A líder do PCdoB na Câmara, Jandira Feghali (RJ), pediu à Polícia Federal que investigue os responsáveis pelas diversas ameaças de morte e estupro que ela e a deputada Manuela D’Ávila (PCdoB-RS) receberam, nos últimos dias, por email e redes sociais. Segundo a líder do partido, as duas se tornaram alvo de mensagens como “merece ser estuprada” e “vai levar tiro na cabeça” por causa das posições políticas que assumiram recentemente.
Em nome da bancada, Jandira é autora da representação encaminhada à
Procuradoria-Geral da República que pede a abertura de inquérito contra a
jornalista Rachel Sheherazade e o SBT por causa dos comentários da apresentadora sobre a ação dos chamados justiceiros no Rio
A deputada também pediu a suspensão da verba publicitária que o governo federal destina à emissora de Silvio Santos. Manuela D’Ávila já havia denunciado à PGR, na semana passada, ter recebido, pelo Twitter, ameaças de violência sexual após aderir à campanha “Nenhuma mulher merece ser estuprada”, iniciada após divulgação de pesquisa do Ipea sobre o assunto.
Ameaças anônimas
A assessoria da liderança do PCdoB informou que, apesar de a maioria
das mensagens ameaçadoras ser anônima, é possível constatar que várias
delas saíram do mesmo computador. “Querem ameaçar, que ameacem, mas que
tenham coragem de assumir a autoria e não se escondam atrás de ‘fakes’ (perfis falsos) cometendo crimes”, disse Jandira.
Ela levou as denúncias ontem (10) à sede da Polícia Federal, em
Brasília, acompanhada do deputado Delegado Protógenes (PCdoB-SP),
egresso da corporação, que também denunciou estar sofrendo ameaças de
morte. Protógenes também solicitou apuração do caso, que o deputado
relaciona à sua atuação no comando da Operação Satiagraha, em 2007.
A
operação acabou invalidada posteriormente pelo Superior Tribunal de
Justiça (STJ). Os pedidos de investigação foram recebidos pelo delegado
Hellan Wesley Almeida.
No Twitter, Jandira disse que os parlamentares do PCdoB são vítimas
de pessoas que não aprenderam a enfrentar o debate. “As trajetórias
políticas dos parlamentares do PCdoB não podem ser desvirtuadas por um
grupo que não consegue enfrentar o debate de ideias”, disse a deputada,
no Twitter. Ela ressaltou que a Constituição garante a liberdade de
expressão, mas veda o anonimato. “Os anônimos que aqui se perpetuam na
base da mentira e do ódio serão investigados e responderão na Justiça
por seus feitos”, acrescentou.
Ação orquestrada
Em entrevista ao Congresso em Foco, publicada no dia 21 de março, Jandira disse que havia uma “ação orquestrada”
na internet contra defensores dos direitos humanos. Na opinião dela, a
proliferação de comentários contrários à sua iniciativa de denunciar o
SBT e Sheherazade não era espontânea, nem se devia apenas às pessoas que
concordam com a apresentadora.
“Nós mesmos apagamos uma das mensagens, que era de muito baixo nível.
A pessoa respondeu: ‘Não adianta me apagar, pois tenho 200 perfis
fakes, meu IP (número que permite a identificação do computador) está na
Holanda. Não vão me identificar’. Ou seja, há uma ação orquestrada.
Orquestram fakes, com muito texto igual, as agressões são muito
parecidas”, contou a deputada.
Suspensão da verba
Como mostrou o Congresso em Foco, o governo federal estuda suspender a verba publicitária
que repassa ao SBT. Só em 2012, foram R$ 153 milhões, segundo a
Secretaria de Comunicação Social da Presidência.
A análise começou a ser
feita após pedido de Jandira Feghali ao ministro Thomas Traumann. A mesma solicitação foi feita por ela ao procurador-geral da República (PGR), Rodrigo Janot.
A deputada acusa a emissora de ter praticado apologia e incitação ao
crime, à tortura e ao linchamento ao exibir comentários de Rachel
Sheherazade que, segundo a parlamentar, exaltavam a ação de chamados
“justiceiros” no Rio de Janeiro contra um jovem de 16 anos, acusado de
furto.
Pressão política
Desde a semana passada, Rachel Sheherazade não apresenta o telejornal do SBT. Segundo o colunista Ricardo Feltrin,
do UOL, o afastamento está relacionado à ameaça do governo federal de
cortar a verba da emissora.
A jornalista diz que está de férias e volta
ao trabalho na próxima segunda-feira (14). Em entrevista à Folha de S. Paulo, a âncora disse que sofre tentativa de censura por meio de intimidação.
“Há uma pressão política muito forte para que eu seja calada. Psol e
PCdoB entraram com representações contra meu direito de opinião e tentam
cercear minha liberdade de expressão chantageando a emissora onde
trabalho”, disse à repórter Isabelle Moreira Lima.
Ministério Público
O procurador-geral da República disse ver com “muita preocupação o
caso”. Janot diz que só poderia falar em tese, pois ainda não viu as
imagens das declarações da jornalista e, por isso, não emitiria opinião
especificamente sobre o caso. Para ele, é preciso tomar cuidado para não
incorrer em censura aos veículos de comunicação, mas também é
necessário deixar claro que incitação à violência é crime e, como tal,
não se insere na liberdade de imprensa.
“Incitação é crime e não se insere na liberdade de imprensa. A
veiculação de práticas discriminatórias e de racismo, no meu
entendimento, também não se insere na liberdade de imprensa”,
acrescentou o procurador-geral em
entrevista exclusiva ao Congresso em Foco.
O comentário
Na edição do telejornal SBT Brasil (veja o vídeo),
do último dia 4 de fevereiro, Rachel disse que era “compreensível” a
ação de um grupo de pessoas que acorrentou a um poste um adolescente
acusado de furto no bairro do Flamengo, na Zona Sul do Rio. O jovem foi
acorrentado, nu, pelo pescoço com uma trava de bicicleta. Ele teve parte
da orelha cortada e só foi solto após a intervenção de uma moradora.
Para Rachel, a ação dos “justiceiros” se justifica por causa do clima
de insegurança nas ruas e da ausência de Estado. Ela também criticou a
atuação de militantes dos direitos humanos. “Faça um favor ao Brasil.
Leve um bandido para casa”, declarou. Dias depois de ser acorrentado e
solto, o adolescente foi detido novamente, desta vez por tentar assaltar
um turista na cidade. Até o mês passado, o menor acumulava três
passagens pela polícia.
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