quinta-feira, 6 de março de 2014

Atrevimento de bandidos assusta a população


Crimes no DF demonstram que a ousadia de ladrões não tem limite
 
Audaciosos, impiedosos e nada temerosos. Quando o assunto é criminalidade, a ação dos bandidos parece passar longe de qualquer tipo de receio. Não respeitam nem polícia, que dirá a população. Os últimos acontecimentos ilustram isso. Na última segunda-feira, criminosos resolveram agir na Península dos Ministros, local onde há residências oficiais e que conta com a presença massiva de segurança privada. Além disso, nos últimos oito dias, quatro postos policiais foram atacados – três deles incendiados. E a lista não para por aí: tem até criança assaltando postos de gasolina e veículo roubado duas vezes em um dia.

Na Península dos Ministros, os criminosos desafiaram os riscos e usaram uma casa desocupada como esconderijo para furtar uma mansão vizinha. Escalaram o muro, desligaram as câmeras de segurança e entraram no quarto do casal. Em seguida, arrombaram o armário e levaram dinheiro e joias. 

Segundo os moradores, a ação dos bandidos foi orquestrada e rápida. Bastou uma saída por duas horas para o crime ser executado. A casa não tinha sinais de arrombamento, mas teve parte das  pedras que decoravam o muro danificadas. Os criminosos ainda cortaram os fios da central das câmeras de segurança e desligaram o interfone. As vítimas, com medo do que ocorreu, preferiram não informar o valor do prejuízo.

Rondas são raras

Os moradores da região reclamam da falta de policiamento e ressaltam que a sensação de segurança é uma realidade distante para quem mora ali. “Já venho percebendo isso há um certo tempo. Não tenho a menor tranquilidade para sair de casa. Ver policiais fazendo ronda não é muito comum”, salientou a professora Denimar Menezes, 51 anos.

O comerciante Rafael de Sousa, 25 anos, tem opinião semelhante. Ele conta que já foi assaltado enquanto trabalhava. “Quando os policiais passam por aqui é rápido. O assalto a comércio é ainda mais comum. Mas também vejo muitos comentários de clientes sobre roubo à residências”, relata Rafael, que trabalha em um estabelecimento próximo à Península nos Ministros.

PMDF

A reportagem do Jornal de Brasília procurou o 5° Batalhão da Polícia Militar  para saber o efetivo de policiais responsáveis pela segurança da região, mas não teve os questionamentos respondidos. A corporação limitou-se a afirmar que o policiamento na região é feito com uso de motocicletas, viaturas e a pé. Em caso de denúncias, a comunidade pode acionar PMDF por pelo dos telefones 190 e 3190-0500. 

Favorecidos pela certeza da impunidade

A onda de violência atinge até os locais de trabalho de quem tem a responsabilidade de garantir a segurança da população. É o caso dos três postos policiais — em Planaltina, Itapoã e  Paranoá—  incendiados em oito dias. Depois destas unidades, outra, também no Paranoá, foi apedrejada e um vidro se quebrou. 

 As suspeitas são de que as ações tenham sido motivadas por retaliação à polícia ou por atos de vandalismo. Para o especialista em segurança da Universidade Católica de Brasília (UCB) Nelson Gonçalves, a audácia dos criminosos é influenciada pela certeza de impunidade.

Eles desafiam os riscos com a ideia de que nunca serão punidos. Com isso, a ação dos criminosos alcança áreas onde antes não era possível. Esse quadro de impunidade não é determinante, mas é, sem dúvida, um coadjuvante importante”, explicou o especialista. 

Segundo Nelson, a ação dos criminosos na Península dos Ministros não é casual. É planejada e estudada com antecedência. Ele frisa que os criminosos certamente estudaram a vulnerabilidade da residência antes de executar o crime. “É uma prática oportunista. Viram que a casa estava desocupada e perceberam a falta de segurança”, pontuou.

Visibilidade

Para o especialista, além falta de segurança, a baixa visibilidade da maioria das áreas nobres, como o Lago Sul, também é um agravante. “Faltam mecanismos de controle para saber se as casas são habitadas ou não, e até para controlar o crescimento do mato, que facilita a invasão dos criminosos”, pontuou.

As melhorias do cenário  exigem sacrifícios, como aponta Gonçalves: “O problema começa no sistema penitenciário. Parece mais que estão estocando animais do que tentando ressocializar o indivíduo”.

Caminho dos ladrões

Um corredor estreito separa   duas casas da Península dos Ministros: a residência abandonada e a furtada pelos ladrões. “Se   lugares considerados seguros não estão livres da criminalidade, imagina o risco para quem mora nas cidades mais distantes”, destaca o especialista em segurança pública Nelson Gonçalves. É o que pensa a maioria dos cidadãos, segundo o estudioso, ao tomar conhecimento de assaltos em áreas nobres e ataques a postos policiais. “Ao ficar  sabendo  dessas variáveis, o medo do crime passam a fazer parte do cotidiano da população”, observa.

Rendidos por criança

 Ter o carro furtado e recuperado pela polícia no mesmo dia parece ser uma narrativa com final feliz. Mas, para uma vítima, foi apenas mais um capítulo de uma trágica história. 

Um morador do Recanto das Emas, dono de um Fiat Uno, teve o carro roubado duas vezes. Depois do primeiro crime, ocorrido no último domingo, o veículo foi encontrado pela polícia no mesmo dia. 

Mas, quando o homem foi à delegacia dar baixa nos documentos para regularizar a situação, o carro foi levado novamente. Até o fechamento da edição, o veículo ainda não havia sido localizado.

O rol de suspeitos ousados conta, inclusive, com a presença de crianças. Um menor de 11 anos foi apreendido ontem, suspeito de cometer uma série de assaltos em postos de combustível de Santa Maria.

Imagens do circuito interno dos postos mostram o garoto portando uma arma de brinquedo  para cometer os crimes. 

Depois de apreendido, ele passou a ficar sob custódia do Conselho Tutelar, uma vez que possui muitas faltas na escola e a família já foi notificada por negligência. Segundo o órgão, o menino não pode responder criminalmente por assalto, sendo os pais os principais responsáveis.

Se a negligência dos responsáveis for confirmada, a guarda da criança pode ser entregue a outro parente, ou ficar submetido aos cuidados do Estado. 

Casa de ministro

Quem também foi vítima de criminosos menores de idade, em janeiro deste ano, foi ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, que teve a casa assaltada. Na ocasião, quatro adolescentes entre 12 e 16 anos entraram na residência, na MI 6 do Lago Norte, pelos fundos da casa, onde funciona uma academia.

De acordo com a Divisão de Comunicação da Polícia Civil (Divicom), o grupo teria furtado dois coletes salva-vidas para nadar no lago. Um dos seguranças da casa tentou deter os jovens, mas eles fugiram.  Em seguida, a Polícia Militar foi acionada e os adolescentes foram levados para a Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA). 

 
Fonte: Da redação do Jornal de Brasília


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