quinta-feira, 8 de maio de 2014

O RISCO DE NOVA IMPLOSÁO DA IMAGEM DO BRASIL


 

A Guerra dos Trinta Anos terminou, na Europa, em 1648, com o Tratado de Westfália. Entre os entendimentos feitos pelas potências antes em choque, estava o da proteção à figura dos embaixadores. A partir daquele ano e supostamente até a eternidade, quando dois ou mais estados entrassem em guerra, seus embaixadores no país adversário não poderiam ser presos, punidos ou sofrer qualquer coação. Passou a obrigação dos governos onde estavam   acreditados devolve-los sãos e salvos aos países de origem.

 
Vieram novas conflagrações, na Europa e no resto do mundo, e o compromisso foi respeitado. Mesmo Hitler garantiu a devolução a Londres e a Paris, depois a Washington e até ao Rio de Janeiro, dos embaixadores dos países em guerra com a Alemanha. Mesmo no caso de guerras não declaradas formalmente, ou de revoluções internas, seus líderes e responsáveis preservavam os representantes de outros países, ainda que implicados nos entreveros locais. Preveniam-se todos, porque o que acontece de um lado pode acontecer do outro.

 
Isso até setembro de 1969, quando o Brasil, não propriamente deu lições ao mundo, mas um péssimo e execrável exemplo. Assistimos adversários do regime militar sequestrarem os embaixadores dos Estados Unidos, da Suíça e da Alemanha Ocidental, além de um cônsul do Japão.
 
 
Quaisquer que fossem as motivações dos que lutavam contra a ditadura, foi um horror. Não havia no mundo know-how para sequestros de diplomatas. O governo americano impôs que o governo brasileiro, então uma abominável junta militar, cumprisse todas as exigências dos sequestradores, inclusive as de mandar 15 prisioneiros políticos para o México. Depois, nos sequestros seguintes, outros para a Argélia e o Chile.
 
 
 
A moda pegou lá fora. Em Montevidéu, tupamaros uruguaios apoderaram-se de um diplomata brasileiro. Em Lima, o Sendero Luminoso prendeu treze embaixadores estrangeiros de uma só vez. E foi assim por diante, a ponto de a diplomacia dos Estados Unidos estabelecer regras rígidas que valem até hoje: não negociar com terroristas. Quem quiser ser diplomata que seja, mas sabendo que seu governo não tomará qualquer iniciativa negociada para libertá-lo, à exceção de invasões armadas de comandos nos locais do cativeiro.

 
Mesmo assim, com as exceções de sempre, mais as cautelas ligadas à segurança de embaixadores e de altas autoridades em visita a outros países, tinha-se a impressão da volta gradativa ao civilizado espírito de Westfália.

 
Pois não é que corremos o risco de o Brasil ministrar novas antilições ao mundo? Às vésperas da copa do mundo ficamos sabendo da preparação de fartos contingentes da Polícia Federal e demais entidades nacionais de segurança, especializando-se em evitar sequestros de diplomatas e até de chefes de estado e de governo estrangeiros dispostos a vir assistir as partidas de seus selecionados. 
 
 
Detalhado esquema de proteção aos ilustres visitantes está sendo elaborado, envolvendo aeroportos, hotéis, trajetos e estádios para onde se dirigirão. A um custo muito alto, previne-se o aparato brasileiro de segurança, claro que com o auxílio de serviços afins de países estrangeiros, para evitar o vexame de sequestros. 
 
 
As atenções voltam-se para os black-blocs e grupos ligados às campanhas contra a realização da copa. Pelo jeito, estão de olho também nos líderes do tráfico de drogas, na verdade os chefes dessa malta de depredadores e assassinos.

 
 
Só admitir-se essas providências, convenhamos, é uma vergonha. Se alguma tentativa de sequestro acontecer, mesmo malograda, a imagem do Brasil se desfará em mil pedaços pelo planeta inteiro. Graças a uma minoria de deletérios irresponsáveis que deveriam estar enjaulados.


07 de maio de 2014Carlos Chagas\

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