13 de junho de 2014 Posted by -
Representantes do movimento LGBT chamaram atenção para o atual perfil epidemiológico da aids no Brasil durante o 11º Seminário LGBT do Congresso Nacional. Para o deputado Jean Wyllis (Psol-RJ), a infecção avança sobre homens jovens homossexuais, pessoas pobres, mulheres e em regiões do interior do País.
“A aids se juvenizou. E desses jovens infectados pelo HIV, a população de homens jovens gays, voltou a ser o grupo vitima preferencial”, disse Wyllis, que participa das frentes parlamentares em Defesa dos Direitos Humanos, de Enfrentamento às DST/HIV/Aids e pela Cidadania LGBT.
Em audiência na Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara dos Deputados, o ministro da Saúde, Arthur Chioro, reconheceu que o aumento do número de casos de aids entre homens que têm relações sexuais com outros homens tem se mostrado preocupante nos últimos 10 anos. “São as áreas que a gente observa tendência de crescimento”, apontou Chioro.
Jean Wyllis ainda condenou, no entanto, o discurso que coloca a aids como castigo aos homossexuais e ressaltou o aumento de casos entres mulheres. “Temos a feminilização da doença. No início da epidemia eram 30 homens infectados para cada mulher. Hoje essa proporção é de 1 para 1.” O deputado criticou a atuação do Ministério Saúde, diante das evidências desse perfil epidemiológico do País.
Tendência diferente
Representando o Ministério da Saúde, Ivo Brito discordou da visão que aponta como tendências atuais o contágio de jovens, de mulheres e da população do interior do País. Para ele, essa é uma tendência que já marcou os anos 90 e a primeira década do século 21. “Nossos dados mostram outra tendência”, disse Brito.
Com relação ao aumento proporcional da infecção de mulheres, ele disse que, isolando-se homens e mulheres na estatística, verifica-se um aumento maior da epidemia entre homens jovens. Brito acrescentou ainda que a epidemia cresce também entre segmentos com maior escolaridade. “Ou seja, diferente do que ocorria na década de 90.”
O desafio, segundo ele, é pensar em políticas públicas focadas nos grupos de risco sem criar um efeito bumerangue, ou seja, incentivando ainda mais a marginalização e a discriminação desses grupos sociais, como a comunidade LGBT.
Desigualdade
Para o presidente Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (Abia), Richard Parker, a determinante fundamental da epidemia de aids é a desigualdade. “É onde a desigualdade é mais forte, onde um eixo de desigualdade, do tipo pobreza, cruza com outro, desigualdade de gênero, que você tem um maior impacto da epidemia. A sinergia entre essas forças de desigualdade cria uma maior vulnerabilidade”, sustentou.
Ex-diretor adjunto do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Eduardo Barbosa, hoje afirma que, além de terem perdido força, as campanhas muitas vezes não chegam aos públicos-alvo.
Para ele, à medida que a questão da vulnerabilidade foi acentuada no discurso, o risco maior de infecção de algumas comunidades foi sendo esquecido.
“Hoje se fala em vulnerabilidade como se todos fossem igualmente vulneráveis, homens, mulheres. Mas a epidemia está pegando é gay”, disse Barbosa, que coordena o Centro de Referência e Defesa da Diversidade de São Paulo.
Apesar de considerar importante reconhecer que a aids não tem cara, cor, classe social, ou orientação sexual, Parker concorda que a Aids não é uma epidemia igualitária ou democrática.
“Nem todas as pessoas enfrentam os mesmo riscos frente à epidemia de aids. Os grupos populacionais não existem na mesma situação”, disse.
Para Parker, a atual fase da fase da epidemia, denominada por ele como “estigma e discriminação” é talvez a mais difícil de ser vencida.
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