A
Guerra dos Trinta Anos terminou, na Europa, em 1648, com o Tratado de
Westfália. Entre os entendimentos feitos pelas potências antes em
choque, estava o da proteção à figura dos embaixadores. A partir daquele
ano e supostamente até a eternidade, quando dois ou mais estados
entrassem em guerra, seus embaixadores no país adversário não poderiam
ser presos, punidos ou sofrer qualquer coação. Passou a obrigação dos
governos onde estavam acreditados devolve-los sãos e salvos aos países
de origem.
Vieram
novas conflagrações, na Europa e no resto do mundo, e o compromisso foi
respeitado. Mesmo Hitler garantiu a devolução a Londres e a Paris,
depois a Washington e até ao Rio de Janeiro, dos embaixadores dos países
em guerra com a Alemanha. Mesmo no caso de guerras não declaradas
formalmente, ou de revoluções internas, seus líderes e responsáveis
preservavam os representantes de outros países, ainda que implicados nos
entreveros locais. Preveniam-se todos, porque o que acontece de um lado
pode acontecer do outro.
Isso
até setembro de 1969, quando o Brasil, não propriamente deu lições ao
mundo, mas um péssimo e execrável exemplo. Assistimos adversários do
regime militar sequestrarem os embaixadores dos Estados Unidos, da Suíça
e da Alemanha Ocidental, além de um cônsul do Japão.
Quaisquer que
fossem as motivações dos que lutavam contra a ditadura, foi um horror.
Não havia no mundo know-how para sequestros de diplomatas. O governo
americano impôs que o governo brasileiro, então uma abominável junta
militar, cumprisse todas as exigências dos sequestradores, inclusive as
de mandar 15 prisioneiros políticos para o México. Depois, nos
sequestros seguintes, outros para a Argélia e o Chile.
A
moda pegou lá fora. Em Montevidéu, tupamaros uruguaios apoderaram-se de
um diplomata brasileiro. Em Lima, o Sendero Luminoso prendeu treze
embaixadores estrangeiros de uma só vez. E foi assim por diante, a ponto
de a diplomacia dos Estados Unidos estabelecer regras rígidas que valem
até hoje: não negociar com terroristas. Quem quiser ser diplomata que
seja, mas sabendo que seu governo não tomará qualquer iniciativa
negociada para libertá-lo, à exceção de invasões armadas de comandos nos
locais do cativeiro.
Mesmo
assim, com as exceções de sempre, mais as cautelas ligadas à segurança
de embaixadores e de altas autoridades em visita a outros países,
tinha-se a impressão da volta gradativa ao civilizado espírito de
Westfália.
Pois
não é que corremos o risco de o Brasil ministrar novas antilições ao
mundo? Às vésperas da copa do mundo ficamos sabendo da preparação de
fartos contingentes da Polícia Federal e demais entidades nacionais de
segurança, especializando-se em evitar sequestros de diplomatas e até de
chefes de estado e de governo estrangeiros dispostos a vir assistir as
partidas de seus selecionados.
Detalhado esquema de proteção aos
ilustres visitantes está sendo elaborado, envolvendo aeroportos, hotéis,
trajetos e estádios para onde se dirigirão. A um custo muito alto,
previne-se o aparato brasileiro de segurança, claro que com o auxílio de
serviços afins de países estrangeiros, para evitar o vexame de
sequestros.
As atenções voltam-se para os black-blocs e grupos ligados
às campanhas contra a realização da copa. Pelo jeito, estão de olho
também nos líderes do tráfico de drogas, na verdade os chefes dessa
malta de depredadores e assassinos.
Só
admitir-se essas providências, convenhamos, é uma vergonha. Se alguma
tentativa de sequestro acontecer, mesmo malograda, a imagem do Brasil se
desfará em mil pedaços pelo planeta inteiro. Graças a uma minoria de
deletérios irresponsáveis que deveriam estar enjaulados.
07 de maio de 2014 Carlos Chagas\
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