sexta-feira, 13 de junho de 2014

(Legítimos donos do Brasil mendigando terra)Na abertura da Copa em SP, índio faz protesto por demarcação de terras


Werá Jeguaka Mirim, de 13 anos, abriu faixa vermelha após soltar pomba.


Ato, esperado em aldeia de SP, pedia demarcação de terras indígenas.

Lívia Machdo Do G1 São Paulo
Índio da Aldeia Krukutu fez protesto durante cerimônia de abertura na Copa (Foto: Divulgação) 
Índio da Aldeia Krukutu fez protesto durante
cerimônia de abertura na Copa 
Selecionado para representar população indígena na cermônia de abertura da Copa do Mundo, em São Paulo, o menino Werá Jeguaka Mirim, da aldeia Krukutu, na região de Parelheiros, no extremo sul da cidade, caminhou sobre o gramado da Arena Corinthians para soltar uma das três pombas da paz antes do início da partida.

Na saída do campo, porém, ele quebrou o protocolo e abriu uma faixa vermelha pedindo a demarcação das terras indígenas.

O protesto individual foi uma aposta da Comissão Guarani Yvyrupa. A comunidade onde vive o garoto de 13 anos estava reunida no centro cultural da aldeia, na tarde desta quinta-feira (12), torcendo por uma vitória do Brasil na abertura do mundial, e ansiosa para ver o ato simbólico ser transmitido internacionalmente.

“Estávamos reunidos com as demais lideranças para ver o jogo, mas focados nisso, esperando ele mostrar a faixa. Nossa esperança foi no menino, e ele conseguiu fazer o que esperávamos, só não apareceu para o mundo nem para o Brasil, nada. Ficamos frustrados”, disse Marcos Tupã, coordenador da comissão.


 
O pedido
A cidade de São Paulo ainda abriga mais duas comunidades indígenas. A cobraça pela demarcação é uma campanha nacional e antiga, mas tinha um sobrepeso atual: a aldeia do Jaraguá, situada entre as zonas Norte e Oeste, sofre ameaça de reintegração de posse marcada para o final do mês.


Werá escondeu a faixa dentro do bolso do uniforme branco que vestia, e ficou com ela esticada até pisar fora do gramado. O gesto, que durou pouquíssimos minutos, surpreendeu até mesmo o pai, o escritor indígena Olívio Jekupe. “Eu mesmo não sabia que ele ia fazer isso. Ele é calmo, tranquilo, não tem vergonha.”

Olívio conta que foi hostilizado quando divulgou em seu perfil no Facebook que o filho participaria da cerimônia de abertura do evento. “Fiquei contente porque a gente sabe que o povo ia meter o pau na gente. Quando avisei nas redes sociais que ele ia fazer parte da Copa, muitos criticaram”.

Ele ainda afirma que a comunidade não se opõe ao mundial. “Nós não somos contra a Copa, somos contra as injustiças que fazem com as demarcações que é a principal causa que estamos em luta há anos.”

Camisa 10
Um amigo de Olívio registrou o momento em que o menino deixa o gramado com a faixa aberta, e cedeu divulgação da imagem. O escritor comenta que a repercussão local transformou seu filho em “celebridade” na aldeia. “Ele voltou feliz, está andando na aldeia como famoso, todo mundo quer tirar foto com ele”.


Ao pai, Wará disse que ficou satisfeito por ter conseguido defender as causas indígenas, apesar da quase inexistente repercussão durante o ato. E não escondeu a alegria de ter visto um ídolo a poucos metros de distância. “Ele disse que ficou contente porque viu o Neymar de perto”.
Corintiano, o menino também realizou o desejo de assistir a uma partida de futebol longe da televisão. Olívio, que é Palmeirense, afirma que nunca levou os filhos ao estádio por temer a violência. 


“Aqui em São Paulo nunca fui a estádio porque tenho medo por conta da violência. Prefiro assistir em casa, pelo menos a gente vê mais tranquilo. Na aldeia o povo joga bola no maior sossego, então a gente tem medo de ir na cidade assistir.”

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