Impressionante
a trapalhada, na melhor das hipóteses, em que se meteram Dilma Rousseff
e seus gênios da estratégia, com essa história da escala em Portugal.
Que se passa? Os poderosos no Brasil estão tão acostumados a mentir —
não necessariamente por dolo, mas porque se considera que é parte do
ofício da política — que se procura criar uma farsa até quando isso não
traz benefício nenhum ao mentiroso, muito pelo contrário.
E, como notam,
estou, por princípio, sendo benevolente. Vamos ver.
Não custa
lembrar que Portugal não é um bom país para petistas fazerem viagens
misteriosas. Nada contra a Terrinha — muito pelo contrário, tudo a
favor, incluindo, consta, o restaurante Eleven. É que, bem…, o país foi
palco de um dos episódios mais estrepitosos do mensalão, não é?
Memória:
em depoimento à Procuradoria Geral da República, Marcos Valério acusou a
participação de Lula na intermediação de um “empréstimo” (assim mesmo,
com aspas…) de R$ 7 milhões da Portugal Telecom para o PT.
Segundo o
publicitário, uma fornecedora da Portugal Telecom, sediada em Macau,
repassou o dinheiro ao PT para quitar dívidas de campanha. Os recursos
teriam entrado no país por meio das contas de publicitários que
trabalharam para o partido. Segundo a denúncia, Lula teria se reunido
com Miguel Horta, então presidente da Portugal Telecom, para negociar o
repasse.
A transação estaria ligada a uma viagem feita por Valério a
Portugal em 2005. O episódio foi usado, no julgamento do mensalão como
uma prova da influência do publicitário em negociações financeiras
envolvendo o PT. Portugal é também uma das bases de operação do
“consultor de empresas privadas” José Dirceu.
Das mentiras
A viagem não estava na agenda da presidente, e as desculpas oficialmente apresentadas, a esta altura, já foram desmoralizadas. Segundo informa a Folha, o “chef” Joachim Koerper, do restaurante Eleven, afirma ter recebido funcionários da Embaixada do Brasil em Lisboa para uma “vistoria” na véspera da visita de Dilma. Assim, a mudança de planos de última hora em razão do mau tempo nos EUA — o que teria forçado a escala em Portugal, já que o avião não teria autonomia par voar de Suíça a Cuba — não cola.
De fato,
em princípio, é irrelevante se a escala é num lugar ou noutro. Ainda que
a presidente tenha escolhido o maior conforto — e a gente nota que
ninguém economizou dinheiro em Portugal —, isso não é um grande pecado.
Mas mentir é feio.
A esta
altura, está claro que o Planalto está escondendo alguma coisa. Mas o
quê? Pode até ser nada — é o que chamo de “Comportamento Pipoca”,
homenagem a uma vira-latinha aqui de casa. Se ela acha um papel de bala
ou um pregador de roupa no chão, leva para o seu travesseirinho e se
deita em cima da irrelevância, com aquele ar de quem “esconde alguma
coisa”. Você se aproxima, e ela começa a bater nervosamente a cauda:
“Estou escondendo algo precioso…”.
O PSDB já
acionou o Ministério Público Federal e a Comissão de Ética da própria
Presidência, pedindo que avalie o comportamento da presidente e de sua
comitiva. Fazer o quê? Pode até parecer uma bobagem, mas a oposição tem a
obrigação de fazê-lo. Um bom modo de isso não acontecer é o Planalto
parar de apresentar explicações falsas. Isso nos obriga a fazer a
pergunta óbvia: mas que diabos Dilma foi fazer em Portugal? E noto: essa
história de ela ter ido a um dos três restaurantes com uma estrela do
Guia Michelin não quer dizer nada. Mentira é mentira — no Eleven ou num
boteco.
A foto
Dilma posou para foto ao lado de Joachim Koerper, o tal “chef”. A foto já está em toda parte. Os politicólogos da presidente e ela própria não gostaram da imagem. A presidente aparece com olheiras jamais exibidas no Brasil. As redes sociais fazem a festa. O Eleven é controlado pela rede de hotéis “Thema”, que postou a foto no Instagram.
O administrador da conta não economizou: “Nem todos podem ser
bonitos”. Acho, sem querer ganhar
um troninho entre os politicamente corretos, esse tipo de observação
sempre complicada porque, fosse a presidente um homem, ninguém se
ocuparia da questão. Esse peso só existe sobre o ombro das mulheres. Sem
contar a grosseria. De resto, acho Dilma incompetente, mas não feia.
De todo
modo, melhor teria feito Dilma se tivesse maquiado o entorno dos olhos,
não o motivo da viagem. Mas que fique claro: a primeira questão não tem a
menor importância; a segunda diz respeito às regras de funcionamento de
uma República. Para homens e mulheres. Com ou sem olheiras.
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