sexta-feira, 13 de junho de 2014

Imagina depois da copa - NELSON MOTTA


O GLOBO - 13/06

Lula chegou a atribuir o baixo crescimento do PIB ao mau humor dos empresários, trocando a consequência pela causa



Alguma coisa está dando errado e o estrategista João Santana deve estar muito preocupado: quanto mais se intensifica a propaganda oficial em todas as mídias, alardeando as realizações do governo e todos os ganhos com a Copa do Mundo, mais caem a aprovação e as intenções de voto da presidente Dilma e mais aumentam os seus índices de rejeição. E a Bolsa sobe.

Imagina depois da Copa, com metade do tempo do horário eleitoral na televisão ocupado por avassaladora publicidade triunfalista tentando convencer os eleitores que a sua vida e seu país estão muito melhores do que eles pensam. E que quem ganha salário de mil reais agora é classe média.

Não dá para rejeitar as pesquisas agora e aceitá-las há três anos, quando eram positivas. Nem responsabilizar a “mídia golpista”, se há dois ou três anos, apesar dela, a aprovação do governo era muito maior. Resta sempre a conspiração. Blogueiros oficialistas denunciam que todas essas manifestações que estão parando cidades por aumentos salariais têm o único objetivo de impedir a reeleição da presidente Dilma… rsrs.

Lula chegou a atribuir o baixo crescimento do PIB ao mau humor dos empresários, trocando a consequência pela causa. Mas quem azedou o humor de 70% da população? Se fosse Chávez dizia logo que era uma conspiração do Império e explicava tudo, mas aqui nem o Zé Dirceu ousaria tanto.

Como explicar que só pouco mais da metade dos delegados na convenção do PMDB, mesmo com o vice da chapa e todos os seus cargos no governo, tenha votado pelo apoio à candidatura de Dilma? Numa votação secreta, no escurinho da cabine… com delegados peemedebistas… vocês sabem como é… ainda bem que os peemedebistas não traem seus aliados… só quando é pelo bem do Brasil… rsrs.

A saia está tão justa que a estratégia de Dilma tem sido responder com veemência e cheia de razão… a acusações que não lhe foram feitas, mas não consegue se defender das evidências que provocam danos à sua candidatura: crescimento baixo + inflação alta + obras atrasadas = má gestão.

Se João Santana conseguir reverter isso, mereceria ser ele o presidente, e não Dilma.

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