São coisas que não saímos por aí
gritando, por vergonha, mas que podemos falar assim, baixinho, quase
sussurrando: o PT é tão ruim, mas tão ruim, que faz a gente quase ter
simpatia pelo PMDB.
Se o partido mais fisiológico do país é uma barreira
às reformas estruturais que necessitamos para tirar o Brasil do atraso,
ele é também um obstáculo aos anseios bolivarianos do PT.
Tanto que o PSOL adotou como mantra
justamente essa bandeira: governariam sem o PMDB, em uma “democracia”
mais direta e menos representativa. Tipo assim… uma Venezuela! Se o PMDB
não nos deixa ser um Chile, por outro lado não nos deixa virar uma
Venezuela. Por enquanto.
Foi o pensamento que me veio à mente após ler a reportagem
sobre Eduardo Cunha criando novos obstáculos para o PT. Eis o que ele
disse: “Onde o Rui Falcão passa ele arruma problemas, principalmente com
o PMDB. Parece que ele não quer o apoio do nosso partido à reeleição da
presidente Dilma.
Se for isso, ótimo! Juntou a fome com a vontade de
não comer!” Como não ter alguma simpatia, por menor que seja, por alguém
que solta o verbo dessa maneira sobre essa figura petista?
Claro que não devemos abraçar a máxima de
que o inimigo de nosso inimigo é nosso amigo, a não ser em casos
extremos de vida ou morte (lembremos que Churchill e Roosevelt se
aliaram até a Stalin para combater seu ex-aliado Hitler). Mas a
honestidade intelectual me leva a aceitar o fato de que o PMDB, ainda
que fazendo chantagem como moeda de troca, representa às vezes uma
oposição mais forte do que nossa “oposição” verdadeira (alô, tucanos!).
Cunha, em seu Twitter, disse ainda: “Com
relação ao projeto do marco civil, queremos votar para destrancar a
pauta, mas votaremos contra o projeto. Queremos internet livre de
governo”. Eis aí um louvável objetivo: manter a internet livre do
governo e suas intervenções destrutivas. E não poupou ataques ao PT:
O Picciani
chamou o Rui Falcão de vagabundo, o padrão é esse. Aliás, é um bom
padrão! Não aceito ser comparado com o que o partido dele fazia no Rio
de Janeiro, doido atrás de boquinhas. Aliás por onde passa o Rui Falcão,
mais difícil fica a aliança com o PT. Ao contrário, estou entregando os
cargos que tenho. Daqui a pouco não vai faltar só gente para Dilma
nomear não. Vai faltar é gente para fazer aliança com ela.
Cunha ainda emendou: “A cada dia que
passo me convenço mais que temos de repensar está aliança, porque não
somos respeitados pelo PT”. Pode ser, como de praxe, apenas ameaça
vazia, para valorizar o passe. Mas pode ser que o PMDB, ao menos o
carioca, esteja realmente de saco cheio do PT, ou percebendo que o barco
começa a afundar.
Tomara que seja uma rachadura para valer, pois se a
presidente Dilma está disposta a “fazer o diabo” para vencer as
eleições, resta-nos torcer para que seu projeto dê errado, mesmo que o
“herói” em questão seja o PMDB.
O “blocão” liderado por Eduardo Cunha
foi, em minha opinião, o merecedor do estandarte de ouro neste Carnaval.
Sua obstrução aos anseios autoritários dos petistas é música para
nossos ouvidos. Os brasileiros, inebriados com a folia carnavalesca,
tornam-se presas mais fáceis dos oportunistas de plantão. Só tem um
detalhe: não passarão!
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