Fortuna de donos de cervejarias é quase igual à de banqueiros no Brasil, aponta Forbes

Revista norte-americana elenca 65 bilionários brasileiros. Quatro donos de empresa de bebidas têm 'apenas' US$ 50 milhões menos do que 13 banqueiros. 

 

Mas sistema financeiro une ricões

 

por Gisele Brito, da RBA publicado 05/03/2014 19:40

 

 

 

Um dos controladores da Ambev, Leeman aparece como brasileiro mais rico com fortuna avaliada em US$ 19,7 bi

São Paulo – Segundo a lista de bilionários da revista Forbes, apenas US$ 50 milhões separam as fortunas de 13 banqueiros tupiniquins da de quatro brasileiros donos de empresas de bebidas. Não que os banqueiros estejam mal das pernas. 

A fortuna pessoal somada chega a US$ 42,65 bilhões, contra US$ 42,6 bi dos cervejeiros e fabricantes de refrigerantes. Mas incita a pergunta: estariam os black blocs chutando a vidraça errada? 

Seria mais produtivo para combater o capitalismo parar de tomar cerveja?

Sem dúvida, o consumo excessivo da bebida fermentada é danoso. 

Segundo o Ministério da Saúde, 21% dos atendimentos de acidentes de trânsito do Sistema Único de Saúde são de pessoas que beberam antes de dirigir. 

Mas só uma parte dos US$ 19,7 bilhões de Jorge Paulo Lemann é obtida com a venda da bebida pela Ambev. 

Ele tem participação em vários outros negócios, mas é classificado pela revista pela participação na indústria de bebidas, especialmente o de cervejas.

Além dele representando o setor aparecem Marcel Hermann Telles, Carlos Alberto Sicupira e Walter Faria. 

Entre os banqueiros, estão Joseph Safra, do Banco Safra; Aloysio de Andrade Faria, ex-proprietário do Banco Real; Andre Esteves, do BGT Pactual e Fernando Roberto Moreira Salles, João Moreira Salles, Walther Moreira Salles Jr e Pedro Moreira Salles, herdeiros do fundador do Unibando, Walter Moreira Salles.

Para João Roberto Lopes Pinto, coordenador do Mais Democracia e responsável pelo ranking Donos do Brasil, que mapeia a estrutura de poder econômico no país, os bancos ainda são mais simbólicos do ponto de vista de quem dá as cartas, mas é preciso ir além da ideia da agência bancária. 

O jogo se dá em outra esfera, cheia de ramificações com o poder e o setor especulativo.

“O que a gente tem de entender é que, na verdade, o sistema produtivo está conectado ao financeiro. Entendido não só como banco, mas fundos de investimento e holdings que atuam na parte financeira. E esses donos do Brasil e do mundo têm sua riqueza associada a essa estrutura financeira”, afirma.


Para ele, não há estranhamento, portanto, no fato de Lemann ser o mais rico do Brasil, já que parte de seu sucesso e de sua empresa está relacionado com a abertura de capital e a internacionalização da Ambev, que se tornou InBev, a maior cervejaria do mundo. 

“Mesmo que ele não seja banqueiro, ele está por trás de uma financeira. O controle dele se dá através de uma holding, um CNPJ financeiro.”


“A questão elementar hoje é entender essa estrutura, que é muito complexa. Ainda se fala de empresa de maneira muito individualizada, ainda se fala de banco como se banco fosse uma agência ali na esquina, quando na verdade esse sistema está muito integrado por conta do mercado de ações, onde essas coisas se cruzam através do controle das empresas produtivas de maneira muito concentrada”, afirma.


Pinto relativiza a lista da Forbes, que só leva em consideração a renda declarada e omite fatores que não aparecem em forma de dinheiro: poder e patrimônio. 

“O próprio sistema de controle é uma forma de você dividir a renda. Todo esse sistema de controle que eles criam: uma empresa que controla a outra que controla a outra é para fugir do imposto de renda. Para diluir a incidência do imposto de renda”, avalia.


Um desses casos seria o de Rubens Ometto Silveira Mello, controlador da Cosan, empresa que nasceu no setor sucroenergético, e que aparece com fortuna avaliada em U$$ 1,9 bilhão, ocupando a 931º posição da lista geral e a 31º entre os brasileiros. 

“Ele controla uma holding que controla toda a Cosan. Esse cara é muito poderoso porque ele controla capital mesmo. Empresas que têm patrimônio que não redundam necessariamente na quantidade de dinheiro que ele declara possuir", argumenta.  


“É um mundo pouco debatido na sociedade e que tem muita capacidade de influência. A gente fica debatendo o cara mais rico, menos rico. Mas o fato é que isso representa uma concentração econômica absurda e que obviamente tem consequências políticas.”

Veja novamente a lista com os 65 brasileiros da lista

Colocação na lista Bilionário brasileiro Fortuna estimada Atuação 34 Jorge Paulo Lemann US$ 19,7 bi Bebidas 55 Joseph Safra US$ 16 bi Bancos 119 Marcel Herrmann Telles US$ 10,2 bi Bebidas 137 João Roberto Marinho US$ 9,1 bi Mídia 137 José Roberto Marinho US$ 9,1 bi Mídia 137 Roberto Irineu Marinho US$ 9,1 bi Mídia 146 Carlos Alberto Sicupira US$ 8,9 bi Bebidas 367 Francisco Ivens de Sa Dias Branco US$ 4,1 bi Alimentos 367 Eduardo Saverin US$ 4,1 bi Cofundador do Facebook 396 Walter Faria US$ 3,8 bi Bebidas 483 Aloysio de Andrade Faria US$ 3,3 bi Bancos 520 André Esteves US$ 3,1 bi Bancos 520 Antonio Ermirio de Moraes US$ 3,1 bi Diversos 520 Ermirio Pereira de Moraes US$ 3,1 bi Diversos 520 Maria Helena Moraes Scripilliti US$ 3,1 bi Diversos 580 Fernando Roberto Moreira Salles US$ 2,9 bi Bancos, mineração 580 João Moreira Salles US$ 2,9 bi Bancos, mineração 580 Walther Moreira Salles Junior US$ 2,9 bi Bancos 580 Pedro Moreira Salles US$ 2,9 bi Bancos, mineração 609 Abilio dos Santos Diniz US$ 2,8 bi Varejo 642 Miguel Krigsner US$ 2,7 bi Cosméticos 663 Edson de Godoy Bueno US$ 2,6 bi Hospitais, planos de saúde 796 Rossana Camargo de Arruda Botelho US$ 2,2 bi Construção 796 Renata de Camargo Nascimento US$ 2,2 bi Construção 796 Regina de Camargo Pires Oliveira Dias US$ 2,2 bi Construção 796 Moise Safra US$ 2,2 bi Bancos 828 Antonio Luiz Seabra US$ 2,1 bi Cosméticos 925 Nevaldo Rocha e família US$ 1,95 bi Varejo 931 Dulce Pugliese de Godoy Bueno US$ 1,9 bi Hospitais, planos de saúde 931 Michael Klein US$ 1,9 bi Varejo 931 Rubens Ometto Silveira Mello US$ 1,9 bi Açúcar, etanol 931 Lirio Parisotto US$ 1,9 bi Investimentos 1036 Jayme Garfinkel e família US$ 1,75 bi Seguros 1092 Julio Bozano US$ 1,6 bi Bancos 1143 Ana Maria Marcondes Penido Sant'Anna US$ 1,55 bi Pedágio rodoviário 1143 Cesar Mata Pires US$ 1,55 bi Construção 1154 Sergio Lins Andrade e família US$ 1,5 bi Construção 1154 Victor Gradin e família US$ 1,5 bi Construção 1154 Alexandre Grendene Bartelle US$ 1,5 bi Calçados 1210 Lina Maria Aguiar US$ 1,4 bi Herança/bancos 1210 João Alves de Queiroz Filho US$ 1,4 bi Bens de consumo 1284 Eggon da Silva US$ 1,3 bi Maquinário industrial 1284 Elie Horn US$ 1,3 bi Imobiliário 1284 Carlos Francisco Ribeiro Jereissati e família US$ 1,3 bi Shopping centers 1284 Jorge Moll Filho US$ 1,3 bi Hospitais 1284 Jose Isaac Peres e família US$ 1,3 bi Shopping centers 1284 Werner Voigt US$ 1,3 bi Maquinário industrial 1284 Lilian Werninghaus US$ 1,3 bi Maquinário industrial 1372 Lia Maria Aguiar US$ 1,2 bi Herança/bancos 1372 Guilherme Peirão Leal US$ 1,2 bi Cosméticos 1372 Rubens Menin Teixeira de Souza US$ 1,2 bi Construção de casas 1372 Dorothea Steinbruch US$ 1,2 bi Siderúrgica 1442 Alfredo Egydio Arruda Villela Filho US$ 1,15 bi Bancos 1442 Daisy Igel US$ 1,15 bi Gás, petroquímica 1465 Ana Lucia de Mattos Barretto Villela US$ 1,1 bi Bancos 1465 Edir Macedo e família US$ 1,1 bi Comunicação 1465 José Mendes Nogueira e família US$ 1,1 bi Mineração 1540 Giancarlo Franceso Civita US$ 1,05 bi Mídia 1540 Victor Civita Neto US$ 1,05 bi Mídia 1540 Roberta Anamaria Civita US$ 1,05 bi Mídia 1540 José Roberto Ermirio de Moraes US$ 1,05 bi Diversos 1540 José Ermirio de Moraes Neto US$ 1,05 bi Diversos 1540 Liu Ming Chung US$ 1,05 bi Papel e celulose 1540 Neide Helena de Moraes US$ 1,05 bi Diversos 1565 Carlos Martins US$ 1 bi Educação Fonte: Revista Forbes