Moradores acusam construtora de vender favela incendiada como área de condomínio
Por
- iG São Paulo
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Fogo que destruiu 70 barracos atingiu cinco andares de uma das torres;
A produtora editorial Renata da Silva, de 25 anos,
está com quase tudo pronto para casar. O último detalhe é receber as
chaves do apartamento que ela financiou em 2012 e que deve receber em
novembro deste ano. Mas o sonho prestes a se realizar se converteu em um
pesadelo no final da tarde do dia 2 de abril, quando um incêndio reduziu a cinzas 70 barracos da Favela Aracati, na Penha, fincada em um terreno logo atrás do condomínio Way Penha, onde Renata vai morar.
O
incêndio não só deixou feridos e dezenas de famílias desalojadas como
atingiu cinco andares de um dos prédios do condomínio ainda em
construção. Irritada, Renata cogita processar a Construtora Living,
acusada pelos futuros condôminos de enganá-los: “A vendedora me garantiu
que aquela comunidade seria removida em breve porque parte do terreno
fazia parte do condomínio, como mostra a maquete.”
Leia também: Incêndio atinge favela na zona leste de SP
Em um e-mail trocado com a vendedora, e repassado ao iG,
a promessa de remoção da favela foi refeita depois do primeiro incêndio
que atingiu a comunidade, ainda em 2012. “Soube que teve um incêndio lá
e algumas famílias já foram embora.
Como uma parte vai ficar para dentro do condomínio, é certeza que serão todos retirados”, afirmou a vendedora, de nome Kalynka.
Como uma parte vai ficar para dentro do condomínio, é certeza que serão todos retirados”, afirmou a vendedora, de nome Kalynka.
Na maquete em exposição
durante a venda, o terreno da favela é um grande gramado verde com o
símbolo do condomínio. “Eles disseram que o terreno havia sido cedido
pela prefeitura, que na área ocupada seria feito um paisagismo, que o
pedido de desapropriação já estava feito e que antes de iniciar as obras
eles teriam que sair de lá”, se recorda a securitária Fernanda Miranda
(31), que pagou R$ 327 mil por sua unidade.
“Hoje eu moro com a minha tia. Comprei na Penha para ficar perto da minha família.”
“Hoje eu moro com a minha tia. Comprei na Penha para ficar perto da minha família.”
O taxista Gabriel Rocha Luz (28) se lembra da
promessa feita pelo “vendedor Cardoso” antes de decidir comprar o
apartamento 23 na torre 3: “Ele informou que seria pago um valor de R$ 5
mil a cada morador da favela além de um auxilio aluguel para a retirada
deles até o inicio das obras.”
Com o passar do tempo, no entanto,
as torres subiram, a favela cresceu e os compradores começaram a
pressionar a construtora. “Aí eles começaram a negar a informação que me
deram”, diz Renata.
“Acho muito fácil contar qualquer história para fazer a venda e depois lavar as mãos. Na maquete, no fundo à esquerda, note uma parte com muitas árvores. Quando a vendedora me mostrou, disse que essas árvores eram pertencentes à comunidade e fariam parte do nosso condomínio. Esse é o meu primeiro imóvel, não tive condições de avaliar as informações que me foram passadas de modo mais crítico. Fui induzida a erro.”
“Acho muito fácil contar qualquer história para fazer a venda e depois lavar as mãos. Na maquete, no fundo à esquerda, note uma parte com muitas árvores. Quando a vendedora me mostrou, disse que essas árvores eram pertencentes à comunidade e fariam parte do nosso condomínio. Esse é o meu primeiro imóvel, não tive condições de avaliar as informações que me foram passadas de modo mais crítico. Fui induzida a erro.”
O bancário Keiller Nascimento Coppi, de 26 anos,
confirma a acusação: “Procurei a construtora antes do incêndio e me
informaram que havia um processo aberto pela prefeitura para remoção da
favela.”
Segurança
Fernanda
diz que, além do engano, teme que novos incêndios atinjam o condomínio.
“Estamos falando de segurança. A Defesa Civil comunicou que, se o
prédio estivesse com morador, as consequências do incêndio teriam sido
muito maiores”. O fogo chegou ao quinto andar de uma das torres, que
terá de passar por adaptações. “A construtora informou que vai ter de
trocar a fachada, janelas, varandas e toda a fiação”, garante Renata.
Diante da situação, os condôminos se reuniram com a
subprefeitura da Penha na última segunda-feira (7). Na ocasião, o
subprefeito Miguel Perrella teria afirmado que não tem poderes para
impedir a construção de novos barracos, mas sugeriu que a construtora
pague um terreno para a prefeitura construir moradia aos desabrigados e
sugeriu um curso de brigada de incêndio aos futuros condôminos.
“Faltam
sete meses para a entrega das chaves e, assim como eu, muitos já
compraram seus móveis. Eu estou com planejados e eletrodomésticos
comprados e tenho prazo para retirada, não posso começar do zero
agora...”, lamenta Fernanda.
Procurada pelo iG, a
Subprefeitura da Penha não respondeu até o fechamento da reportagem. Já
a Construtora Living - do grupo Cyrela - “informa que a área vizinha ao
Way Penha é uma Área de Proteção Permanente (APP) e que não pertence ao
empreendimento. Esta foi a informação disponibilizada na maquete do
mesmo."
A Living lamenta pelas vitimas do incêndio ocorrido na última semana e afirma que esta disposta a contribuir com a melhor
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