Chego
ao aeroporto de Confins hoje cedo e vou direto à livraria, ver os
jornais. Deparo então com meu colega Adolfo Sachsida, velho conhecido do
movimento liberal, estampado bem na capa da Folha, sendo arrastado por
seguranças.
Sachsida é doutor em Economia, trabalha
no Ipea e foi candidato a deputado distrital nessas eleições. Abaixo,
segue a entrevista que ele gentilmente concedeu ao blog:
Por que o protesto? Como economista, você considera a aprovação desta LDO um golpe político, um calote fiscal?
O protesto tem como objetivo evitar a
aprovação do PLN 36/2014. Na prática a ideia do governo é jogar a
responsabilidade fiscal no lixo. Isto é, o governo quer jogar no colo de
nossos filhos a conta por sua irresponsabilidade fiscal. A aprovação de
uma nova lei de orçamento para 2014, no ÚLTIMO mês de 2014, é uma
imoralidade. O governo gastou demais, e agora quer mudar a lei para
dizer que cumpriu a lei. Além disso, existe um efeito cascata: se o
governo federal pode fazer isso, então estados e municípios também
podem. Resumindo: será a irresponsabilidade fiscal em todos os níveis de
governo. Quanto a questão política, existem implicações legais
decorrentes do descumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).
Uma dessas sanções é a improbidade administrativa, que pode ter séries
implicações para um futuro governo Dilma.
Como ocorreu sua expulsão do Plenário? Houve uso de agressão?
Estava com uma mordaça vermelha na boca,
numa referência ao PT querer calar a população. Então os seguranças se
aproximaram de onde estávamos e mandaram que todos se retirassem,
ninguém poderia permanecer mais nas galerias do Congresso Nacional. Eu
me recusei. Disse que era meu direito permanecer na casa do povo. Estava
sentado e perguntaram novamente: você irá se retirar?
Novamente
respondi que não. Afinal, era meu direito constitucional permanecer.
Nesse momento vários seguranças vieram para cima de mim, que ainda
permanecia sentado, e pegando cada um uma parte de meu corpo me levaram
para fora. Importante ressaltar que em momento algum reagi. Em momento
algum agredi, permaneci parado enquanto me conduziam para fora. Nesse
momento surgiu outro problema: não havia como me levarem para fora sem
passar por cima de outros que estavam lá protestando. Ocorreu
empurra-empurra, mas ressalto uma vez mais que permaneci imóvel e sem
reagir enquanto me levavam para fora. Nesse momento recebi um choque nas
costas.
Quando finalmente me tiraram da galeria fui conduzido à saída, e
lá pediram que esperasse. Nesse momento ocorreu algo chato: o segurança
que me conduziu disse que eu seria detido por desacato. Respeitosamente
disse que não tinha desacatado ninguém, e o segurança de maneira
grosseria mandou que me calasse.
Repeti que não havia cometido delito
algum, e o segurança perguntou se alguém tinha falado comigo, que era
melhor eu ficar calado. Outro segurança, muito mais calmo, gentilmente
pediu que eu sentasse no sofá e aguardasse. Esperei lá por uns 20 ou 30
minutos, após isso fui liberado. Perguntei se gostaria de anotar meu
nome e telefone, pois não sou bandido e não estava fugindo de nada.
Fui
informado que isso não era necessário, mas que deveria me retirar das
dependências do Congresso. Por fim, ressalto que cheguei a pedir por
socorro para Maria do Rosário…. aparentemente ela não me ouviu.
Isso significa que o PT perdeu o monopólio dos protestos e que a oposição finalmente acordou?
Ontem foi um dia histórico, um dia em que
o PT proibiu o povo de participar de forma democrática do Congresso
Nacional. Renan Calheiros foi apenas o instrumento, mas não nos
enganemos, quem proíbe o povo de entrar no Congresso Nacional é o PT. O
PT quer calar o Brasil, mas não conseguirá!
Não era o próprio PT que dizia
defender maior “participação popular” na democracia? Você é parte do
povo? A máscara do PT caiu, deixando transparecer sua face autoritária?
O PT não defende maior participação
popular. O que o PT defende é que os movimentos sociais que ele controla
tenham mais força. O PT não suporta o fato de que movimentos legítimos
da sociedade, e indivíduos independentes, tenham vontade própria. Uma
coisa eu sei por certeza: eu sou cidadão brasileiro, e o PT não me
representa.
Renan Calheiros, aliado do PT,
insinuou que os manifestantes fossem “assalariados”, ou seja, que
estivessem ali a soldo do PSDB. Você recebeu algum dinheiro para
protestar?
Não recebi e nem aceitaria dinheiro
algum. Mas recebi um dos maiores pagamentos que um homem pode receber, a
consciência tranquila do homem honesto que lutou pelo que acredita.
Você é economista e trabalha no
Ipea, que vem sendo alvo de crescente influência política. Houve algum
tipo de retaliação por lá, por suas posturas políticas e ideológicas?
Fui convidado pela comissão de ética do
instituto a dar explicações sobre duas declarações minhas. A primeira
referente às críticas que fiz em relação a pesquisa incorreta do IPEA
sobre estupro. E a segunda referente à minha declaração de que manter
uma sede na Venezuela equivalia a legitimar uma ditadura. Por algum
motivo o convite a explicações virou algo mais, e acabei recebendo uma
censura, pequena, é verdade, mas ainda assim uma censura da comissão de
ética. Por fim, fui exonerado do cargo que mantinha (mas como sou
funcionário público concursado mantive o emprego). Cabe ressaltar que
minha exoneração foi anterior ao convite para prestar esclarecimentos na
comissão de ética.
Você foi candidato nas últimas eleições a deputado distrital. Ainda pensa em entrar para a política? Quais são seus planos?
As eleições acabaram, e confesso que não
sei se quero passar por outro pleito. Sou um técnico, tenho doutorado e
fui professor de economia nos Estados Unidos. Não tenho o treino de um
político, meu treino é em economia e métodos quantitativos. Hoje meu
objetivo é garantir que minhas filhas não terão que pagar a conta da
irresponsabilidade fiscal do governo atual. Tenho com elas o compromisso
que meus pais tiveram comigo: entregar a elas um pais melhor do que
recebi.
Rodrigo Constantino
No caso das contas do Brasil, o governo deve, necessariamente, gastar menos do que arrecada. Isso porque o país possui uma dívida pública bruta de cerca de 62% do PIB. É necessário, a cada ano, que o país tenha fundos para arcar com os juros dessa dívida.
Por isso precisa fazer o chamado superávit primário, que é a economia para o pagamento desses juros. Se o governo não consegue economizar, a única forma de pagar os juros é contraindo novos empréstimos — ou seja, aumentando a dívida.
A estratégia para controlar as finanças do governo é chamada de política fiscal.
Afinal, o que é superávit?
A dinâmica do fluxo de caixa de um governo funciona, mais ou menos, como as finanças de uma pessoa comum. O ideal é quando se gasta menos do que se arrecada. O que sobra pode ser guardado na poupança, ou usado para o consumo.No caso das contas do Brasil, o governo deve, necessariamente, gastar menos do que arrecada. Isso porque o país possui uma dívida pública bruta de cerca de 62% do PIB. É necessário, a cada ano, que o país tenha fundos para arcar com os juros dessa dívida.
Por isso precisa fazer o chamado superávit primário, que é a economia para o pagamento desses juros. Se o governo não consegue economizar, a única forma de pagar os juros é contraindo novos empréstimos — ou seja, aumentando a dívida.
A estratégia para controlar as finanças do governo é chamada de política fiscal.
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