El Clarin
Marcelo Canton
Preocupação argentina com o impacto do ajuste e a desvalorização do principal sócio comercial do país.
No tabuleiro dos empresários argentinos, o Brasil era até ontem uma luz amarela. Depois dos anúncios de ajuste da presidente Dilma Rousseff, a preocupação aumentou um grau. Ainda não são luzes vermelhas, mas já são alaranjadas.
O governo brasileiro lançou ontem um plano de recortes do gasto, buscando reduzir o déficit fiscal, apontando a moderar a inflação, que tinha superado o objetivo de 6,5% anual.
“Já estávamos em alerta amarelo por causa da situação cambial”, disse o presidente da UIA, Héctor Méndez. É que em dois meses, o real se depreciou quase 20%, colocando pressão nas exportações argentinas e abrindo mais as portas para as vendas a partir do Brasil. “Mas os nossos colegas brasileiros, quando falamos com eles, pedem uma desvalorização maior - dizem em uma das principais fabricantes de alimentos, que tem uma filial importante no Brasil -. Eles reclamam de que perderam muita competitividade nas exportações”.
Agora a dúvida entre os empresários é como a economia do principal sócio comercial do país reagirá diante dos anúncios da Dilma. “Vamos ficar descompassados - diz Dante Sica, da consultoria abeceb.com -. Com este ajuste eles terão um breque da economia nos próximos meses, com certeza todo o primeiro semestre de 2015. É o período em que nós estaremos com problemas de dólares e mais freio à atividade. E eles poderiam começar a crescer em 2016, quando nós estivermos começando a fazer o ajuste”.
Um Brasil que breca a atividade significa uma menor demanda de bens argentinos. Um Brasil que cresce é uma boa notícia para os empresários locais. O ajuste, assim, seria uma má notícia no curto prazo, mas se houver uma reativação seria um sinal otimista para o futuro.
“Mas, além disso, um recorte no gasto para brecar a inflação descomprime a pressão sobre o tipo de câmbio - afirma Nadin Argañaraz, do IARAF -. Eles estão com um aumento de preços superior ao objetivo de 6,5%; um recorte do gasto reduz o desequilíbrio fiscal, evitando pressões de demanda e inflacionárias. É possível que isso tenha um efeito recessivo, que eles com certeza tentarão evitar, mas para baixar a inflação eles pagarão um custo, não há dúvidas. Para nós é chave, porque para as exportações argentinas é mais importante o nível de demanda que o tipo de câmbio real. O Brasil vinha caindo na projeção de crescimento, que já estava em 1% para este ano e 1,5% para o próximo. Por isso a recuperação de sua economia no médio prazo é chave”.
Entre os industriais argentinos, os que mais seguem a situação brasileira são os da indústria automotiva. Eles já vinham registrando certa recuperação nos envios. De fato, em outubro as exportações totais do setor tiveram uma queda interanual de 14,4%, mas em alta em comparação com setembro. “A melhoria registrada durante outubro, em sua comparação com o mês precedente, radica fundamentalmente no crescimento das vendas para o Brasil, que se situaram em torno de 23,8% na comparação com setembro passado”, disse a , que representa o setor.
As empresas da indústria alimentícia, outro setor de peso no comércio bilateral, dizem que independentemente das idas e voltas do Brasil, “o tamanho de seu mercado interno é tão grande que modera os altos e baixos”. “A situação vinha com muita volatilidade por causa das eleições, com aumentos e quedas do dólar e da Bolsa, agora esperamos que os sinais sejam mais claros”, dizem.
“O sinal que é necessário agora é a designação do ministro da Economia”, afirma Dante Sica. Guido Mantega vai embora, mas Dilma ainda não designou seu sucessor para o próximo mandato. “Isso será chave”, disse o analista.
Outro setor que segue a evolução do Brasil com interesse especial é o turístico. É que ali o aumento do dólar (ou a desvalorização do real) estava colocando pressão e os operadores já previam um cenário de queda de turistas brasileiros no país e uma equação mais tentadora para os argentinos que neste verão voltaram a escolher Florianópolis ou o Nordeste como destino para suas férias. Por isso nos últimos dias falava-se de que o Ministério do Turismo argentino estava organizando reuniões com seus pares da Economia para tentar montar uma campanha neste mês para estimular o turismo na Argentina.
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