Josias de Souza
O deputado gaúcho Beto Albuquerque, líder do PSB na Câmara, pagou na mesma moeda as ameaças e ironias que o presidente do Senado dirigiu ao seu partido e ao presidenciável Eduardo Campos. “O Renan Calheiros não tem moral para questionar nenhuma outra pessoa”, disse Beto ao blog. “O problema do Renan não é o PSB, mas a Petrobras, onde ele deixou digitais.”
Renan (PMDB-AL) olha de esguelha para o PSB desde o instante em que os senadores da legenda entregaram à oposição as assinaturas que colocaram em pé o pedido de CPI da Petrobras. Evoluiu do olhar atravessado para os ataques verbais depois que Rodrigo Rollemberg (DF), líder do PSB no Senado, adensou o movimento que matou a candidatura de Gim Argello (PTB-DF), um senador multiprocessado, a uma cadeira vitalícia de ministro do Tribunal de Contas da União.
Renan soou ameaçador ao defender que a CPI, na versão agigantada proposta pelo PT, vasculhe contratos do Ministério da Ciência e Tecnologia, pasta gerida por Campos no primeiro mandato de Lula, com a empresa Ideia Digital, que faz campanhas eleitorais para o PSB.
Ele indagou: “Ora, como é que o Congresso vai investigar a Petrobras, e eu acho que deve investigar, e não vai investigar o Metrô [de São Paulo], o Porto de Suape [de Recife], a corrupção que houve com dinheiro público no Ministério da Ciência e Tecnologia, que pagou inclusive marqueteiros nas campanhas eleitorais?''
Em nota, o PSB informou que, na gestão de Eduardo Campos, a pasta da Ciência e Tecnologia não contratou a empresa Ideia. Na conversa com o blog, Beto Albuquerque disse que o objetivo de Renan não é senão o de impedir que a Petrobras seja varejada numa CPI.
“Renan corre da CPI. E, ao correr, expõe as digitais”, disse o deputado, hoje um dos políticos mais próximos de Eduardo Campos. “Quem corre dessa CPI mostra as digitais deixadas na Petrobras. Não adianta vir furungar (remexer) coisas dos outros. Não tem base moral nem legitimidade para falar de ninguém.”
Renan é padrinho político do ex-parlamentar cearense Sérgio Machado. Ele comanda a Transpetro, braço naval da Petrobras, desde 2003. Preso na Operação Lava-Jato, o ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa tinha as costas esquentadas na Petrobras por PT, PMDB e PP. Outro ex-diretor, o recém-demitido Nestor Cerveró, fora indicado pelo PT do senador Delcídio Amaral e endossado pelo PMDB de Renan.
Noutra investida contra o PSB, Renan ironizou a iniciativa de Rodrigo Rollemberg, o líder da legenda no Senado, de articular com a oposição, como alternativa técnica à malograda indicação de Gim Argello, o nome de Fernando Moutinho Ramalho Bittencourt, um ex-auditor do próprio TCU. “Escolher um técnico foi um avanço do líder Rodrigo Rollemberg, porque da outra vez que ele fez uma indicação para o TCU foi da mãe de um governador'', disse Renan, entre risos.
Ele se referia à ex-deputada federal Ana Arraes, filha do ex-governador pernambucano Miguel Arraes e mãe de Eduardo Campos. Em articulação comandada pelo filho, Ana foi alçada a uma poltrona de ministra do TCU em 2011. Sob críticas da imprensa, o nome dela foi aprovado na Câmara e no Senado. Nessa época, Renan não fez reparos.
“Renan esqueceu do que houve em junho do ano passado”, disse Beto Albuquer. “Eu me lembro muito bem o que se gritava nas ruas: ‘Fora, Renan’. Isso não está mais nas ruas, mas no sofá da sala de todo mundo não se ouve outra coisa. Em vem querer nos investigar? Ora, francamente. Insisto: o problema do Renan não é o PSB. O problema dele é a Petrobras.”
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