Em bar do DF, fumante que insistiu foi ?"convidado a se retirar".
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Com a vigência da Lei Antifumo, os hábitos do fumante brasiliense precisam ser modificados, uma vez que fica proibido fumar em locais fechados, sejam eles públicos ou privados. A punição em caso de descumprimento vai para os estabelecimentos comerciais que desrespeitarem a regra, que podem ser multados e até perder a licença de funcionamento. E para não serem prejudicados, vale até perder um cliente.
A legislação federal, aprovada em 2011, mas regulamentada somente neste ano, veda o consumo de cigarrilhas, charutos, cachimbos, narguilés e outros produtos em locais de uso coletivo – como corredores de condomínios, restaurantes e clubes –, mesmo que o ambiente esteja parcialmente fechado por uma divisória, parede, teto ou toldo.
A lei ainda extingue os fumódromos e acaba com a possibilidade de propaganda comercial de cigarros até mesmo nos pontos de venda. Ficará permitida a exposição dos produtos sempre acompanhada de mensagens sobre os males provocados pelo fumo. Os fabricantes terão, ainda, que aumentar os espaços para os avisos sobre os danos causados pelo tabaco, que deverão aparecer em 100% da face posterior das embalagens e de uma de suas laterais.
Na capital, o primeiro dia de aplicação da nova lei, ontem, registrou discussão entre gerente de bar e clientes, além de muita reclamação de fumantes. Na QRWS 101 do Sudoeste, dois frequentadores de um bar foram expulsos do local porque se recusaram a obedecer a determinação da casa de não permitir mais o consumo de cigarro nas dependências e imediações do estabelecimento.
De acordo com o gerente Afrânio Cordeiro, 45% dos frequentadores do bar são fumantes. Ele vê muita confusão durante o período de adaptação à nova lei. "Os próximos dois meses serão de resistência", estima. "O que fazer quando um cliente quiser fumar à força?", questiona.
Dois passos à direita
Contrariado, o servidor público Leandro Fiúza (foto), 34, foi para o estacionamento fumar. "Acho uma estupidez, porque já estou na calçada", reclamou. A mesa dele estava posicionada fora do bar. Mesmo assim, sofreu restrição porque a lei prevê que os locais cobertos por toldos são de uso coletivo e devem ser preservados.
Assunto causa polêmica
Mas nem todos reclamaram da nova legislação. Para um garçom do bar do Sudoeste, que pediu anonimato, a Lei Antifumo “foi a melhor decisão que o governo tomou nos últimos anos". "Quer fumar? Vai para outro lugar. Não aqui", disse. Para ele, os estabelecimentos também deveriam ser proibidos de vender cigarro.
Já o colega dele, Tiago Campos, não acredita que a norma deva resistir ao tempo. E comparou-a com a Lei Seca. "No começo é assim. A Lei Seca, hoje, ninguém obedece. Já estou cansado de ver as pessoas bebendo aqui e saindo dirigindo", delatou o funcionário.
Narguilé
A restrição ao tabagismo será pior para o proprietário de outro estabelecimento que também situa-se na QRWS 101 do Sudoeste. Localizado no subsolo do prédio, entre dois bares, o local se tornou referência por servir narguilé aos clientes. De acordo com Abbas Diab, a fiscalização permitiu o consumo na área aberta, desde que não seja instalado o toldo. "Quando chover, vou ter de fechar o bar", lamentou o comerciante.
Conscientização
Para a estudante Beatriz Britto, de 26 anos, o Brasil está dando um passo importante na conscientização dos malefícios do cigarro, mas ainda falta muito para que todos se sensibilizem quanto a essa questão.
"Achei a Lei Antifumo boa, com muita divulgação e incentivos, mas ainda há muita brecha para interpretações diferentes. Nós que não fumamos temos que suportar o cheiro horrível do cigarro ou nos retirarmos do local. Não está certo o não fumante precisar sair do local para o fumante continuar", conclui.
Livre arbítrio
Já o arquiteto Bruno Lins Amaral, mesmo não fumante, acha a decisão radical. "Eu acho que fere um pouco o livre arbítrio. Acredito que proibir fumar em locais públicos, frequentados por crianças, por exemplo, é legal. Porém, chegar ao ponto de forçar os estabelecimentos a proibir, acho demais. Achei a lei muito restritiva e abrangente", aponta.
Hábito mais intenso
Levantamento feito pelo Instituto Nacional de Políticas Públicas do
Álcool e Outras Drogas (Inpad) e pela Universidade Federal de São Paulo
revelou que até 2012, 15,6% da população brasileira era composta por
fumantes, totalizando 20 milhões de pessoas.
Embora a taxa seja 20% mais baixa do que a de seis anos, o estudo
mostrou que o hábito se intensificou, pois se em 2006 fumava-se em média
12,9 cigarros por dia, em 2012 o número pulou para 14,1. Em
contrapartida, 90% entrevistados alegaram estar dispostos a largar o
vício, mas 67,8% consideram esta uma missão difícil.
Redução
Em abril deste ano, o Ministério da Saúde divulgou pesquisa que
indica a redução de fumantes nos últimos oito anos. Dados da Vigilância
de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito
Telefônico (Vigitel) mostram que a parcela de brasileiros maiores de 18
anos que fuma caiu de 15,7%, em 2006, para 11,3%, em 2013.
A frequência maior de fumantes permanece entre os homens, com 14,4%
contra 8,6% entre as mulheres. A frequência das pessoas que fumam 20 ou
mais cigarros também caiu, passando de 4,6% em 2006 para 3,4% no ano
passado.
Ajuda Digital
1. Embarcando na onda, diversos aplicativos para ajudar no difícil
abandono do vício têm se tornado aliados dos dependentes. Entre eles
está o Kwit, onde os ex-fumantes têm estatísticas como o tempo que já
passou sem fumar, o dinheiro que poupou e o número de cigarros que não
fu mou. Conforme os dias vão passando, os usuários vão subindo de nível
até se tornar o Kwitter Final. Quando sentir vontade, os ex-fumantes
podem agitar o celular para receber um cartão de motivação.
2. Outro aplicativo popular é o Brasil sem Cigarro, que, assim como
o Kwit, faz as contas de quantos cigarros foram fumados, quanto se
gastou com o item e quantas horas os usuários desperdiçaram fumando. Em
seguida, pode-se escolher quando vai abandonar o vício e receber dicas
diárias do médico Dráuzio Varella para se preparar para o grande dia e
enfrentar as primeiras semanas sem a droga. Ali, os ex-fumantes poderão
gravar vídeos de incentivos a parentes e amigos, e ainda, tem um espaço
para desabafar sobre as dificuldades na luta contra a dependência da
nicotina.
Saiba mais
Segundo dados do Ministério da Saúde, são mais de 50 doenças
relacionadas ao consumo de cigarro. A pasta informa que estatísticas
revelam que os fumantes, comparados aos não fumantes, apresentam um
risco dez vezes maior de adoecer de câncer de pulmão, cinco vezes maior
de sofrer infarto, cinco vezes maior de sofrer de bronquite crônica e
enfisema pulmonar e duas vezes maior de sofrer derrame cerebral.
As pessoas passam 80% do seu tempo em ambientes fechados. Ao fim do
dia, em um ambiente poluído, os não fumantes podem ter respirado o
equivalente a dez cigarros.
Fonte: Da redação do Jornal de Brasília
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