Comentei aqui
uma entrevista esdrúxula do professor Wilson Cano no Valor, em que ele
demonstrava habitar um mundo diferente do meu, onde os males de nossa
economia não seriam fruto do excesso de intervenção estatal, mas sim do
“neoliberalismo” e da “retirada do estado” de cena. O título que dei foi
“A Unicamp é de qual planeta?”
Isso gerou muita revolta, por conta da
generalização. Confesso: forcei a barra. Claro que a declaração
estapafúrdia de um professor não compromete uma universidade inteira.
Mas tenho minhas justificativas, meus atenuantes. Não peguei um caso
totalmente isolado para manchar a reputação de uma universidade; peguei
um ícone, talvez mais caricato que a média, da mentalidade predominante
no campo de economia da Unicamp.
Discordam? Então é bom lembrar que
Aloizio Mercadante é mestre por lá, e defendeu sua tese de doutorado
justamente no Instituto de Economia da Unicamp. É pouco? Tudo bem:
Márcio Pochmann tem seu doutorado em Ciência Econômica pela Unicamp. Não
basta? Maria de Conceição Tavares é professora-titular da Unicamp.
Ainda querem mais? Luiz Gonzaga Belluzzo doutorou-se em Campinas e virou
professor-titular dela em 1986.
Eu poderia continuar, mas o leitor já entendeu meu ponto: a Unicamp é conhecida, na área econômica, por sua linha “desenvolvimentista“,
justamente esse modelo ultrapassado adotado pela presidente Dilma,
cujos fracassos os seus defensores tentam, agora, jogar no colo do
“neoliberalismo” (que piada!).
Portanto, fiz uma generalização sim, mas
não foi nada absurda, tampouco foi com base em um caso isolado. Pelo
visto, a carapuça serviu. Muitos doutrinados pelo “desenvolvimentismo”
ficaram revoltados e partiram para ofensas pessoais. Entendo: é o que
sabem fazer, já que lhes falta capacidade para argumentar e debater.
Que
caso de sucesso um desenvolvimentista tem para mostrar, afinal?
Nem todos ficaram revoltados. Alguns
alunos reconheceram meu ponto e até o reforçaram, confirmando que sua
universidade é tomada pelos “vermelhos”. Um deles escreveu:
Como
ex-aluno da Unicamp, é com muito pesar que escrevo para te informar que
“a Unicamp é vermelha”. Fui diretor do Centro Acadêmico Bernardo Sayão, o
CABS, da Faculdade de Engenharia Elétrica e aquela frase é praticamente
um mantra para todos os alunos que queiram se engajar nas atividades
extra-curriculares.
O DCE da Unicamp é completamente aparelhado pelo
PSOL e pelo PT (eles andam de mãozinha dada lá) e nenhuma chapa de
oposição ganha eleições por ali.
Os Centros Acadêmicos se submetem à
vontade política do DCE e só se envolvem em movimentações patrocinadas
pela ideologia socialista, como greves e invasões de reitoria à revelia
da vontade da maioria dos alunos, que é de estudar.
Outros, sem ter como contestar meu ponto,
tentaram ao menos alegar que há pluralidade. Como exemplo, citaram a
presença de José Serra na Unicamp! Isso mesmo, Serra, o mais esquerdista
dos tucanos, o mais “desenvolvimentista” do PSDB. Será que pensam que
Serra é um “neoliberal” também? Por Deus! Que país é esse?
Outras reações demonstram a pobreza
intelectual do país e, principalmente, da própria Unicamp. Alguns,
vítimas do que os psicanalistas chamam de “projeção”, afirmaram que
critiquei a universidade porque sou frustrado, por ter tentado entrar em
universidade pública sem sucesso. Quem tem apenas martelo acha que tudo
é prego. Essa gente, que vive só para concursos públicos, acha que
todos querem a mesma coisa na vida.
Não, meus caros doutrinados da Unicamp.
Eu jamais fiz vestibular para universidade pública e nunca, em minha
vida, prestei um só concurso para o estado. Fiz vestibular apenas para a
PUC, seguro de que entraria, e desejava trabalhar no ambiente
super-competitivo do mercado financeiro desde sempre.
A PUC, caso não
saibam, é aquela responsável em boa parte pelo Plano Real, que os
“desenvolvimentistas” da Unicamp condenavam. Maria de Conceição Tavares,
por outro lado, chorou de emoção na TV ao falar do Plano Cruzado…
Por fim, o maior retrato da falência
intelectual da nossa Academia: o foco no currículo Lattes, nada mais.
A
cultura do diploma, que ataquei em meu ensaio sobre a educação.
Um crítico veio, cheio de marra como se tivesse acabado de vez comigo,
dizer que o currículo Lattes de Wilson Cano é muito extenso, e que
procurou o meu, mas não encontrou nada. Uau! Santa humilhação, Batman!
Certa vez debati com um
“desenvolvimentista” aqui do Rio, de uma universidade pública também,
sobre cenário econômico.
O homem era só elogios ao governo Dilma, e eu
só críticas. Minha palestra pode ser vista aqui.
Esse mesmo economista, que aplaudia a gestão de Dilma quando os
problemas ainda não tinham aparecido, depois usou o mesmo Valor para
acusar o “neoliberalismo” pelo fracasso do governo. É como agem.
Para piorar, soube que ele se recusou a
participar de outro debate comigo depois, alegando que eu não tinha
doutorado! Ou seja, pro inferno com os argumentos, pois o que vale é o
maldito currículo! Nenhum “desenvolvimentista” da Unicamp, porém, por
mais extenso que seja seu currículo Lattes, tem um vídeo desses para
mostrar (veja acima)
Essa minha palestra foi proferida em
2010, no auge da euforia com o Brasil. Mas eu apontava para os pilares
de areia, e alertava que em 3 ou 5 anos o país poderia cair em uma
estagflação. A palestra foi vista mais de 240 mil vezes, mas arriscaria
dizer que nenhuma delas foi pelos “desenvolvimentistas” que preferem
ignorar os fatos para preservar a ideologia.
Concluindo, sei que até na Unicamp deve
haver um ou outro professor bom de economia. Mas minha generalização não
foi absurda. Trata-se de uma escola, em linhas gerais, muito equivocada
e ultrapassada.
Aos alunos de economia que lá estudam,
fica meu recado: leiam bons livros fora das aulas, do currículo oficial,
e aprendam a contestar as falácias de seus professores (doutrinadores)
com sólidos argumentos e fatos.
Caso contrário, não restará muita opção
no mercado de trabalho, e vocês terão de se contentar com algum cargo no
governo, se o Brasil for atrasado o suficiente a ponto de manter no poder essa turma que vem destruindo nossa economia.
Rodrigo Constantino
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