O Arquiduque na boca da caçapa
Por Redação Yahoo! Brasil | Marcelo Mirisola – seg, 10 de nov de 2014***
Uma senhora interrompe o idílio do casal de barbudinhos.
***
O mais assustador, porém, é que as mensagens desse livro não primam exatamente pela tolerância e nem são muito conciliadoras, ao contrário: o conteúdo é confuso, repulsivo, ameaçador, beligerante e nitidamente anti-barbudinhos apaixonados.
Antes de contar o que presenciei, me ocorre o seguinte: desde a gênese a Bíblia foi pensada para a tecnologia de nossos dias. A maior parte dos seus versículos conta menos de 240 caracteres. Todos nós que temos uma conta no tuíter (menos eu) estamos – inopinadamente - reescrevendo o livro sagrado. Não vai demorar muito para chegarmos ao apocalipse.
***
Aos fatos.
A senhora a que me referi acima dirige-se à mesa dos barbudinhos, e os reprime citando Coríntios, 6:17: “Não sejais desencaminhados. Nem fornicadores, nem homens mantidos para propósitos desnaturais..."
Os meninos recorrem ao gerente do estabelecimento. O gerente pede para eles respeitarem a senhora, que continua vociferando: "nem homens que se deitem com homens, nem ladrões, nem gananciosos, nem beberrões, nem injuriadores herdarão o reino de Deus". O barbudinho nº1 liga para a polícia.
***
Um livro que contém a palavra de Deus, seguramente tem a participação do seu inimigo mais amado, Satã. Daí o sucesso milenar, eu acho.
***
Nos últimos anos, diferentemente da manisfestação de junho do ano passado que se dissipou em várias outras e virou coisa nenhuma, as paradas gay e neo-evangélicas arrastaram multidões que continuam na ativa – sem contar os passivos, os enrustidos e os infiltrados, de ambos os lados. Se nos últimos dez anos, o gado aparentemente era pacífico e estava sob controle, hoje, a coisa mudou.
O botão do Start nunca deu tanta sopa.
Quem acompanhou os tuiters de Silas Malafaia e Jean Wyllys na infeliz campanha presidencial de outubro sabe do que eu estou falando.
Não adianta nada invocar a legalidade, a paz, o amor e a tolerância se, no frigir da omelete, tanto o pastor como o deputado, oferecem a milhares de seguidores hostilidade e ódio recíprocos.
Malafaia e Wyllys se opõem furiosamente um ao outro, e os seus respectivos rebanhos refletem essa fúria nas ruas, nas redes sociais,e nos bares & restaurantes que eu tenho a infelicidade de frequentar. Quando os dois lados tem razão e não abrem mão dela em nome de Deus ou em nome da Purpurina, a resolução ou o único termo a que podem chegar é a guerra.
Falta pouco para o final da picada, quando, por um descuido ou uma fagulha qualquer, as duas forças ( aqui não me interessa saber quem está do lado do "bem" ou do "mal", estou apenas conjecturando sobre o final da picada) chegarão às vias de fato. Se um dos lados não abrir mão das fundamentais certezas - creio que não abrirá - o primeiro arquiduque que vacilar muito em breve será sacrificado. Vai pra caçapa outra vez.
E aí, bem, aí eu não vou dizer
mais nada, ou seja, minha impotência - a mesma que me paralisou quando o
barbudinho nº 2 avançou na direção do pescoço da inconveniente senhora,
e disse: "limpo meu rabo cheio de porra com sua bíblia, crente de
merda" - enfim, minha impotência será refletida no destino de quem,
hoje, me ignora porque eu falo demais, sou preconceituoso e "julgo" por
antecipação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário