saber se os gays podem se casar de véu e grinalda. A Bíblia é o grande hit da eleição. Terreno arado e semeado para novo triunfo da picaretagem.
Depois de anos e anos de empulhação politicamente correta de Lula, Dilma, Dirceu, Gilberto Carvalho e oprimidos associados, o país resolveu achar interessante a “democracia de alta intensidade” de Marina Silva. Não se sabe o que seria uma democracia altamente intensa, mas deve ser algo parecido com uma gravidez de alta intensidade.
A quantidade de conceitos ornamentais no ideário de Marina não chega a substituir à altura o famoso “dilmês” (insubstituível) – mas também comove. Nota-se aquele sotaque de burocratas de ONG, com seus relatórios cheios de palavras doces e ociosas – um banquete para Madame Natasha, a personagem de Elio Gaspari que combate a prostituição do idioma.
O Brasil ama esses tipos que falam pelos cotovelos sem saber o que fazer. Basta ver a longevidade de um Guido Mantega no governo – e não é no Ministério da Pesca. Marina vem com uma das mais mofadas utopias de esquerda, o tal discurso da participação direta da população nas decisões de governo. O agravante é que ela parece acreditar nisso – diferentemente de seus ex-colegas petistas, que vieram com o decreto presidencial 8.243, dos conselhos populares, como esperteza chavista.
No final das contas, o grau de inocência não faz diferença. Os tais conselhos de intensificação democrática servirão ao aparelhamento ideológico e partidário da máquina pública. Militantes selecionados para atropelar técnicos e legisladores. A ditadura do bem.
Marina é uma pessoa admirável, de caráter sólido e espírito público. Isso é joia rara no Brasil – mas não é tudo. Basta lembrar o lendário caso de Saturnino Braga, o prefeito honesto que faliu o Rio de Janeiro, classificado por Millôr Fernandes como “o homem que desmoralizou a honradez”. Quando quer provar que terá solidez administrativa, Marina cita os princípios macroeconômicos implantados no governo Fernando Henrique – hoje plataforma de Aécio Neves, com seu pré-anunciado ministro da Fazenda Armínio Fraga. Quem garantiria tal solidez e perícia a um governo Marina?
Outro enigma: ninguém sabe qual seria a base político-partidária de Marina. Ela tem o PSB, um nanico vitaminado, e a Rede, que não existe. Já avisou que, em seu governo, o PMDB será oposição. Com o PSDB não dá para compor, porque é lido como monstro neoliberal pela esquerda pueril que a apoia. Sobra qual partido grande, com que Marina mantém laços históricos, não só em seu Estado de origem? Ele mesmo, aquele que o eleitorado marinista-mudancista acha que escorraçará do poder: o PT.
O Brasil é mesmo uma grande novela. Neste momento, uma imensa parcela do eleitorado projeta o voto em Marina, que oferece o lastro administrativo de Aécio e provavelmente está grávida de Dilma. A intensidade dessa gravidez, só Deus sabe.
Talvez um dia o brasileiro aprenda a votar (alô, Pelé), avaliando que governo um candidato é capaz de fazer, e não que sonhos bonitinhos (e ordinários) ele pode inspirar.
Marina tem dignidade. Só isso já a situa anos-luz à frente dos canastrões que embromam o Brasil há 12 anos. Mas este é um país fascinado pela embromação. Já está louco para votar numa santa e ficar esperando sentado pelos milagres. Dizem que a onda verde é uma extensão das manifestações de 2013. Se for isso mesmo, danou-se. A famosa Primavera Burra – com seu lema “nada na cabeça e uma pedra na mão”, ou simplesmente “uma pedra na cabeça” (do próximo) – é o ingrediente ideal para mais uma era de mistificação.
O Brasil caindo aos pedaços, em véspera de recessão após três mandatos de sucção ininterrupta, quer saber se os gays podem se casar de véu e grinalda. A Bíblia é o grande hit da eleição. Terreno arado e semeado para novo triunfo da picaretagem.
Depois de anos e anos de empulhação politicamente correta de Lula, Dilma, Dirceu, Gilberto Carvalho e oprimidos associados, o país resolveu achar interessante a “democracia de alta intensidade” de Marina Silva. Não se sabe o que seria uma democracia altamente intensa, mas deve ser algo parecido com uma gravidez de alta intensidade.
A quantidade de conceitos ornamentais no ideário de Marina não chega a substituir à altura o famoso “dilmês” (insubstituível) – mas também comove. Nota-se aquele sotaque de burocratas de ONG, com seus relatórios cheios de palavras doces e ociosas – um banquete para Madame Natasha, a personagem de Elio Gaspari que combate a prostituição do idioma.
O Brasil ama esses tipos que falam pelos cotovelos sem saber o que fazer. Basta ver a longevidade de um Guido Mantega no governo – e não é no Ministério da Pesca. Marina vem com uma das mais mofadas utopias de esquerda, o tal discurso da participação direta da população nas decisões de governo. O agravante é que ela parece acreditar nisso – diferentemente de seus ex-colegas petistas, que vieram com o decreto presidencial 8.243, dos conselhos populares, como esperteza chavista.
No final das contas, o grau de inocência não faz diferença. Os tais conselhos de intensificação democrática servirão ao aparelhamento ideológico e partidário da máquina pública. Militantes selecionados para atropelar técnicos e legisladores. A ditadura do bem.
Marina é uma pessoa admirável, de caráter sólido e espírito público. Isso é joia rara no Brasil – mas não é tudo. Basta lembrar o lendário caso de Saturnino Braga, o prefeito honesto que faliu o Rio de Janeiro, classificado por Millôr Fernandes como “o homem que desmoralizou a honradez”. Quando quer provar que terá solidez administrativa, Marina cita os princípios macroeconômicos implantados no governo Fernando Henrique – hoje plataforma de Aécio Neves, com seu pré-anunciado ministro da Fazenda Armínio Fraga. Quem garantiria tal solidez e perícia a um governo Marina?
Outro enigma: ninguém sabe qual seria a base político-partidária de Marina. Ela tem o PSB, um nanico vitaminado, e a Rede, que não existe. Já avisou que, em seu governo, o PMDB será oposição. Com o PSDB não dá para compor, porque é lido como monstro neoliberal pela esquerda pueril que a apoia. Sobra qual partido grande, com que Marina mantém laços históricos, não só em seu Estado de origem? Ele mesmo, aquele que o eleitorado marinista-mudancista acha que escorraçará do poder: o PT.
O Brasil é mesmo uma grande novela. Neste momento, uma imensa parcela do eleitorado projeta o voto em Marina, que oferece o lastro administrativo de Aécio e provavelmente está grávida de Dilma. A intensidade dessa gravidez, só Deus sabe.
Talvez um dia o brasileiro aprenda a votar (alô, Pelé), avaliando que governo um candidato é capaz de fazer, e não que sonhos bonitinhos (e ordinários) ele pode inspirar.
Fonte: Revista Época. Por GUILHERME FIUZA - 29/09/2014 - - 08:01:09
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