Senhores, vi na televisão a entrevista dos membros da comissão de senadores que acompanha o inquérito da morte do coronel Paulo Malhães, o torturador confesso.
Estavam
se sentindo como tivessem acabado de pousar de uma espaçonave vinda de
algum dos planetas da estrela Sirius B: Ternos impecáveis… Cabelos
brilhantes, penteados… Óculos de grife… Dentes brancos… Pele alva…
Câmeras… Holofotes… Narizes empinados…
Sentiam-se como “verdadeiros eleitos” pousando em um planeta de bárbaros!
Realmente,
só em olhar a tez de cada um deles, os trajes espaciais caríssimos, já
dava para perceber não eram deste nosso mundo atrasado, cheio de
violência, com mulheres parindo sobre bancos de hospitais e delegacias
faltando papel higiênico.
Percebia-se,
claramente, que eram seres superiores aos que trabalhavam de dia e de
noite, regularmente, naquela espelunca, por isso o descaso com a atuação
dos agentes e delegados e com os depoimentos tomados pelos funcionários
públicos. Via-se que se sentiam ofendidos por terem que lidar com
pessoas de tão baixo nível. Com certeza, ao saírem dali, sentiram a
necessidade de usar alguma “câmara de descontaminação…”
Não pertenciam àquele nosso lugar sujo!
Não
queriam se confundidos com aquelas pessoas mal vestidas. Estavam
indignados, ultrajados por tomarem conhecimento que aquele assassino não
tinha advogado constituído:
“Como pôde uma pessoa analfabeta ser ouvida sem a presença de um defensor público?”, disse um dos extraterrestres à câmera.
A
transmissão não mostrou se também disseram: “No planeta de onde venho
isso não acontece! Lá tem defensor público em número suficiente para
ouvir todos os analfabetos em todas as delegacias – que, por sinal, são
raros: tanto a delegacia, quanto os analfabetos”, e “-Levem-nos ao seu
líder”. Devem ter dito e não pode ser transmitido.
Como
era de se esperar, não consideraram válido todo o trabalho dos
moradores do nosso planeta. Devem está certos, terem os seus motivos,
embora não os entendamos. Mas, tudo bem! Afinal, não é de se esperar
mesmo que algum serviçal deste planeta Terra tenha capacidade
intelectual suficiente para compreender os argumentos
quântico-jurídico-ideológicos de tais seres.
Enquanto
escrevo estas linhas, provavelmente já deve ter partido rumo ao planeta
de origem (tão evoluído e paradisíaco que deve ser governado pelo
senhor Roarke, auxiliado pelo pequeno Tatoo), aliviados por saírem do
meio de um povo tão atrasado e de uma realidade mais atrasada ainda!
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