"Eu acho a Galinha
Pintadinha interessante. Não tem quem não conheça" (Dilma Rousseff, em encontro com jornalistas no Palácio da Alvorada)
Confissão de Incompetência - editorial publicado hoje no Estadão
A presidente Dilma Rousseff reuniu dez mulheres jornalistas
para afirmar sua satisfação diante do pífio desempenho econômico do Brasil e
sua incapacidade de imaginar um país com inflação menor e prosperidade maior.
Não há problemas sérios e em 2015 "o Brasil vai é bombar", garantiu a
presidente, como se os desajustes apontados por analistas da imprensa, de
consultorias privadas, do setor financeiro e de entidades multilaterais fossem
imaginários ou insignificantes.
Não se esperem, portanto, correções na política econômica,
em caso de reeleição. Para começar, a tolerância à inflação será mantida, em
nome de uma falsa defesa dos trabalhadores e dos brasileiros mais pobres.
"Faz uma meta de inflação de 3% e sabe o que isso
significa? Significa desemprego lá pelos 8,2%. Eu quero ver como se mantêm o
investimento social e o investimento público em logística com essa meta",
desafiou a presidente. Ela poderia evitar essa imprudência se fosse um pouco
mais informada e menos dependente de assessores incapazes.
Chile, Colômbia, Equador e Peru, para citar só uns poucos
exemplos da vizinhança, têm crescido muito mais que o Brasil com inflação muito
menor. No ano passado as taxas de expansão econômica desse grupo ficaram entre
4,2% e 5%. Neste ano devem ser pouco maiores. A menor inflação, de 1,9%,
ocorreu na Colômbia. A maior, de 3%, no Chile. O desemprego na Colômbia, de
10,6%, foi o único muito acima da média latino-americana (6,3%). Ficou em 4,6%
no Equador, 5,9% no Chile e 6% no Peru.
No Brasil, o dado oficial, repetido pelos organismos
internacionais, apontou 5,5% de desocupação, pouco abaixo do nível registrado
em países latino-americanos mais dinâmicos e com inflação bem menor. Mas será
correto esse número, apurado em seis regiões metropolitanas? Outra pesquisa do IBGE,
a Pnad Contínua, realizada em 3.500 municípios, apontou uma desocupação na
faixa de 7%, superior à média da América Latina. Por uma extraordinária
coincidência, aliados do governo tentaram interromper a divulgação de novos
dados dessa pesquisa.
Mas a recusa da meta de 3% está muito longe de corresponder
à defesa de uma inflação de 4,5%, a meta em vigor. A inflação acumulada em 12
meses tem ficado em torno de 6% e a presidente, assim como seu ministro da
Fazenda, Guido Mantega, tem-se mostrado satisfeita com qualquer número até
6,5%, limite da margem de tolerância, impropriamente chamado de "teto da
meta". Mas a meta é de 4,5% e nada, nos últimos anos, justificou
resultados piores.
Na noite do jantar presidencial, o ministro Guido Mantega
também rejeitou, em entrevista à TV Brasil, a redução da meta de inflação. Usou
as desculpas de sempre, mencionando choques de preços, como se ocorressem
apenas no Brasil. Pelo menos quanto a isso a presidente concordou com seu
ministro. Mas ela o desmentiu, ao descartar a ideia de aumento de impostos para
reforçar a política fiscal.
"Não sei em que circunstâncias ele falou",
explicou a presidente. "Às vezes a gente escorrega em casca de
banana." A fala seria mais convincente se ela contasse como seu governo
alcançará a meta fiscal prometida para este ano e como se compensarão as perdas
acumuladas por empresas do setor elétrico, prejudicadas pela contenção de
tarifas imposta pelo governo.
A presidente insistiu em atribuir os problemas brasileiros à
crise internacional e em bravatear, comparando o desempenho brasileiro com o de
outros países. "Estamos nos saindo muito bem diante da conjuntura
mundial." Esse discurso é velho e repetidamente superado pelos fatos. Foi
desmentido, nos últimos anos, na comparação do pífio crescimento e da elevada
inflação do Brasil com os números de outros países emergentes.
Agora é desmentido também quando se compara o déficit nominal das contas públicas brasileiras com os dados dos países mais avançados. O déficit brasileiro tem aumentado e é hoje muito parecido com a média da zona do euro.
Agora é desmentido também quando se compara o déficit nominal das contas públicas brasileiras com os dados dos países mais avançados. O déficit brasileiro tem aumentado e é hoje muito parecido com a média da zona do euro.
A presidente parece acreditar nas próprias palavras. Isso
apenas reforça as previsões de tempos ainda muito ruins para a economia
brasileira.
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