Na inauguração de um porto no país caribenho, Dilma Rousseff anuncia a concessão de um novo financiamento ao projeto. Além dos US$ 682 milhões já repassados pelo BNDES, serão liberados US$ 290 milhões para a segunda etapa
Antonio Temóteo
Publicação: 28/01/2014 06:02 Atualização: 28/01/2014 08:31
A presidente do Brasil e o líder cubano, Raul Castro, disseram na cerimônia de ontem que pretendem ampliar as relações comerciais ainda comedidas entre os dois países |
Ao cortar ontem uma fita com as cores de Cuba nas novas instalações do Porto de Mariel, a presidente Dilma Rousseff anunciou um novo financiamento do governo brasileiro, de US$ 290 milhões, para a segunda fase de obras de modernização do terminal, a 50 quilômetros de Havana, a capital do país. O governo cubano já recebeu US$ 682 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), pagos à Odebrecht, responsável pela obra.
Os ditadores da ilha caribenha, Fidel e Raul Castro — o presidente —, apostam que o projeto impulsionará os negócios do país, submetido a restrições ao comércio e investimentos por parte dos Estados Unidos. Mas, para empresários e especialistas brasileiros, o investimento em Cuba contrasta com a carência de recursos que se enfrenta aqui para melhorar a infraestrutura em todas as áreas.
“Mesmo submetido a injusto embargo econômico, Cuba gera um dos três maiores volumes de comércio do Caribe”, disse Dilma ontem. “O Brasil deseja ser um aliado econômico de primeira ordem para Cuba e uma maneira de fazer isso é aumentar as relações bilaterais de comércio”, afirmou a presidente, que participa de um encontro de chefes de Estado latino-americanos no país. A primeira fase da modernização de Mariel custou US$ 957 milhões, dos quais US$ 802 milhões foram investidos na compra de bens e serviços brasileiros.
Na rabeira
As relações comerciais entre os dois países ainda são pequenas. Em 2013, o Brasil exportou US$ 528,2 milhões para Cuba e importou US$ 96,6 milhões. De acordo com dados de 2012, os mais recentes disponíveis para comparação, o Brasil está em quarto lugar quando se considera a origem das mercadorias destinadas à ilha. Com 5,2% do total, ficou pouco à frente dos Estados Unidos, que, apesar do embargo, vendem a Cuba 4,3% de tudo o que se compra de fora. Os dados são do próprio governo norte-americano. Quando se considera o destino das exportações brasileiras, Cuba está em 53º lugar.
Na avaliação do diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, o economista Adriano Pires, é “irracional” o governo anunciar mais um investimento de centenas de milhões de dólares para modernizar a infraestrutura de Cuba ao mesmo em que há, aqui, portos, aeroportos, ferrovias e rodovias de “péssima qualidade”.
Pires afirmou que existe um componente ideológico na decisão brasileira, consequência da relação do ex-presidente Lula com Fidel Castro. Dilma manteve a aproximação construída pelo antecessor. “Ela foi a Davos (Suíça) para tentar atrair investidores estrangeiros para o país, mas não dá qualquer condição para que isso ocorra, sobretudo a implantação da infraestutura necessária para que grandes empresas se instalem no Brasil”, criticou.
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