11/05/2014
às 5:56
Pesquisa
Datafolha feita na quarta e na quinta mostra que 61% dos eleitores
brasileiros são contra o voto obrigatório. É uma coisa boa em si. Só não
escrevo que é um “bom sinal” porque isso necessariamente quereria dizer
que vejo aí um sintoma de algo maior e mais importante. Não tenho dados
para tanto. O meu ponto é outro: sempre que a população conclui, na sua
maioria ao menos, que um direito não se impõe e que não se pode punir
alguém por não exercê-lo, acho que se está no bom caminho. A ideia de
que a democracia deva obrigar alguém a votar é um estupidez, um
contrassenso.
Os números do Datafolha são absolutamente coerentes com a, como direi?, realidade da vida. Vejam.
Quanto
maior a escolaridade, maior é a rejeição à imposição: 53% (ensino
fundamental), 63% (ensino médio) e 71% (ensino superior). A opinião
contrária à obrigatoriedade também aumenta de acordo com a renda: 64%
(até dois salários mínimos); 66% (de 2 a 5); 68% (de 5 a 10); 71% (mais
de 10). Que se note: o repúdio é grande em todas essas categorias, mas é
maior, como era de se esperar, entre os mais instruídos e mais
prósperos. Essas pessoas são sempre mais intolerantes com os arroubos
autoritários do estado.
A reportagem da
Folha ouve dois analistas sobre os números. Um vê uma manifestação de
“descrença preocupante”. Outro acha que o eleitor se sente impotente
diante do poder público. Eu não acho nada disso. Penso que o eleitor
descobriu que não faz sentido que um ato de vontade seja imposto pelo
chicote estatal, ora bolas!
A obrigatoriedade e a afinidade eletiva
Vejam o que acontece quando os números são filtrados pelas afinidades eletivas: os eleitores de Dilma são os mais conformados com o voto obrigatório — não por acaso, na pesquisa eleitoral, ela lidera entre os mais pobres e menos instruídos (por enquanto ao menos). Gente menos informada e mais exposta ao arbítrio de terceiros acaba sendo mais tolerante com as imposições do Estado. A rejeição aumenta bastante entre os eleitores de Aécio Neves e Eduardo Campos. Esse dado, diga-se, desautoriza a tal hipótese da “descrença”: ora, justamente o grupo que está apostando na mudança — e, portanto, alimenta a crença numa reviravolta política — é mais refratário à obrigatoriedade.
E que se
note: eu torço para Dilma perder a eleição — e não vejo por que alguém
deva inferir o contrário. Olhando os números, pode-se pensar que o voto
volitivo acabaria sendo ruim para Aécio e Campos já que seus respectivos
eleitorados são os que mais rejeitam o voto obrigatório. Ocorre que uma
coisa não implica outra. Ser contra a obrigatoriedade não é sinônimo de
não querer votar.
A
propósito: a imposição do voto não deixa de ser uma espécie de conforto
para os políticos brasileiros. Seria útil à democracia, à população é à
política que eles fossem compelidos a convencer o eleitorado de que
vale, sim, a pena EXERCER UM DIREITO.
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