quinta-feira, 8 de maio de 2014

Carlos Chagas FUTEBOL E POLÍTICA ENTRELAÇADOS




Publicado: 8 de maio de 2014 




Conhecida a convocação do Felipão, a conclusão é de que política e futebol tem tudo a ver. Mais especificamente, a copa do mundo com a sucessão presidencial, que se não houver mudanças na Constituição, irão sempre coincidir de quatro em quatro anos.

A pergunta que não quer calar é se haverá reflexo na escolha do presidente da República caso o selecionado brasileiro se desclassifique, não chegando ao título de hexacampeão. No reverso da medalha, se nossos craques levantarem a taça, podem ser previstas consequências no comportamento do eleitorado?

Há quem preveja perda de votos para Dilma Rousseff caso nosso time fique pelo meio do caminho ou fracasse na última partida. Em nada a desclassificação beneficiará Aécio Neves, Eduardo Campos ou qualquer outro. Mas eles ficarão felizes ao ver que a favorita perdeu alguns milhares de votos, situação capaz de levar a eleição para o segundo turno.

Agora, se formos campeões, inegavelmente Dilma tirará proveito. O clima de euforia que tomará conta do país contaminará seu governo e sua candidatura ao novo mandato.

Uma variável desconhecida ainda pesa na equação: e se a presidente continuar caindo nas pesquisas e for substituída pelo Lula? Nessa hipótese o primeiro-companheiro precisaria de uma estratégia delicada. 

Assumir a candidatura em plena copa do mundo será um risco. No caso de nosso time pular fora depois da troca, não faltarão vozes a concluir que a culpa foi do Lula. No entanto, se coincidir a conquista no Maracanã com o lançamento do ex-presidente, será uma festa. Por via das dúvidas, se essa alternativa sucessória acontecer, melhor que aconteça depois do encerramento da copa, qualquer que seja o seu resultado.

Enfim, não há como deixar de relacionar futebol com política. Melhor seria, para evitar confusões, que no bojo de uma inviável reforma política o Congresso acabasse com a reeleição e aumentasse os mandatos presidenciais de quatro para seis anos. Desapareceriam as coincidências.

NADA DE NOVO SOB O SOL

Getúlio Vargas assumiu o governo pela segunda vez em janeiro de 1951 e durante alguns meses manteve o general Angelo Mendes de Moraes como prefeito do Rio, então capital federal. Por um desses conselhos de autor desconhecido, Getúlio aceitou comparecer ao Maracanã num domingo de Fla-Flu. Os alto-falantes anunciaram sua chegada na tribuna de honra. Havia tomado posse pouco antes e a multidão o recebeu com aplausos. Estava com ele o prefeito Mendes de Moraes, que logo mandou o locutor anunciá-lo. Sem exagero algum, cem mil pessoas se levantaram, entoando um coro capaz de ser ouvido até em Copacabana: “Água! Água! Água!”

O Rio vivia permanente estado de carência e racionamento.

Pois é. Caso o governador Geraldo Alckmin e o prefeito Fernando Haddad compareçam ao jogo de abertura da copa do mundo, no Itaquerão, deveriam ter a cautela de não mandar anunciar suas presenças. São Paulo de hoje nada tem de diferente do Rio de antigamente…

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