terça-feira, 11 de novembro de 2014

O Brasil Pós-eleições. 3ª Parte






Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por José Gobbo Ferreira

O Supremo Tribunal Federal é o foro que tem a competência para julgar governantes e políticos com mandato, exatamente o nicho onde se escondem as personalidades mais corruptas e danosas à sociedade brasileira. Talvez essa seja uma das causas do acúmulo de processos em seus escaninhos.
A cada dia aparecem mais informações sobre os sórdidos escândalos na Petrobras e as denúncias do envolvimento de altas autoridades da República. A lama ultrapassou as fronteiras do país e até a Justiça americana foi acionada para investigar tanta corrupção. Mais uma vez o PT expõe a Pátria brasileira à humilhação internacional.

Mais cedo ou mais tarde tudo isso desembocará no STF. A experiência do mensalão foi frustrante e vergonhosa e o povo brasileiro não pode permitir que isso se repita.

Por isso é importante a mobilização de todos para que, levadas as investigações até os últimos detalhes, as decisões daquele tribunal sejam baseadas na lei e na justiça e não na “gratidão” de alguns de seus membros para com  os presidentes que os nomearam.

Em 3 de novembro, com a possibilidade de governos do PT terem nomeado 10 de seus 11 membros a partir de 2016, o Exmo. Ministro Gilmar Mendes exteriorizou ao jornal “Folha de São Paulo” seu temor que, ‘a exemplo da Venezuela’, o Supremo Tribunal perca o papel de contrapeso institucional e passe a "cumprir e chancelar" vontades do Executivo. Diz ele: "Não tenho bola de cristal, é importante que [o STF] não se converta numa corte bolivariana. Isto tem de ser avisado e denunciado". Obrigado, Ministro!

Em resposta, dia 6 de novembro, S.Excia o Exmo.Ministro Ricardo Lewandowsky, seu atual presidente, concedeu uma entrevista matinal para jornalistas de periódicos de grande penetração nacional quando teve a desfaçatez de declarar:  “A história do Supremo não tem mostrado isso, tem mostrado total independência dos ministros. O STF se orgulha muitodessa independência enorme que os ministros têm com relação aos presidentes que os indicaram. Essa é a história do STF”.   (Os grifos são meus)

Porém, já em 27 de fevereiro deste ano, o Exmo. Sr. Ministro Joaquim Barbosa,  então seu Presidente, havia criticado acerbamente a postura do plenário no que concernia  especificamente à caracterização do crime de formação de quadrilha na atuação dos réus da AP 470. Afirmou então que se formou no tribunal uma "maioria de circunstância", construída para defender os interesses do partido no poder.

"Sinto-me autorizado a alertar a nação brasileira de que este é apenas o primeiro passo. Esta maioria de circunstância tem todo tempo a seu favor para continuar nessa sua sanha reformadora", disse. "Esta maioria de circunstância [foi] formada sob medida para lançar por terra todo um trabalho primoroso, levado a cabo por esta corte no segundo semestre de 2012", disse o Ministro. (grifo meu)
Evidentemente, S.Excia. se referia à nomeação dos ministros Luís Roberto Barroso e Teori Zavascki, indicados pelo PT, via presidente Dilma Roussef,  para os lugares de Ayres Britto e Cezar Peluso, que em 2012 haviam votado pela condenação dos réus por formação de quadrilha. Barroso e Zavascki chegaram sob medida e em tempo para reverter o veredicto, como convinha ao governo do PT, absolver os réus deste crime e assim livrá-los de punição mais conforme aos ilícitos que efetivamente praticaram.

Concorde com as opiniões de Joaquim Barbosa e Gilmar Mendes, que são também as da maior parte da população brasileira, o ínclito ministro Celso de Mello, decano da Corte, disse que "quadrilha poderosa", "visceralmente criminosa", "se apoderoudo governo" (Os grifos são meus)
Ministro votou pela condenação de todos os réus por formação de quadrilha pois, segundo ele, houve "plena configuração do crime de quadrilha". "Os integrantes desta quadrilha agiram com dolo de planejamento, divisão de trabalho e organicidade."(grifo meu)

Repudiou manifestações por parte de amplos setores do governo e do partido no poder que acusaram o julgamento do mensalão de ser "a maior farsa da história" da Justiça.

"A maior farsa da historia política brasileira” residiu, isso sim, nos comportamentos moralmente desprezíveis, cinicamente transgressores da ética republicana de delinquentes travestidos então da condição de altos dirigentes governamentais políticos e partidários, que fraudaram despudoradamente os cidadãos dignos de nosso país", declarou. (grifo meu)
O decano encerrou sua fala dizendo que os réus do mensalão "nada mais são que meros e ordinários criminosos comuns".(grifo meu)
De fato, como poderia o claro conceito de ”formação de quadrilha” suscitar dúvidas?
O Aurélio vai direto ao ponto: quadrilha é um bando de ladrões, assaltantes ou malfeitores. Exatamente aquilo que os homens de bem deste país, entre os quais o Ministro Celso de Mello, veem no Sr. José Dirceu e sua gangue.
Embora precisa, concordo que essa é uma opinião leiga. Vamos então à Lei:
O art. 288 do Código Penal é quase tão sucinto quanto o Aurélio: formação de quadrilha é o ato de se associarem três ou mais pessoas, em quadrilha ou bando, para o fim de cometer crimes. Simples assim!

Logo, basta que três ou mais pessoas, próximos ou à distância, decidam agir em conjunto com o propósito de cometer um ou mais ilícitos penais, que estarão enquadrados no crime de formação de quadrilha, até mesmo se não chegarem a cometer o delito planejado.

Quer se consulte o Aurélio ou o Código Penal, não há como deixar de concordar com o ilustre Procurador Geral da República que fez a denúncia, secundado pelo insigne Ministro Celso de Mello: trata-se SIM de uma quadrilha, e muito poderosa.

E uma quadrilha de criminosos vulgares, covardes, dissimulados e cruéis que tiram o pão da boca de quem tem fome (e são milhões neste país), que traficam o leito de que os doentes necessitam nos hospitais públicos, que eliminam as carteiras escolares, que consomem as merendas e subtraem as vagas nas escolas deste país de analfabetos plenos ou funcionais com o único objetivo de se aferrar ao poder para ter condições de constituir quadrilhas ainda maiores, para cometer crimes ainda mais revoltantes, com lucros mais vultosos, como aqueles que estão vindo à luz atualmente.

Mas as alienadas palavras do atual presidente do STF dão a entender que não houve a manipulação de circunstâncias citada pelo insigne Ministro Joaquim Barbosa. Que os temores do Exmo. Ministro Gilmar Mendes são elucubrações insensatas e sem fundamento e que o ilustre Ministro Celso de Melo excedeu-se em seus comentários. 

De onde se deduz que o fato dos votos dos Ministros Zavascki e Barroso contrariarem as conclusões de meses e meses de trabalho do plenário da Corte constituiu uma postura independente e sábia, fruto do notável saber jurídico de ambos.

Acreditar na independência de alguns dos Exmos. Ministros de nossa Corte Suprema em relação aos interesses do atual governo é sintoma inequívoco de anencefalia pós-petista e um desrespeito imperdoável à inteligência dos brasileiros..

Nem discutirei aqui quais os interesses por trás dos procedimentos de nomeação de membros para o Tribunal, que permitiram que um advogado sem expressão, duas vezes reprovado para a justiça de primeira instância e duas vezes processado por corrupção, tenha conseguido demonstrar os requisitos constitucionais de notável saber jurídico e ilibada reputação. 

Só mesmo no mundo novo petista pré-venezuelano isso pode ocorrer.  

Solidários com os Ministros Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa, não vemos nenhum motivo para que o STF esteja tão orgulhoso. Ao contrário. Sua atuação está rigorosamente conforme aos tempos pouco republicanos que estamos vivendo.

Laborar o STF sob a rédea curta do Executivo é lançar à sarjeta a Constituição republicana que prevê a separação e independência dos poderes. Submeter-se a essa sabujice é apear da condição de magistrado para folgar e acumpliciar-se com os réus a quem deveria julgar.

Felizmente, as recentes eleições mostraram que o país não está tão dominado como supunha a corte do grande timoneiro bolivariano. Mais de 50 milhões de cidadãos já  acordaram e passam a exigir com ênfase crescente que sejam respeitados pelas instituições, sob pena de deixar de respeitá-las. Sementes de descontentamento vem grassando em terreno fértil e brotando em manifestações cada vez mais poderosas .

É preciso que os membros responsáveis pelos poderes desta República reflitam demoradamente sobre o momento político que vive o País. O povo, quando enfurecido, derruba Bastilhas. E quando isso acontece, cabeças coroadas costumam rolar

José Gobbo Ferreira é Coronel na reserva do EB.

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