Em Paris
- Spanish National Research CouncilA pigmentação da pele do indivíduo de La Brana era provavelmente escura, mas ele também era portador de uma mutação que, no homem contemporâneo, acarreta em olhos azuis
Este estudo, publicado neste domingo (26) pela revista científica Nature, permite traçar o retrato de um europeu do período Mesolítico - entre o Paleolítico e o Neolítico - quando a subsistência ainda era garantida pela caça e pela coleta.
A pesquisa também fornece dados sobre as mudanças trazidas à fisiologia humana através da introdução progressiva na Europa, no período Neolítico, da agricultura e da domesticação.
A equipe de pesquisadores liderada por Carles Lalueza-Fox, do Instituto de Biologia Evolutiva de Barcelona, analisou o DNA de um dente de um dos dois esqueletos masculinos descobertos em 2006 na gruta de La Brana-Arintero, na província de León, noroeste da Espanha.
As ossadas, preservadas em boas condições, são datadas de aproximadamente 7.000 anos, correspondendo ao período Mesolítico - 10.000 a 5.000 anos.
O estudo mostra que o caçador-coletor da península ibérica era geneticamente distante das populações europeias atuais, mas estava, contudo, mais próxima dos europeus do Norte de hoje, como suecos e finlandeses.
As comparações com outras amostras antigas parecem, ainda, indicar uma "continuidade genética" através da Europa ocidental e central, desde o Paleolítico superior até o Mesolítico.
Mal equipado para digerir leite e cereais
A pigmentação da pele do indivíduo de La Brana era provavelmente escura, e seus cabelos castanhos. Mas ele também era portador de uma mutação que, no homem contemporâneo, acarreta em olhos azuis."Este fenótipo raro não existe nas populações europeias contemporâneas", ressaltou Lalueza-Fox em entrevista à AFP por e-mail.
"Até o momento, nós considerávamos que a cor da pele clara havia evoluído muito cedo na Europa, no Paleolítico superior, em função de uma baixa atividade de raios solares UV em altas latitudes", explicou.
"Mas este certamente não foi o caso. Essa evolução ocorreu muito mais tarde, provavelmente no Neolítico", disse o pesquisador. Ela poderia estar associada às mudanças no regime alimentar e à diminuição da ingestão de vitamina D por parte dos criadores, em relação aos caçadores.
Os geneticistas também se debruçaram sobre os genes do sistema digestivo do caçador-coletor de La Brana para tentar retraçar a história de duas adaptações "recentes" do regime alimentar do homem adulto: o consumo de leite e de amido, encontrado hoje nos cereais e na batata, por exemplo.
Ele mostraram que o indivíduo de La Brana era portador da variação genética ancestral que produzia uma intolerância à lactose. Da mesma forma, o homem não era geneticamente preparado para ter uma dieta rica em amido.
"Estes resultados sugerem que o caçador-coletor de La Brana tinha capacidades medíocres para digerir o leite e o amido, levando à hipótese de que estas faculdades foram adquiridas mais tarde, com a introdução da agricultura", afirmaram os pesquisadores.
Por outro lado, eles mostraram que diversas variações genéticas associadas à resistência aos agentes patogênicos nos europeus modernos já estavam presentes neste indivíduo. Não se trataria, então, de uma adaptação ligada à passagem ao modo de vida agrícola e à domesticação animal.
"A análise de outros antigos genomas da Europa central ou do norte será necessária para confirmar que as características genéticas do indivíduo de La Brana podem ser generalizadas a outras populações do Mesolítico", concluem os pesquisadores.
Sete
esqueletos com crânios enterrados entre as pernas foram descobertos por
arqueólogos durante obras da construção de uma estrada em Gliwice, na
Polônia. Baseado na forma com que os corpos foram enterrados, o grupo
diz que as tumbas pertenceriam a pessoas que foram consideradas
"vampiras", pois, durante a Idade Média, acreditava-se que decapitar os
vampiros os impediria de voltar à vida Andrzej Grygiel/EFE
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