O que acontece com a estatal?
Companhia divulgou
na véspera um novo recorde de produção, mas ações estão no menor patamar
desde 2005; mercado ainda precisa recuperar confiança na petrolífera
SÃO PAULO - Na noite da última quarta-feira, a Petrobras (PETR3,
PETR4) divulgou que bateu um novo recorde de produção no pré-sal. Foram
produzidos 412 mil barris de petróleo por dia em 27 de fevereiro. Este
novo recorde vem seguido de outros recordes de produção da petrolífera:
de acordo com a companhia, "essa marca, obtida com apenas 21 poços
produtores, evidencia a elevada produtividade dos campos do pré-sal".
Além disso, de acordo com comunicado enviado pela companhia, "resultados como esses, decorrentes de ações gerenciais objetivas, levaram a companhia em 2013 a realizar lucro líquido de R$ 23,6 bilhões, 11% superior ao de 2012".
Com mais esse resultado positivo, a Petrobras segue firme com o seu plano de expansão da produção, com a intenção de dobrá-la até 2020. A notícia é considerada positiva por analistas, uma vez que representa um importante passo para que a Petrobras se consolide como uma das principais empresas globais.
Contudo, estes números expressivos de produção não se refletem no desempenho das ações da companhia na bolsa brasileira. Na véspera, as ações da companhia tiveram um novo dia de queda, com baixa de 2,16%, a R$ 12,71 para as ações ordinárias e de 2,21% para os ativos preferenciais, a R$ 13,29.
Com isso, os papéis registraram novo recorde de baixa, atingindo o menor patamar desde 29 de julho de 2005 para os ativos PETR3 e renovando o patamar mínimo desde 27 de dezembro de 2005 para as ações PETR4.
Mas por que esse movimento tão contraditório ocorre com a Petrobras? Conforme destacou o El País em matéria logo após a divulgação do resultado, o futuro promissor da petrolífera parece estar bastante distante do seu presente turbulento, com a estatal enfrentando uma espécie de "inferno astral".
"Não há dúvidas de que a Petrobras é 'brilhante' e que está construindo com esmero as bases do seu futuro, com inteligência e inovação", mas muitas dificuldades estão pelo seu caminho, apontou a reportagem.
E este movimento preocupante ocorre em meio ao cenário bastante desafiador para a petrolífera, conforme destacou até mesmo a presidente Graça Foster, durante teleconferência para a apresentação de resultados do quarto trimestre.
E os principais problemas residem no forte endividamento que a companhia possui, ressaltado por Foster, com a relação entre a dívida líquida e o patrimônio líquido passando de 34% para 39%, enquanto a relação entre a dívida líquida e o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) passou para 3,52 vezes, padrões estes acima do que a própria estatal vê como razoáveis.
Com isso, a meta da presidente é a redução da alavancagem financeira para os valores abaixo de 35% e 2,5 vezes no prazo máximo de 24 meses, de modo a manter o grau de investimento das agências internacionais.
E um dos pontos de destaque durante a teleconferência foi a menção de que tem esse compromisso de redução dos níveis de alavancagem "junto aos conselheiros", sendo bem enfática ao destacar que "os conselheiros precisam ver isso".
E esse é um dos pontos sensíveis em relação à estratégia de investimento da Petrobras, uma vez que o presidente do conselho de administração da companhia é o ministro da fazenda, Guido Mantega, e que a empresa é controlada pelo governo brasileiro.
Em novembro, foi marcante a discussão entre Graça Foster e Guido Mantega sobre o reajuste de combustíveis. Em carta da divulgação dos resultados do terceiro trimestre, Graça sinalizou que estava em aprovação uma nova metodologia de reajustes de combustíveis. As ações da companhia ganharam forças após o anúncio, uma vez que as sinalizações eram de que haveria uma maior previsibilidade nos ajustes de preços.
Mas o governo tentou frear as intenções da diretoria da estatal e maiores detalhes sobre a metodologia de reajuste não foram dados, o que voltou a causar incerteza em relação à estatal.
E o reajuste de combustíveis é um dos pontos cruciais para a redução do endividamento da companhia, uma vez que ela precisa fazer a importação de 300 mil barris diários para atender as necessidades do mercado, já que as refinarias têm capacidade de produção inferior à demanda.
O déficit financeiro da balança comercial de petróleo e derivados foi de US$ 14 bilhões em 2013, conforme destacou a ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis).
Além disso, a companhia se defronta com uma desconfiança do mercado em relação aos seus planos de negócios. Um dos fatores apontados pelos analistas é frente a estimativa do dólar, de R$ 2,23 no ano, bem abaixo da expectativa do próprio Banco Central, que trabalha com um dólar a R$ 2,40. E um real mais forte representa um ponto positivo para a Petrobras, dada as suas fortes importações.
Além disso, as investigações de contratos superfaturados com a construtora Odebrecht e de propina com a holandesa SBM mancham a imagem da petrolífera em um momento em que ela busca aumentar a sua eficiência e mostrar resultados após seis anos e meio da descoberta do pré-sal, que causou euforia.
Na época, o então presidente do Brasil, Lula, proclamou que o Brasil havia ganho o "bilhete premiado da loteria" e um "passaporte para o futuro". Logo depois acrescentou que "Deus havia dado ao Brasil recompensas que haveriam de impulsionar a modernização do país". Porém, os resultados demoram a chegar.
A grande questão continua
Conforme destacam boa parte dos analistas de mercado, os dados de produção da companhia podem apontar para recuperação em 2014. Os analistas do HSBC, Luiz Carvalho e Filipe Gouveia, esperam uma alta de 5,2% na produção em 2014. Porém, avaliam, este é o único fator que a estatal pode controlar.
Porém, a grande questão para a companhia continua, conforme apontaram os analistas do HSBC em relatório para comentar os resultados: "a questão para nós é se o governo vai deixar a gestão da Petrobras agir como qualquer uma das outras cinco maiores empresas de energia do mundo já fazem. Esperamos que um senso de urgência do governo vai permitir à empresa ajustar preços domésticos dos combustíveis do seu modo. A potencial divergência poderia significar um longa e pedregosa escadaria".
Conforme destacou o jornal El País, "o problema é combinar as necessidades do governo com a impaciência dos donos do dinheiro, que garantem a valorização das suas ações", destacou a reportagem. Neste sentido, o aumento dos preços da gasolina e diesel ganha uma importância "capital".
Por outro lado, essa medida sozinha pode ser insuficiente: a companhia também precisa vender mais ativos. Assim, a companhia enfrenta uma série de desafios para retomar a confiança do mercado. Mas o que mais limita os ganhos da companhia é o fato de que muito dos fatores impulsionadores dos papéis não dependem dela.
Além disso, de acordo com comunicado enviado pela companhia, "resultados como esses, decorrentes de ações gerenciais objetivas, levaram a companhia em 2013 a realizar lucro líquido de R$ 23,6 bilhões, 11% superior ao de 2012".
Com mais esse resultado positivo, a Petrobras segue firme com o seu plano de expansão da produção, com a intenção de dobrá-la até 2020. A notícia é considerada positiva por analistas, uma vez que representa um importante passo para que a Petrobras se consolide como uma das principais empresas globais.
Contudo, estes números expressivos de produção não se refletem no desempenho das ações da companhia na bolsa brasileira. Na véspera, as ações da companhia tiveram um novo dia de queda, com baixa de 2,16%, a R$ 12,71 para as ações ordinárias e de 2,21% para os ativos preferenciais, a R$ 13,29.
Com isso, os papéis registraram novo recorde de baixa, atingindo o menor patamar desde 29 de julho de 2005 para os ativos PETR3 e renovando o patamar mínimo desde 27 de dezembro de 2005 para as ações PETR4.
Mas por que esse movimento tão contraditório ocorre com a Petrobras? Conforme destacou o El País em matéria logo após a divulgação do resultado, o futuro promissor da petrolífera parece estar bastante distante do seu presente turbulento, com a estatal enfrentando uma espécie de "inferno astral".
"Não há dúvidas de que a Petrobras é 'brilhante' e que está construindo com esmero as bases do seu futuro, com inteligência e inovação", mas muitas dificuldades estão pelo seu caminho, apontou a reportagem.
E este movimento preocupante ocorre em meio ao cenário bastante desafiador para a petrolífera, conforme destacou até mesmo a presidente Graça Foster, durante teleconferência para a apresentação de resultados do quarto trimestre.
E os principais problemas residem no forte endividamento que a companhia possui, ressaltado por Foster, com a relação entre a dívida líquida e o patrimônio líquido passando de 34% para 39%, enquanto a relação entre a dívida líquida e o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) passou para 3,52 vezes, padrões estes acima do que a própria estatal vê como razoáveis.
Com isso, a meta da presidente é a redução da alavancagem financeira para os valores abaixo de 35% e 2,5 vezes no prazo máximo de 24 meses, de modo a manter o grau de investimento das agências internacionais.
E um dos pontos de destaque durante a teleconferência foi a menção de que tem esse compromisso de redução dos níveis de alavancagem "junto aos conselheiros", sendo bem enfática ao destacar que "os conselheiros precisam ver isso".
E esse é um dos pontos sensíveis em relação à estratégia de investimento da Petrobras, uma vez que o presidente do conselho de administração da companhia é o ministro da fazenda, Guido Mantega, e que a empresa é controlada pelo governo brasileiro.
Em novembro, foi marcante a discussão entre Graça Foster e Guido Mantega sobre o reajuste de combustíveis. Em carta da divulgação dos resultados do terceiro trimestre, Graça sinalizou que estava em aprovação uma nova metodologia de reajustes de combustíveis. As ações da companhia ganharam forças após o anúncio, uma vez que as sinalizações eram de que haveria uma maior previsibilidade nos ajustes de preços.
Mas o governo tentou frear as intenções da diretoria da estatal e maiores detalhes sobre a metodologia de reajuste não foram dados, o que voltou a causar incerteza em relação à estatal.
E o reajuste de combustíveis é um dos pontos cruciais para a redução do endividamento da companhia, uma vez que ela precisa fazer a importação de 300 mil barris diários para atender as necessidades do mercado, já que as refinarias têm capacidade de produção inferior à demanda.
O déficit financeiro da balança comercial de petróleo e derivados foi de US$ 14 bilhões em 2013, conforme destacou a ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis).
Além disso, a companhia se defronta com uma desconfiança do mercado em relação aos seus planos de negócios. Um dos fatores apontados pelos analistas é frente a estimativa do dólar, de R$ 2,23 no ano, bem abaixo da expectativa do próprio Banco Central, que trabalha com um dólar a R$ 2,40. E um real mais forte representa um ponto positivo para a Petrobras, dada as suas fortes importações.
Além disso, as investigações de contratos superfaturados com a construtora Odebrecht e de propina com a holandesa SBM mancham a imagem da petrolífera em um momento em que ela busca aumentar a sua eficiência e mostrar resultados após seis anos e meio da descoberta do pré-sal, que causou euforia.
Na época, o então presidente do Brasil, Lula, proclamou que o Brasil havia ganho o "bilhete premiado da loteria" e um "passaporte para o futuro". Logo depois acrescentou que "Deus havia dado ao Brasil recompensas que haveriam de impulsionar a modernização do país". Porém, os resultados demoram a chegar.
A grande questão continua
Conforme destacam boa parte dos analistas de mercado, os dados de produção da companhia podem apontar para recuperação em 2014. Os analistas do HSBC, Luiz Carvalho e Filipe Gouveia, esperam uma alta de 5,2% na produção em 2014. Porém, avaliam, este é o único fator que a estatal pode controlar.
Porém, a grande questão para a companhia continua, conforme apontaram os analistas do HSBC em relatório para comentar os resultados: "a questão para nós é se o governo vai deixar a gestão da Petrobras agir como qualquer uma das outras cinco maiores empresas de energia do mundo já fazem. Esperamos que um senso de urgência do governo vai permitir à empresa ajustar preços domésticos dos combustíveis do seu modo. A potencial divergência poderia significar um longa e pedregosa escadaria".
Conforme destacou o jornal El País, "o problema é combinar as necessidades do governo com a impaciência dos donos do dinheiro, que garantem a valorização das suas ações", destacou a reportagem. Neste sentido, o aumento dos preços da gasolina e diesel ganha uma importância "capital".
Por outro lado, essa medida sozinha pode ser insuficiente: a companhia também precisa vender mais ativos. Assim, a companhia enfrenta uma série de desafios para retomar a confiança do mercado. Mas o que mais limita os ganhos da companhia é o fato de que muito dos fatores impulsionadores dos papéis não dependem dela.
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