quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Mensaleiro frauda até pagamento de multa



 

 

 

 

 

Mensaleiro tenta enganar a Justiça

Condenado por corrupção passiva na Ação Penal 470, conhecida como mensalão, o ex-deputado federal José Borba terá que comparecer hoje à tarde no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) para dar explicações sobre supostas irregularidades no cumprimento da pena. 

Condenado a 2 anos e 6 meses de cadeia, ele conseguiu o benefício de trocar a prisão pelo pagamento de penas alternativas, como a compra de material de construção para o Presídio Feminino do DF. 

Entretanto, uma perícia do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios ( MPDFT ) identificou que a unidade do tijolo adquirido por Borba custou quase o triplo do valor de mercado. Se ele não comparecer à audiência para dar explicações sobre os indícios de superfaturamento, o ex-parlamentar poderá ser preso.
 
O processo tramita na Vara de Execuções Penais e Medidas Alternativas (Vepema). 

José Borba foi intimado a comprar 2,5 mil unidades de tijolo e 10 sacos de cimento com 50kg. Pela nota fiscal apresentada pelo político, o material custou R$ 13.615. 

Promotores da área de execução penal do MPDFT desconfiaram da prestação de contas e encaminharam as notas para o Departamento de Perícias da instituição. 
 
Técnicos do Ministério Público fizeram orçamentos em dezenas de lojas de material de construção de Brasília. “Em contato com o próprio fornecedor dos blocos de cimento vendidos, o milheiro foi cotado em R$ 1.800, valor bem abaixo dos R$ 5.350 lançados na nota fiscal. 

Diante da enorme discrepância entre o valor de mercado e o valor constante da nota fiscal apresentada, o Ministério Público requer a realização de audiência”, diz um trecho da perícia realizada pelo MP e encaminhada à Justiça. 

O processo traz um orçamento com estimativa de gasto de R$ 3.655 para a mesma compra que saiu por R$ 13.615.
 
José Borba foi intimado em 13 de dezembro de 2013 a começar a pagar a pena alternativa, fixada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). 

O valor total, designado pela Vepema, é de 300 salários mínimos, o equivalente, hoje, a R$ 217,2 mil, em 30 meses. O juiz que fixou a penalidade deixou claro que o benefício poderia ser cortado a qualquer momento em caso de irregularidade. 

O não cumprimento das condições impostas resultará na conversão da pena restritiva de direitos em pena privativa de liberdade”, afirmou no processo o juiz Nelson Ferreira Júnior.
 
Em dezembro, Borba já havia comprado 170 cestas básicas, entregues à ala de tratamento psiquiátrico da penitenciária feminina. Pagou R$ 80 por cesta, totalizando um gasto de R$ 13,6 mil. Já no terceiro mês do cumprimento da pena, o MP esmiuçou a compra de material de construção, identificou possíveis irregularidades e determinou a convocação.
 
Justificativa

O advogado de José Borba, Michel Saliba, entregou à Justiça a defesa do ex-deputado e alegou que o cliente não sabia o preço unitário do tijolo e, por isso, não poderia ser responsabilizado. 

Um objeto, como um bloco de concreto específico para a construção de um presídio feminino, foge totalmente do conhecimento do executado, que pagou R$ 5,35 em algo que haveria no mercado pelo preço de R$ 2,90 ou até mais barato, mas poderia ter pago R$ 7,35 e ter achado normal”, alegou, no processo, o defensor. 
 
Saliba sugeriu à Justiça que o modo de pagamento seja alterado. “Se o meio de pagamento está gerando questionamentos que acabam por castigar moralmente o executado, que se permita o depósito dos valores em juízo, ou nos moldes do que ocorrerá na pena de multa, por meio da devida guia de recolhimento em favor da União”, acrescentou o advogado.
 
Em 2005, na época do escândalo do mensalão, José Borba era deputado federal pelo PMDB e foi acusado de receber R$ 200 mil do esquema operado pelo empresário Marcos Valério. 

O então parlamentar teve que renunciar ao cargo para escapar da cassação. Em 2009, filiado ao PP, Borba conseguiu se eleger prefeito do município paranaense de Jandaia do Sul. 
 
Regalias

A Promotoria de Justiça de Execuções Penais do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) expediu requerimento à Vara de Execuções Penais (VEP) para que sejam tomadas providências em relação às denúncias de que os condenados no mensalão estão desfrutando de regalias no Centro de Internamento e Reeducação (CIR), na Papuda, onde está o ex-ministro José Dirceu, e no Centro de Progressão Penitenciária (CPP), no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA), onde o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares cumpre pena à noite. 

Caso seja constatada a impossibilidade de correção desses problemas, o MPDFT requer que seja encaminhada representação ao Supremo Tribunal Federal (STF) para providenciar a transferência dos condenados da Ação Penal 470 para um presídio federal. 

Fonte: Correio Braziliense - 26/02/2014 - - 07:41:50

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