Youssef afirmou que ex-deputado mensaleiro mandava repassar propinas a ‘agentes políticos’
Publicado: 11 de novembro de 2014 às 11:36
O doleiro Alberto Youssef, alvo da Operação
Lava Jato, confirmou ontem à Justiça Federal o elo do mensalão do PT
com o esquema de corrupção e propinas na Petrobras.
Ele disse que
mantinha uma conta corrente conjunta com o ex-deputado José Janene
(PP-PR) – morto em 2010 -, responsável pela indicação de Paulo Roberto
Costa para a diretoria de Abastecimento da estatal petrolífera, em 2004.
O juiz Sérgio Moro, que conduz as ações da Lava Jato, perguntou a ele qual a origem do dinheiro.
“Comissionamento de empreiteiras”, declarou Youssef. O juiz perguntou: “Decorrente de contratos com a administração pública, em geral propinas?” Youssef respondeu: “Sim senhor, Excelência.”
“Tudo o que o seo Janene precisava de recursos ele pedia a mim e eu disponibilizava”, contou Youssef. “Às vezes essa conta ficava negativa, às vezes ficava positiva. Na verdade nessa conta também ia recurso para outras pessoas, não que eu administrasse os recursos dessas outras pessoas, mas eu via esse caixa como caixa do partido, o Partido Progressista.”
O doleiro não citou nome de nenhum agente público ou agente político. Tais nomes ele já citou em acordo de delação premiada que ainda terá de ser homologado pela Justiça.
Youssef é réu em cinco ações penais da Lava Jato na Justiça Federal no Paraná. Em uma ação, ele é acusado de ter participado da lavagem de R$ 1,16 milhão do mensalão do PT através de investimentos em uma empresa de equipamentos industriais situada em Londrina (PR). A ação penal em que Youssef depôs ontem trata da ligação do doleiro com o ex-deputado Janene e com o doleiro Carlos Habib Chater.
Youssef afirmou que Janene investiu na empresa de Londrina por meio de outra companhia ligada a ele, a CSA Project. Essa firma foi usada para receber recursos do fundo de pensão da Petrobras, a Petros, alvo da Lava Jato. (Ricardo Brandt/AE)
Dia
desses, quem deitava falação num grande veículo da imprensa brasileira?
Ele: Henrique Pizzolato. Para quê? Ora, para sustentar que o mensalão
não existiu. Condenado a 12 anos e sete meses por peculato, que é roubo
de dinheiro público, corrupção passiva e lavagem de dinheiro; foragido
da Justiça brasileira; processado por ter entrado na Itália com
documentos falsos, a palavra lhe foi franqueada para que desancasse a
Justiça brasileira e as oposições, para cantar as glórias de Lula e do
petismo e para bater no peito e jurar inocência. Logo, daremos a
Marcola, o chefão do PCC, o direito ao “outro lado”. E vamos dar a outra
face ao capeta. Tenham paciência!
Por que
essa introdução? Porque não é só Pizzolato que jura que o mensalão não
existiu. Repetem essa mesma ladainha Lula, a cúpula do PT e alguns
colunistas que só não estão de joelhos porque é uma posição
desconfortável para lamber os sapatos do petismo. Pois bem: algo
importante se deu na 13ª Vara da Justiça Federal do Paraná nesta
segunda. Alberto Youssef, o doleiro enroscado na operação Lava Jato, não
apenas confirmou a existência do mensalão — ninguém precisava dele para
isso; é claro que existiu! — como demonstrou os vasos comunicantes
entre aquele escândalo e o petrolão.
Atenção!
Youssef já aparecia no escândalo do mensalão. Isso não é o novo. O
depoimento desta segunda, diga-se, prestado ao juiz Sérgio Moro e ao
procurador da República Roberson Pozzobon, é parte da ação penal em que o
doleiro é acusado de ter lavado a origem ilícita de R$ 1,16 milhão
recebido pelo então deputado José Janene (PP), já morto, no âmbito do
mensalão.
O doleiro
deixou claro que administrava com Janene uma espécie de conta conjunta. O
dinheiro era distribuído, segundo ele, a “agentes públicos e
políticos”, por orientação do deputado. Para tanto, usava um outro
doleiro, Carlos Habib. Até aí muito bem. Prestem atenção agora ao ponto
que interessa. O juiz Moro perguntou a Youssef qual era a origem do
dinheiro. E ele respondeu: “Comissionamento de empreiteiras”. O juiz
insistiu: “Decorrente de contratos com a administração pública em geral,
propinas?”. E o homem confirmou: “Sim, senhor, excelência”.
Confirma-se,
assim, aquilo de que sempre se suspeitou. Tudo o que ficamos sabendo do
mensalão foi, para usar um clichê que eu detesto, mas que se faz
inevitável, a ponta do iceberg; conhecemos, na verdade, apenas uma das
cabeças da hidra. Como se percebe pelo depoimento de Youssef, o desvio
do Fundo Visanet, do Banco do Brasil — da ordem R$ 76 milhões — não foi a
única grana pública movimentada pelo mensalão.
Os dois
esquemas de ladroagem tinham vasos comunicantes. O mais impressionante é
que, enquanto uma das cabeças do monstro estava sob escrutínio, as
outras operavam a todo vapor. Esse depoimento de Youssef é mais sério e
importante do que parece. Sim, o mensalão existiu — e disso nós
sabíamos. Existiu e movimentou mais dinheiro público do que estávamos
informados. Espantoso é saber que a máfia não se intimidou nem com o
processo que estava em curso no STF, tal era a certeza da impunidade.
E que se
note, para arrematar: até agora, a gente não sabe quem era o “capo di
tutti i capi”, o chefe dos chefes. Porque não se enganem: uma
roubalheira dessa dimensão, com tantas frentes, que pode gerar
desentendimentos entre os quadrilheiros, tem sempre alguém que bate na
mesa para desempatar o jogo. Saberemos algum dia?
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