BLOG DO NOBLAT
O PT se sente vítima da presidente Dilma Rousseff – e vice
versa. E não há como negar: ambos estão certos. O partido não se sente
representado pela presidente, que, egressa do PDT brizolista, não é – jamais
foi - uma correligionária genuína. Além disso, foi posta onde está sem jamais
ter exercido qualquer cargo eletivo.
Sua vivência em política era tão grande quanto a do ministro
Antônio Dias Toffoli na magistratura. E ambos começaram do alto, sob o mesmo
patrocínio: Dilma na Presidência, Toffoli no STF.
Lula empurrou-a goela abaixo do partido, furando uma fila de
pretendentes, bem mais identificados com as práticas e projetos da sigla. Se
fosse uma petista autêntica e vivida, jamais admitiria ter falhado em relação à
usina de Pasadena.
Como disse Lula, ao agir por conta própria, dizendo – vejam
só – a verdade, Dilma "deu um tiro no pé". E esse tiro resultou na
CPI da Petrobras, que pode jogar no lixo o sonho de continuidade do partido no
poder. O PT não a perdoará jamais.
Dilma, por sua vez, paga o ônus pela conduta de
correligionários que hoje comparecem mais ao noticiário policial que ao
político. Sua candidatura em 2010 pegou carona na popularidade de Lula, que
então deixava o governo em ambiente de bonança.
A bonança, no entanto, era aparente. Não estava lastreada em
dados sólidos; apenas encobria uma herança maldita, que hoje se expressa por
meio do desmantelamento da economia. O Plano Real, que o PT combateu, acabou
destruído por ele.
A inflação está de volta, o poder de compra dos salários
está corroído, a imagem do Brasil piorou consideravelmente, as instituições
políticas conseguiram a façanha de piorar ainda mais sua credibilidade perante
o público, as contas públicas estão no bagaço. Até mesmo um evento como a Copa
do Mundo, que, em circunstâncias normais, seria fator de euforia no país do
futebol, é hoje fator de inquietação política.
Dilma não construiu pessoalmente esse ambiente, que já a
aguardava como, na metáfora machadiana, o caroço dentro da fruta. Hoje, se
discute se Lula já antevia tudo isso como meio de propiciar seu retorno à
Presidência ou se também está sendo vítima do monstro que criou. O "volta,
Lula!" não é uma invenção da imprensa, mas uma realidade no meio da
militância.
Diz-se que Lula avalia o risco de, voltando, comprometer sua
biografia de presidente bem-sucedido. Teria que administrar o fracasso de sua
própria obra.
Ano que vem – e isso é consenso na oposição e no governo - é
ano de ajustes pesados na economia. Hora da verdade. Lula, se vitorioso – e já
não se tem certeza disso -, teria que administrar uma crise com suas digitais,
sem bodes expiatórios a quem acusar.
Se isso é verdade – o temor de Lula em voltar -, então o
dilema é ainda maior: o PT estaria sem alternativa. Dilma, em queda nas
pesquisas, e sem embocadura para empolgar o eleitorado, está cada vez mais
próxima de ser substituída. Mas por quem? Os melhores quadros do PT estão na
cadeia. Quem hoje espelharia o projeto revolucionário do partido, se Lula ficar
de fora?
Permeando esse processo, há a CPI da Petrobras – que, como
toda CPI, sabe-se como começa, mas não como termina -, a fragilidade da
economia e a própria Copa do Mundo, que se tornou emblema da gastança pública.
Como se não bastasse – em função de tudo isso -, há uma
profunda diferença entre esta campanha e a de 2010. Naquela oportunidade, havia
em grande parte do eleitorado um desejo de continuidade, que o próprio José
Serra, candidato da oposição, tentou faturar, prometendo dar sequência à obra
de Lula, "fazendo muito mais". Hoje, conforme mostram todas as
pesquisas, a ânsia é por mudança – ampla, geral e irrestrita.
Dilma tenta cavalgar esse sentimento. E o resultado tem sido
tão eficaz como o foi a tentativa de Serra de espelhar o continuísmo lulista em
2010.
Posted by ARTIGOS at 10:26 AM
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