Progressistas estão tremendo diante da "moda reaça" - mas nada está mais na moda do que ser anti-reaça. Só há um problema: nenhum progressista sabe o que ser "reacionário" significa.
Gregório Duvivier escreveu nesta semana
um artigo na Folha chamado “Moda Reaça”, explicando como deve ser o
vestuário dos “reacionários”. Segundo Duvivier, o vestuário reaça é
farda verde-oliva do vovô com manchas de sangue, e é preciso ser branco,
heterossexual, católico e rico para ser “reaça”.
Por sorte, a Folha explica que Gregório
Duvivier merece nos brindar com suas imprescindíveis opiniões por criar o
canal de “humor” Porta dos Fundos.
Eu sou especialista em cultura trash,
vi todas as temporadas de Beavis & Butt-Head, fiz minha formação
moral com Chiclete com Banana, estudo e anoto todos os palavrões que
possa aprender com Californication, Angry Video Game Nerd e Olavo Pascucci.
Mas eu nunca sei o que são essas coisas como “Porta dos Fundos”,
“Malhação”, revista “Contigo” ou artigo do Vladimir Safatle. Isso não é
cultura junkie, é o rebotalho da decadência, é platitude para
as massas abobalhadas, é palpitaria de shopping, é revolta a favor, é
Danoninho pra marmanjo com síndrome de Peter Pan no DCE.
Felizmente a Folha ao menos nos explica
por que estamos enfrentando a opinião de alguém tão nitidamente inábil
para lidar com o objeto de seu texto. Basta criar um portal de “humor”, o
Zorra Total do Youtube, os Teletubbies para gente crescida e voilà, eis a sua coluna semanal na Folha.
De acordo com Gregório Duvivier, a moda
“reaça” que descreve é “o último grito do outono fascistão”. O “reaça” é
um cara que “se algum viado der em cima dele, ele atira na testa”, mas
“transa com travesti” e depois “enche a bicha (sic) de
porrada”. É alguém que freqüenta igreja de padre “homofóbico e racista”.
A mulher reaça é a que critica periguetes, e quer proibir gorda de sair
na rua.
Todos são saudosistas da ditadura e
fazem encontro no DOI-Codi – aquele lugar que hoje abriga um memorial da
ditadura, por onde Yoani Sánchez passou logo após ser achincalhada por
saudosistas da ditadura totalitária cubana, dessa vez sem ser agredida
por nenhum jovem “revoluça”, já que ficaria ridículo tentar associar a
blogueira dissidente cubana ao mal, quando ela critica todas as ditaduras – e não apenas a menos pior delas. Segundo Gregório Duvivier, o “reaça” anda sempre com soco inglês por aí.
Chegaria a ser engraçado (pela primeira
vez na vida de Gregório Duvivier, que nunca conseguiu fazer gente muito
inteligente rir) imaginar que ele sabe do que está falando, ao invés de
misturar uma carrada de clichês que, ironicamente, estão mais em moda
agora do que em 68 – falta pouco pra ele e sua turma se considerarem
“proletários”, já que o “sindicato” está cada vez mais sendo trocado
pelo poder direto do Estado, com seus Marcos Civis e leis criando
privilégios específicos a uns nomeados às custas dos outros.
A moda, na verdade, é chamar tudo o que não atenda à sua exigência de pensamento único de “reaça”.
Nada é mais modinha do que isso – sobretudo, na falta de encontrar um
“ismo” pra chamar de seu, simplesmente se consideram “progressistas”, já
que o Grande Ismo, a ideologia do comunismo – que chamava tudo o que
não fosse comunista, justamente, de “ideologia” – saiu de moda, mesmo
entre aqueles que não sabem o horror supremo que é Stalin, Holodomor, kolkhoz ou o Gulag. Basta agora ser “de esquerda”.
Na prática, defendendo o mesmo que Mao
Zedong em sua Revolução Cultural ou Nicolae Ceaușescu e Kim Il-sung com o
“socialismo Juche”, ou Walter Ulbricht com o Muro de Berlim (o “muro
antifascista”).
A técnica é simples, qualquer
adolescente pereba com preguiça de ler livros de mil páginas sobre esses
países distantes consegue aprender: basta chamar aquilo que não for
“progressista” e aderente ao pensamento único do Partido no poder de
“reaça”, e com toda a sorte de contradições, associar tudo aquilo que
for ruim ao “reacionário”: fascismo, racismo, ditadura, homofobia, soco
inglês (como se sabe, só comprado por senhoras católicas na Galeria do
Rock, nunca por punks black blocs ou invasores de reitoria da USP).
Reacionários, para quem estuda e
pesquisa antes de vomitar achismos e opiniões inventadas de estro
próprio por aí, são o exato oposto de tudo isso. Os reacionários são
aqueles que, ao ver um problema social, desconfiam da solução
“revolucionária” de plantão (aumentar o poder do Estado para que ele
corrija/proíba/financie) e, imaginando como as coisas reagem,
se posicionam contra a concentração de poder nas mãos de uns poucos
bem-iluminados que, supostamente, podem “corrigir” o problema.
Reacionários são os caras que desconfiam de políticos.
Por
isso, os reacionários eram considerados os inimigos das “revoluções” –
esta palavra que soa tão agradável a ouvidos desacostumados com a
História, que não percebem que toda “Revolução” contra tudo o que está
aí resultou no poder absoluto nas mãos de um tirano que simbolizava o
pensamento único: a Revolução Francesa decai em Napoleão Bonaparte
depois do Terror, a Revolução Russa faz o poder do tsar parecer
minúsculo perto de Lenin, Stalin, Kruschev, Andropov e afins, a
Revolução Chinesa põe no poder Mao Zedong, que mata sozinho, por métodos
que vão do fuzilamento à fome, mais de 70 milhões de pessoas, a
Revolução Iraniana, idolatrada por Michel Foucault (que era gay),
transforma o ocidentalizado Irã no totalitarismo fechadíssimo de
Rūḥollāh Khomeini que enforca gays em praça pública. Todos estes tiranos
odiavam os “reacionários” que avisaram: “não faça revolução, vai dar
merda…”
Não é engraçado como grandes “pensadores” comunistas, como Idelber Avelar, odeiam que
se chame o golpe militar brasileiro de 1964 de “Revolução”? Deveriam
era SÓ chamar o golpe de Revolução – também gerou uma concentração de
poder e perseguição estatal aos inimigos, não? Revolução de 64, that’s what it is.
Não por outra razão, os “reacionários”
eram cantados como alvo de ódio pelos hinos dos dois maiores
totalitarismos da história mundial, a Internacional Socialista e o hino
nazista, a Canção de Horst-Wessel („Kameraden, die Rotfront und Reaktion erschossen”).
“Reacionário” era o epíteto dado aos inimigos dos revolucionários, que
queriam o poder total (a marca da era moderna) para “corrigir” a
sociedade. Reacionário foi quem se opôs a Lenin, a Mao, a Hitler, a
Mussolini, a Khomeini, a Fidel, a Milošević, a Saddam, a Kadafi, a
Mugabe, a Kim Il-sung – foram os refratários ao reformismo social pela
tirania estatal.
Tem como se ofender com alguém nos
chamando de “reacionários” por isso? Tem como não notar a contradição
brutal em chamar alguém de reacionário e fascista ao mesmo tempo, quando um era inimigo mortal do outro a ponto de ser cantado como alvo de ódio até no hino nacional e internacional?
Reacionários são os caras que desconfiam
dos corações bem intencionados, das cabeças com pouca leitura e dos
ânimos exaltadíssimos dos revolucionários por saberem que essas coisas
não têm bom resultado. São os chatos que dizem que “protesto” sem foco
termina invariavelmente em black bloc matando inocente na rua. Não
descobre isso por “preconceito”, e sim por conhecer a história: são os
caras que chamam a Revolução Russa de “Revolução”, e também o golpe
militar de “Revolução” sem apoiar nenhum dos dois pelo mesmo motivo:
terminam em concentração de poder, tirania e repressão aos
“anti-revolucionários”. Você já ouviu falar em repressão
“anti-reacionária”? Nem eu.
Já o revolucionário acha que os expurgos
stalinistas e as mortes de fome em fazendas coletivizadas foram apenas
uma festinha que fugiu do controle – ou, caso seja na coletivização de
fazendas do Zimbábue pelo socialista Robert Mugabe, amigo de Hugo
Chávez, ainda posta foto de africanos morrendo de fome dizendo que é
isso que o capitalismo, o livre mercado e a propriedade privada fazem.
O reacionário descobre como as coisas reagem porque pensa como um dos homens mais inteligentes da humanidade, G. K. Chesterton: em seu ensaio The Superstition of School,
Chesterton explica que não é esperado que os homens “velhos” sejam
reacionários, mas que, com a experiência, saibam que as coisas reajam e
como reagem - ao contrário do furor revolucionário, que crê
religiosamente que o mundo será moldado passivamente com as suas boas
intenções.
Se um homem atira num coelho, num velho ou num rei, deve
esperar reações dessa ação. É a experiência que faz com que o
homem tenha expectativa pelo tranco do revólver antes mesmo de puxar o
gatilho em cada um desses de novo para saber o que acontece.
É por isso que David Hume, o cético que é maior expoente do empirismo, lembra que as doutrinas e tradições são conhecimento,
e não precisamos atirar nós mesmos em um coelho, um velho ou um rei
para descobrir as conseqüências. É por isso que conservadores olham para
o passado: para não precisar seguir caminhos que os antigos já sabiam
que dariam errado no futuro.
É por isso que os conservadores conservam
tradições e lêem livros antigos, de Platão a Montaigne, de Shakespeare a
Solzhenitsyn – o revolucionário, por outro lado, acredita que suas boas
intenções bastam para “consertar” o mundo, sem esperar nenhuma reação
da dura realidade.
G. K. Chesterton nos ensina que o homem que acumula a sabedoria das reações não perde ideais, como os jovens costumam crer que os velhos perderam seus sonhos. Pelo contrário: o socialismo ideal, o capitalismo ideal ou qualquer Utopia, mantida pura no mundo das idéias, hagiograficamente virginal ao contato com a realidade, continua sendo sempre ideal. O problema é o real: como é um regime de “reforma agrária” com fazendas e fábricas coletivas na realidade,
como é a vida livre da “burguesia” em um mundo real em que cada
“burguês” desaparecido é mais um cadáver em uma pilha monstruosa.
Ser reacionário é saber como as coisas
reagem. É ter um saber que prevê reações antes mesmo de elas ocorrerem. É
o homem que vê conseqüências imprevistas onde o afobado vê motivo para
exaltação e ânimo em marcha acelerada. É o homem que, como Prometeu no
mito, o primeiro reacionário, vê o mal antes mesmo de ele ocorrer.
É,
enfim, o homem que não nasceu ontem, que não é seduzido por discursos
maviosos de quem quer melhorar o mundo sob mandos da concentração de
poder e da proibição do que não gostam e do subsídio ao que gostam. Como
se ofender em ser reacionário?
Como setencia Nicolás Gómez Dávila, “El reaccionario auténtico no parte de ideas políticas reaccionarias. A veces llega a ellas.” Quantos,
após estudar o que pensam os “reacionários” (e não os lugares-comuns
inventados pela própria esquerda), chegaram à conclusão de que o melhor é
ser de esquerda?
Você pode reunir toda a esquerda brasileira – Marilena Chaui,
Emir Sader, Luiz Flávio Gomes, Leonardo Sakamoto, Cynara Menezes,
Brizola Neto, Antônio Cândido, Chico Buarque, Antônio Abujamra, Lola
Aronovich, Paulo Henrique Amorim, Luiz Carlos Azenha, Paulo Arantes, PC
Siqueira, Alex Castro, Tico Santa Cruz, Luís Nassif, Túlio Vianna, Mino
Carta, José Dirceu, Antônio Palocci ou os assassinos de Celso Daniel e
Toninho do PT e perguntar o que já estudaram das obras dos maiores
intelectuais da direita “reaça” que povoaram o século: Edmund Burke,
Russell Kirk, Thomas Sowell, Eric Voegelin, Bernard Lonergan, Roger
Scruton, Ludwig von Mises, Erik von Kuehnelt-Leddihn, Ortega y Gasset,
Alain Peyrefitte, Anne Applebaum, Roger Kimball, Alain Besançon, Lionel
Trilling, Paul Johnson, David Pryce-Jones, Vicente Ferreira da Silva,
Theodor Dalrymple, T. S. Eliot, Rosenstock-Huessy, Michael
Oakeshott, Irving Babbitt, Ellis Sandoz, Vladimir Bukovsky, Vladimir
Tismăneanu, Matei Visniec.
A chance de todos eles somados terem estudado
5% das obras mais básicas sobre teoria política “reacionária” é menor
do que 1%.
Gregório Duvivier, tentando bancar o
cientista político como se fosse Hannah Arendt rediviva, acredita na
modinha irrefletida de que reacionários são “saudosistas da ditadura” só
porque fazem marcha comemorando a deposição de um dos piores
presidentes que o país teve, João Goulart – sem conhecer história e sem
saber que o que a Marcha da Família com Deus pela Liberdade original
queria eleição no ano seguinte, e os militares, após tomarem o poder sob
aplausos populares, traíram essa população, que queria o monumental
Carlos Lacerda no poder, e só houve eleição livre dali a 21 anos (erro
em que muitos jovens “reaças” também caem).
Basta ver os países admirados pelos
“reaças” pra ver se algum deles é uma ditadura militar: a Alemanha de
Konrad Adenauer, a Polônia de Lech Wałęsa, a República Checa de Václav
Havel, a Inglaterra de Margaret Thatcher, a América de Ronald Reagan.
Qual destes países-modelos para os reacionários é uma ditadura, ainda
mais uma ditadura militar?
Que
tal comparar com o que a esquerda bondosa defende? Cuba, Coréia do
Norte, União Soviética, China, Camboja (aquele país em que Noam Chomsky,
no New York Times, afirmava que Pol-Pot só tinha matado “um milhar ou
outro” de “traidores”, totalizando 24% da população), Irã, os infernais
totalitarismos islâmicos que são “coitadinhos” contra Israel (o Egito, a
Líbia e a Síria ficam em posição estranha, já que são “vítimas” de
Israel, ao mesmo tempo em que a esquerda comemora quando o povo derruba
seus líderes na Primavera Árabe), Venezuela, Iraque, Peru… qual desses, stricto sensu, NÃO É uma ditadura militar?
Vários dos grandes reacionários
brasileiros, como o brilhantíssimo filósofo Mário Ferreira dos Santos ou
o crítico literário Otto Maria Carpeaux, autor da maior História da
Literatura do mundo, morreram vociferando contra o golpe de 64 e seu
obscurantismo.
Todavia, Gregório Duvivier, que da
história só sabe que “a direita reacionária apoiou o golpe” contra
Jango, crê que por isso o que reacionários querem é abolir a república e
instaurar uma ditadura que fez de tudo e mais um pouco contrários ao
que os reacionários pregam. Crê religiosamente que preferir que os
militares derrubassem Goulart a transformar o Brasil em Cuba é ter
“farda suja de sangue” – graças à ditadura militar brasileira legar 424
mortos em 21 anos. E que tal dizer que aqueles que queriam instaurar o
comunismo cubano nestas paragens têm “roupas sujas de sangue”? Vários
pegaram em armas – e mataram! – em nome de uma ditadura que matou 73 mil
pessoas em 48 anos, com um único “presidente” depois trocado pelo seu
IRMÃO sem consulta popular.
Por que os “não-reacionários”, os
ex-guerrilheiros que juram que lutavam pela “democracia” da ditadura do
proletariado, não têm as roupas “sujas de sangue”? Por que a esquerda
agora sempre apela para o discurso de “não apóio nenhuma ditadura”, mas
entre uma ditadura que matou 424 pessoas (a maioria absoluta de armas em
punho para instaurar uma ditadura pior) e outra que matou 73 mil e
continua matando, critica quem “preferiu”, na falta de opção melhor, a
menos assassina?
Por que não diz, afinal, que graças aos militares, apesar de todas as mortes e o estrago, ao menos ainda não somos Cuba? O motivo é óbvio: a esquerda é comunista, e não existe esquerdista que não é comunista. Ele só tem vergonha de admitir que é essa coisa antiquada: comunista.
Se é para ver as mãos “sujas de sangue”,
que tal comparar os escritos dos reacionários e daqueles que tratam
reacionários como inimigos? Vejamos algumas frases de Che Guevara, líder
revolucionário que odiava negros, gays, judeus, proibiu o rock e
cabelos compridos, queimou livros, instituiu o trabalho escravo (fora o
próprio paredón, matando em um ano, sozinho, mais do que toda a ditadura militar brasileira em duas décadas):
Enlouquecido com fúria irei manchar meu rifle de vermelho ao abater qualquer inimigo que caia em minhas mãos! Minhas narinas se dilatam ao saborear o odor acre de pólvora e sangue. Com as mortes de meus inimigos eu preparo meu ser para a luta sagrada e me junto ao proletariado triunfante com um uivo bestial.
“Não posso ser amigo de quem não compartilha das mesmas idéias que eu”.
“Adoro o ódio eficaz que faz do homem uma violenta, seletiva e fria máquina de matar”.
Ou seu discurso ovacionado na ONU:
Agora as palavras de um reacionário, o
nobre Erik von Kuehnelt-Leddihn, homem de conhecimento enciclopédico
capaz de ler em mais de 20 línguas e, como bom reacionário austríaco, um
fugitivo do nazismo, em seu O Credo do Reacionário:
Como um reacionário honesto, eu naturalmente rejeito o Nazismo, Comunismo, Fascismo e todas as ideologias relacionadas que são, de fato, um reductio ad absurdum da chamada democracia e do “povo no poder”. Eu rejeito os pressupostos absurdos do governo da maioria, do parlamento hocus-pocus, o falso liberalismo materialista da Escola de Manchester e o falso conservadorismo dos grandes banqueiros e industrialistas. Eu abomino o centralismo e a uniformidade da vida em rebanho, o espírito estúpido racista, o capitalismo privado, bem como o capitalismo de estado (socialismo) que contribuíram para a ruína gradual da nossa civilização nos últimos dois séculos. O verdadeiro reacionário desses dias é um rebelde contra os pressupostos prevalecentes e um “radical” que vai até as raízes.
Tem como se ofender em ser chamado de “reacionário”?
Os “formadores de opinião” brasileiros,
que desconhecem do séc. XX até mesmo a vida de Stalin ou o mundo além da
Cortina de Ferro, acreditando que lá era um reino encantado para onde
as pessoas boas vão depois que morrem, usam a própria ignorância como
régua para definir o mundo e a moral. Gregório Duvivier não é causa, mas
conseqüência da ditadura de pensamento único que se implanta no país.
E, claro, perceber essa platificação de pensamento é ser um
“extremista”, já que a ditadura de pensamento único não permite, por
definição, pensamentos discordantes.
Trata-se de uma estratégia para definir limites do que é permitido pensar.
Estar um pouquinho à direita da extrema-esquerda já te torna um “reaça”
– basta ler como a feminista ultra-radical Lola Aronovich chama tudo o
que não seja planificação totalitária, socialismo acachapante e
concentração total de poder no Estado de “reaça”.
De conservadores
liberais a feministas libertárias, tudo é “reaça”. Integralmente incapaz
de estudar obras de ciência política conservadora, basta rotular o alvo
de “reaça” e todo o enxame de abelhas assassinas de su@s (como fazer
isso com @? s@us? su@s?) leitor@s voa em cima do alvo sem precisar
entender o que ele pensa.
A isso se chama hoje “pensamento
crítico”, “livre pensar” ou “pensar com a própria cabeça”. É a
uniformidade da vida em rebanho, o coletivismo bovinóide, o cult of the sameness tão combatido pelo reacionário Kuehnelt-Leddihn.
Assim como apóiam ditaduras militares e
acusam os reacionários de serem saudosistas da ditadura, serem modistas e
afirmarem que estão denunciando uma moda, serem sedizentes “críticos” e
abraçarem irrefletidamente qualquer -ismo do momento, imputam
pensamentos nojentos a seus adversários e admiram quem os leva a cabo, o
anti-reaça da última moda também adora defender a “diversidade”, ao
mesmo tempo em que odeia toda forma de “desigualdade”, nunca percebendo a
contradição brutal no núcleo de sua crença fanática.
Os reacionários não seguem um bloco de
pensamento fechado, como crêem e evangelizadoramente querem fazer crer
Gregório Duvivier e outros seguidores do pensamento único hegemônico
sendo instaurado no Brasil. Kuehnelt-Leddihn, Chesterton, Xavier Zubiri,
Miriam Joseph, Mário Ferreira dos Santos, Olavo de Carvalho são
pensadores católicos.
O grosso dos “reaças” americanos, por óbvio, são
protestantes. Alguns, judeus (essa turma que foi vítima do nazismo e que
a esquerda odeia pelo mesmo motivo, mas jura que o nacional-socialismo
nada tem a ver com socialismo): Dennis Prager, Ben Shapiro, Mark Levin,
Michael Medved. Outros são muçulmanos, como René Guénon, Frithjof Schuon
ou Hossein Nasr. Alguns são ateus, como S. E. Cupp, P. J. O’Rourke, H.
L. Mencken, Jillian Becker.
Foi
assim durante toda a história, para quem conhece os fatos antes de
engolir o supositório de idéias e disparar a metralhadora da cagação de
regra: Eric Voegelin, que não parecia acreditar na transcendência, a
defendeu por ser a origem da ordem política e da moral social. René
Girard já via no mito bíblico, de Caim a Jesus Cristo, o cerne da
sociedade que não precisa mais de “sacrifícios” para se purgar, vendo a
realidade do cristianismo tão fortemente quanto teólogos como Bernard
Lonergan.
Mircea Eliade via na esquerda não mais do que tentativas de
reviver Cião através de mentiras, sendo o mais importante mitólogo do
mundo. Já Emil Cioran, que viu o socialismo juche na sua própria pele,
odiava a Deus e o mundo (literalmente para ambos), tal como se vê no
reacionarismo furioso de Arthur Schopenhauer ou no materialismo total de
Ayn Rand.
Ser “reaça” é defender o individualismo e
a responsabilidade individual perante o coletivo – por óbvio, portanto,
que eles discordem bastante entre si. Ronald Reagan era a favor de
anistia para imigrantes ilegais. William F. Buclkey Jr. era a favor da
legalização das drogas (como o são todos os “libertários”). Barry
Goldwater era a favor da descriminalização do aborto. Ser “reaça” é
defender a liberdade de pensamento individual – por exemplo, alguém não
defender o casamento gay porque acredita que o casamento é instituição
de formação da sociedade, e acredita que não se deve tratar como
“casamento” uma união que não é formação de família.
Já ser de esquerda, sim, é pensar em
bloco: se você é de esquerda, obrigatoriamente tem de ter as mesmas
opiniões do coletivo sobre aborto, casamento gay, drogas etc da
patotinha.
Discordar em um ponto é “preconceito obscurantista”. Sempre
que alguém apresenta argumentos contra o pensamento único dos
“anti-reaças”, os rebanhistas imediatamente dizem que são pessoas
poderosas e malévolas querendo defender os seus “privilégios”: o reaça,
seja no artigo “Moda Reaça” de Gregório Duvivier, seja em “A Vida dos
reaças” de Murilo Silva, no site Fora de Foco, seja em “Como se vestir
como um direitista”, na revista Vice, é sempre retratado como branco,
rico, heterossexual e católico.
Para não encarar a profundidade
absolutíssima das filosofias de Eric Voegelin, Louis Lavelle ou Bernard
Lonergan, dizem que o reaça é o “Almeidinha” ou o “Ricardinho” – o que
trai a verdade latente, já que “reaças” costumam é vir das classes
baixas (tão defendidos por G. K. Chesterton), enquanto é raríssimo ver
um esquerdista sem um sobrenome como “Salvatti” ou “Hoffmann”.
Thomas
Sowell, Walter Williams, Herman Cain, E.W. Jackson são negros (tal como
Martin Luther King pai, que era um devoto cristão odiador do Partido
Comunista). Russell Kirk, ostentador de 12 doutorados honoris causa,
veio da pobreza – tal como Eric Voegelin, que foi aprender os
hieróglifos egípcios para entender a ordem política grega e sua
correlação de crise alexandrina com a crise medieval e o gnosticismo
político de Marx a Hitler, chegou a passar fome para poder estudar.
Thomas Sowell vivia tão enfurnado na comunidade negra que até anos
avançados de sua infância não sabia que amarelo poderia ser uma cor de
cabelo. Andrew Sullivan é gay, tal como Robert Bauman, Michael
Huffington ou nosso Guy Franco (e como não lembrar daquele propaganda da campanha eleitoral de Marta Suplicy perguntando se Kassab é casado e tem filhos?).
Quer ver um direitista pobre? Fale
com Marco Mattei, gari italiano que vivia com a família num subúrbio e
teve o apartamento no terceiro andar incendiado por Achille Lollo, da
organização terrorista de extrema-esquerda Potere Operaio (dá
pra ver como gostam das classes baixas). No incêndio, um dos seis filhos
de Mattei ficou preso no quarto, enquanto duas filhas pulavam pelo
balcão. Um filho resolveu voltar para tentar salvar o irmão menor e
ambos morreram abraçados e carbonizados.
O caso ficou conhecido como “Rogo di Primavalle”
(incêndio de Primavelle) na Itália. Achille Lollo fugiu para a Argélia e
depois para o Brasil, onde foi um dos fundadores do PSOL, junto com
Heloísa Helena. Outro terrorista italiano fugitivo, o mais conhecido
Cesare Battisti, também fugiu após assassinar quatro pessoas, entre elas
um carcereiro (que não deve ganhar muito).
Quem são os “ricos brancos
heterossexuais católicos” Almeidinhas, se não os ricaços da esquerda
caviar como Gregório Duvivier? Quem é que usa “soco inglês” e “enche de
porrada” quem discorda deles por aí?
Quem é preconceituoso e vive de senso
comum? Quem segue modinhas e quem é crítico? Quem é paranóico e quem vê a
realidade do pensamento único? Quem defende planificação e ditadura e
quem luta contra isso em prol da diversidade?
No desespero, além de falar em “soco
inglês”, também pode-se apelar para “direitistas” extremistas –
sobretudo o ultra-nacionalista norueguês Anders Breivik, que assassinou
77 pessoas em um único dia, sobretudo atirando em um acampamento para
jovens do Partido Trabalhista norueguês.
Breivik foi repudiado pelos
nazistas noruegueses, como Vark Vikernes (“não é matando a juventude com
o nosso sangue que vamos fazer algo!”) e, claro, por TODOS os
reacionários NO MUNDO.
Você já viu algum “reaça” por aí usando
Breivik como exemplo, herói, norte moral ou ideal de ação política?
Agora você já viu algum esquerdista com camiseta de Che Guevara, alguém
se dizendo “socialista morena”, alguém achando bonito fazer “bloco
soviético”, ou dizendo que o problema é o socialismo “real” (não diga!)?
O que querem é associar todos os
não-comunistas com o único extremista sem amigos que encontram – assim,
não aderir ao pensamento único hegemônico da esquerda tão bondosa é ser
um extremista com “manchas de sangue” na roupa do armário.
É
o moralismo capenga do progressismo: define-se limites para o que pode
ser pensado, através de conceitos pedestres: associa-se fascismo à
“extrema-direita” (termo que os fascistas nunca usaram para se
auto-definirem), diz-se que então os progressistas são opositores do
fascismo e da direita, ao mesmo tempo em que também odeiam judeus e Israel (bar mitzvah é
considerado “reaça” demais em um dos textos), e detestam o liberalismo e
o capitalismo, dizendo que quanto mais liberal, mais é “reaça” e de
direita, crendo que extrema-direita é a hiper-privatização, ao mesmo tempo em que a vida dissociada do Estado é associada com o fascismo Tutto nello Stato, niente al di fuori dello Stato, nulla contro lo Stato - e
se você aponta qualquer contradição nisso, você é que não sabe brincar
com esses conceitos chulé, você que é fanático obscurantista, você que
não conhece a complexa realidade da mentalidade esquerdista – tão bem
descrita por Lionel Trilling em seu clássico The LIberal Imagination.
Assim se cria a conceitofobia, o
medo primevo e brutal de conceitos mais sólidos do que o lugar-comum da
linguagem banal do dia-a-dia, conceitos que vão além dos limites do que
é permitido pensar e do que é anátema, pecaminoso, sujo, proibido.
É a “fé metástica” de que nos fala Eric Voegelin: a fé que odeia a realidade, tendo mais amor pela opinião (filodoxia) do que amor ao saber (filosofia)
e que quer reformar toda a estrutura da realidade – para tal, não pode
senão repudiar a realidade com medo dela, achando-se por isso “crítico”
do que é simplesmente verdadeiro.
Cria-se a resposta fácil para tudo: “sou
crítico porque não leio revista Veja, não leio Reinaldo Azevedo, não
leio Rodrigo Constantino e não leio Olavo de Carvalho”, já que ler algo
do qual se discorda certamente causará câncer radioativo, e não se deve
se misturar com essas coisas horrendas da direita reacionária nem por
brincadeira – vai que alguém se torne minimamente mais reaça ao inventar
de ler a Teoria dos Quatro Discursos aristotélicos do Olavo, os
horrores e malversações públicas denunciados n’O País dos Petralhas de
Reinaldo ou a ridicularização da Esquerda Caviar por Constantino?
Não, é
preciso passar longe e associá-los sempre ao pior, ter medo de encostar
na capa dos livros e virar pó (o que nenhum reaça faz com livros de
esquerda) – uma velhinha fanática religiosa queimando os discos do AC/DC
do filho não conseguiria fanatismo maior.
Hello-o, companheirada! Nós já
conhecemos essa logorréia repetitiva da esquerda! Nós já cansamos de
Chomsky, Foucault, Sartre, Deleuze, Dworkin, Adorno, Gramsci, Alinsky,
Habermas, Rorty e Butler! Nós não somos de esquerda porque estamos mal
informados da realidade: vocês é que têm ódio dos reaças por só lerem
preconceito contra eles – e nunca eles próprios!
Conclusão intempestiva
Como se vê, ser reacionário exige
experiência, conhecimento de causalidade, a “prudência” na política que
nos pedem de Aristóteles a Russell Kirk – aquele cara que tentou elencar
Dez livros conservadores pra serem lidos, já que ser conservador exige uma vida de leituras, e não apenas macaquear um Das Kapital ou
algum livrinho com pretensão de reunir todo o conhecimento da
humanidade, do Céu e da Terra em alguns princípios gerais a serem
repetidos bovinamente pelos rebanhistas de plantão (total destes livros
lidos por formadores de opinião, professores universitários, jornalistas
que falam de política 25 horas por dia e boçais da palpitaria política
nas colunas sociais do Brasil: zero).
Ser “reaça” é apenas saber das coisas, e
não querer moldar os outros conforme a sua imagem e semelhança – o que
fazem de Lenin com suas fazendas coletivas a Kim Jong-un exigindo o
mesmo corte de cabelo para toda a Coréia do Norte (ou Pol-Pot, mandando
ser morto por crocodilos quem fosse alfabetizado ou usasse óculos). Ser
reaça é ser contra aqueles regimes onde você pode sair fuzilando quem
discorda de você.
Mas eu não me incomodaria se Gregório
Duvivier me xingasse de alguma coisa séria. Me chamar de idiota, bobo,
cara de melão – ou, como o modismo do pensamento único agora exige, de
coxinha, de fascista, de extremista, de olavete. Isso, partindo de um
cara cuja obra intelectual mais profunda é o Zorra Total do Youtube só
pode significar que estou incomodando as pessoas certas.
Quando Marilena Chaui chama a classe média de “fascista”, de “reacionária”, de “terrorista” (sic), ela só recai naquilo que Ben Shapiro afirma sobre os valentões, os bullies da
esquerda americana: não faz sentido chamar um membro da KKK
(esquerdista, ao contrário do que dizem) de “racista”, nem um figurão da
Waffen SS de “nazista” tentando ofendê-los. Isso é o que eles são.
A esquerda chama todo mundo de quem
discorda de “racista”, de “homofóbico”, de “fascista” justamente porque
sabe que os xingados odeiam racismo, homofobia,
fascismo – e se calarão quando tiverem sua opinião associada a estas
coisas das quais têm nojo mortal (vide Kuehnelt-Leddihn acima). Se
fossem de fato racistas, homofóbicos ou fascistas as pessoas
simplesmente diriam “Sim” e continuariam na mesma. Não é o que a
esquerda planeja.
O problema mesmo é Gregório Duvivier
querer me ofender me chamando de “reacionário”, devido à sua própria
ignorância em relação ao termo. Aí não dá. Porque eu tomo como o elogio
que é. O que há de tão ofensivo em saber como as coisas reagem? Em ser
inimigo mortal de nazistas, comunistas e totalitarismos islâmicos
homofóbicos e misóginos? Em ser contrário à concentração de poder, ao
reformismo rebanhista, à planificação econômica, à mesmice cultural?
Eu tenho uma reputação a zelar. Como
poderei sair na rua, se as pessoas resolverem apontar pra mim e dizer:
“Olha lá, é o cara que o Gregório Duvivier elogiou!” PUTA MADRE! Precisarei
fugir do país, de uma plástica como a do Dirceu, trocar de nome,
sobrenome, tentar apagar minhas memórias com elevadas sessões de
psiquiatria pesada. Os danos morais não podem ser cobertos por nenhuma
indenização.
Pelamor, revoluças que não vêem nada
demais em alguém admirar um facínora como Che Guevara (um idealista! um
crítico social! um mundomelhorista!) e querem associar tudo o que é ruim
a quem discorda de vocês de “saudosistas da ditadura”, numa maçaroca
homogênea e platiforme como vocês próprios pensam: xinguem de outras
coisas, mas não tratem “reacionário” como ofensa.
Ser reaça é mó legal – basta parar de
querer ter auto-estima apenas através do grupinho, jurando que com isso é
“crítico” e auto-pensante. É saber que o mundo não tem soluções fáceis e
prontas, e que há muito mais livros a serem estudados demoradamente
antes de tirar conclusões apressadas do que jamais sonharam nossos
progressistas.
Basta apenas se acostumar a ser xingado
de fascista, de saudosista da ditadura, de branco, de rico, de
homofóbico, de católico, de racista, de nazista e de usar soco inglês
por gente como Gergório Duvivier – e, claro, ser xingado de “fascista”
por gente que quer tudo dentro do Estado, tudo para o Estado, bem ao
contrário de você.
Mas, acredite: nada dói mais do que ser
“xingado” de “reacionário” por pessoas que querem nos ofender, mas nos
elogiam sem perceber.
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