O que me assusta no Brasil é a
normalidade com a qual encaramos absurdos. O debate agora é sobre a nova
equipe econômica a ser anunciada por Dilma, e muitos esperam mais bom
senso da presidente reeleita na escolha dos nomes, demonstrando uma
guinada ao pragmatismo. Cobram dela mais racionalidade após as eleições,
ou seja, que ela deixe para trás o palanque e caia na realidade.
Tudo bem, mas vamos simplesmente ignorar o
que foi feito durante a campanha? A campanha mais sórdida de todos
tempos ficará por isso mesmo, assim, como se não fosse nada demais,
parte do jogo democrático?
Há um salvo-conduto para o PT então,
reconhecendo-se que ele pode de tudo para vencer, rasgando a ética e as
leis eleitorais, desde que depois não coloque em prática suas promessas?
Entendo o desespero de todos: se Dilma
continuar em sua trajetória anterior, ou levar a sério as besteiras
ditas durante a campanha, o Brasil afunda de vez. Só não consigo
conceber um foco tão imediatista em troca de uma preocupação com o
processo, com o que está em jogo no longo prazo
Imaginem a reação de um
suíço se contarmos a ele o que foi dito por Dilma na campanha e feito
nos primeiros dez dias após reeleita!
Mas nem todos estão deixando isso passar. Gil Castello Branco, da ONG Contas Abertas, escreveu em sua coluna
de hoje no GLOBO um duro ataque ao método Pinóquio da presidente,
inspirada também em Maquiavel. O economista diz que até Jesus Cristo
seria “desconstruído” pela máquina de difamação montada por João Santana
e aprovada por Dilma:
No
vale tudo das eleições brasileiras, se Jesus Cristo fosse candidato, o
marqueteiro de Dilma, João Santana, demonstraria que o PT fez mais em 12
anos do que o filho de Deus em 33. O maior milagre de JC foi
multiplicar peixes e pães dando de comer a cinco mil fiéis na Galileia,
enquanto o Bolsa Família atende a 56 milhões de pessoas! A frase “Vinde a
mim as criancinhas…” seria apresentada com conotação de pedofilia.
Pobre Jesus Cristo. Antes morrer na cruz.
Mentira, difamação, intimidação e
calúnia: estas foram as armas usadas pela campanha do PT. Se uma nação
simplesmente aceita isso como algo normal, como parte do processo, sem
mais nem menos, que recado está dando aos futuros candidatos? Como
condenar depois aqueles que não medem esforços e não encontram limites
no jogo sujo pelo poder? Com que moral o eleitor vai exigir um
comportamento ético se aceita passivamente tanta mentira durante a
campanha?
Agora a presidente Dilma está preocupada
em não ver a economia derreter durante seu segundo mandato, mas antes
sua única preocupação era vencer a eleição. Aceitar que não precisa
haver elo entre uma coisa e outra é tolerar uma demagogia que deseduca o
povo brasileiro, que não ensina a importância de uma gestão mais
austera vista nas hostes esquerdistas como coisa de “neoliberal”. Diz
Castello Branco:
Até
que ponto o festival de notícias impopulares teria afetado a votação da
presidente reeleita, caso tivesse acontecido antes de 26 de outubro,
são outros quinhentos. Mas, convenhamos, se não é estelionato eleitoral,
é muita cara de pau.
[...]
Como
o personagem de Collodi faz parte de uma fábula e os narizes dos
políticos não crescem, resta-nos sugerir nas próximas eleições a adoção
do detector de mentiras. Caso contrário, Pinóquio vai acabar presidente…
Acho que não é “apenas” cara de pau, e
sim estelionato eleitoral mesmo. A presidente Dilma colocou em prática
inúmeras medidas que poucos dias atrás acusava de “neoliberais” contra
os pobres, e dizia que Aécio Neves faria se fosse eleito. Se o povo
brasileiro continuar tratando isso com naturalidade, chegará o dia em
que Pinóquio em pessoa, ou em boneco, será nosso presidente mesmo. Um
Pinóquio maquiavélico…
Rodrigo Constantino
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