Uma reportagem
do GLOBO mostra que, segundo a Fiesp, a indústria deverá cair para
apenas 12,6% do Produto Interno Bruno (PIB). Grandes empresas como a
Gerdau têm revisado para baixo seus planos de investimentos. No caso da
gigante siderúrgica, os projetos já foram reduzidos em quase 30%.
Enquanto isso, o Brasil passou de
exportador para importador de alumínio, e fabricantes tradicionais
fecham as portas, gerando greves e revolta. Além das metalúrgicas, as
montadores paralisam a produção e concedem férias coletivas. A indústria
brasileira está em crise:
A
Fiesp lembra que em 1947, quando o Brasil possuía uma economia baseada
na agricultura, a então embrionária indústria doméstica já contribuía
com 11,3% do PIB. E acrescenta: “A participação da indústria no PIB
encolheu 30,8% (entre 2004 e 2012). Se o atual cenário não se alterar,
em 2029 a indústria de transformação vai representar apenas 9,3% do
PIB.”
Nas lojas,
um produto nacional custa, em média, 34% mais caro que o similar
importado de qualquer dos 15 países que mais exportam para o Brasil.
Nas
empresas, acionistas adiam planos para maximizar os ganhos em aplicações
financeiras. Quem investiu R$ 1 bilhão numa indústria em 2008 obteve
cerca de R$ 460 milhões de retorno em cinco anos. Quem adiou
investimentos e aplicou o dinheiro em títulos de renda fixa, por
exemplo, obteve retorno de R$ 620 milhões no período.
Ou seja, enquanto a indústria definha, o
rentismo continua vivo. Por quê? Será que ainda vamos culpar banqueiros,
mesmo depois do que fez o governo Dilma ao reduzir na marra as taxas de
juros, sob os aplausos de industriais como Benjamin Steinbruch? Até
quando vamos atacar sintomas e ignorar as causas do problema?
A Fiesp tem sua parcela de culpa. Sempre
preferiu, por ser mais fácil, focar nos sintomas e demandar queda
artificial dos juros, medidas protecionistas, subsídios do BNDES e
outras formas de driblar a livre concorrência. Eis o resultado: alguns
“amigos do rei” se deram bem, mas o ambiente de negócios é cada vez mais
hostil e competir no mundo globalizado cada vez mais difícil.
O rentismo sobrevive porque o governo é
muito gastador e endividado. Para se financiar no mercado, precisa pagar
juros altos. Sem atacar essa raíz do problema, jamais o rentismo será
derrotado e os investimentos produtivos, inclusive na indústria, ficarão
mais atraentes em termos relativos.
Além disso, a indústria sofre com o Custo
Brasil: infraestrutura capenga, mão de obra pouco qualificada, leis
trabalhistas anacrônicas e com viés marxista em que patrão é visto como
explorador, carga tributária absurda e complexa, rombo previdenciário
crescente que drena recursos da poupança doméstica, etc.
Como competir assim? Não dá. Qual a
saída? A paliativa de curto prazo, para quem pode, é pleitear
privilégios estatais para compensar tais obstáculos. Não resolve nada e
só piora as coisas a longo prazo. A verdadeira solução é atacar o modelo
de estado inchado e gastador, pressionar pelas reformas estruturais,
tornar o ambiente mais amigável à iniciativa privada, que cria riqueza.
O cerne da questão está no estado
perdulário e populista. Sem mexer nisso, não vamos jamais recuperar a
indústria. Infelizmente, seguimos à contramão do que necessitamos, com
um BNDES hiperativo selecionando os “campeões nacionais”, com sindicatos
impedindo qualquer reforma trabalhista decente e demandando mais
benefícios irreais, com um governo que só aumenta gasto público e reduz a
capacidade de investimento, com uma mão de obra com péssima
qualificação e o país caindo nos rankings internacionais de educação.
E Dilma acha que o Pronatec vai fazer
milagre? Resta recomendar a uma economista de 50 anos um cursinho do
Senai mesmo, pois falta visão abrangente da coisa. Enquanto os pilares
desse modelo estatizante não mudarem, a indústria seguirá seu curso rumo
à asfixia, e os rentistas terão remuneração considerável só ao
emprestar para o governo, sanguessuga dos nossos recursos.
Rodrigo Constantino
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