sexta-feira, 13 de junho de 2014

Dilma vaiada e Lula escondido em casa. O povo entendeu quem são os responsáveis pela Copa do Mundo fora do campo.




“A bola está na cancha brasileira”. Era quinta-feira, dia 28 de setembro de 2006, quando o então presidente Lula recebeu no Palácio do Planalto um animado Joseph Blatter, presidente da Fifa. A regra de Blatter era clara: o Brasil só não faria a Copa do Mundo de 2014 se não quisesse. Único candidato a sediar o ainda distante Mundial, o Brasil de Lula - que seria reeleito um mês depois, com 60,57% dos votos válidos, derrotando em segundo turno o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin - era festejado no exterior, a economia ia bem e o escândalo do mensalão passava longe do presidente.

Um ano depois, surfando na onda de otimismo, veio a confirmação em Zurique, na Suíça: a Copa voltava a ser no Brasil, 64 anos depois. No discurso de agradecimento, o presidente prometeu: "Vocês verão a capacidade que teremos de construir bons estádios", "o Brasil saberá fazer a sua lição de casa".

Passada a euforia, era hora de trabalhar. E os problemas começaram a aparecer. Em 2010, com três anos de atraso, o governo lançou a Matriz de Responsabilidade da Copa. No cardápio, 12 estádios e 81 obras de infraestrutura e mobilidade urbana nas cidades-sede, que seriam o "grande legado" para o povo brasileiro.

Mas as execuções passaram longe do gol. Do total previsto, 22 obras foram retiradas do planejamento nos anos seguintes. Mesmo com parte das obras inacabada, o custo da Copa das Copas já é o maior da História dos Mundiais: R$ 25,5 bilhões. Na construção dos estádios, foram contabilizadas nove mortes de funcionários. 

No rol das promessas não cumpridas, há ainda o trem-bala, que ligará o Rio a São Paulo. A garantia de que ele estaria pronto foi dada pela própria Dilma Rousseff, então ministra da Casa Civil de Lula. A obra não foi sequer licitada, mas já custará pelo menos R$ 1 bilhão até o fim deste ano.

Houve atrasos também na entrega dos estádios - apenas a Arena Castelão, em Fortaleza, e a Arena Pantanal, em Cuiabá, foram entregues no prazo estipulado pela Fifa -, dos aeroportos e das obras de mobilidade. Em junho de 2013, o país foi surpreendido por uma onda de protestos que demonstrou um mau humor generalizado - do qual o Mundial virou alvo, marcado pelo mote "Não vai ter Copa". 


Os dirigentes da Fifa, antes animados, começaram a criticar o Brasil e a temer a violência das manifestações. A prévia veio com a vaia a Dilma no Mané Garrincha, em Brasília, na abertura da Copa das Confederações. Às vésperas da abertura do Mundial, Dilma foi à TV: “Estamos prontos”. Vai ter Copa.

Acompanhe abaixo a sequência de promessas e balelas de Lula e Dilma:

“Vocês verão no Brasil a capacidade que teremos de construir bons estádios. Estejam certos de que o Brasil saberá, orgulhosamente, fazer a sua lição de casa, realizar uma Copa para argentino nenhum colocar defeito”. Lula, em 30 de outubro de 2007. Em Zurique, diante de políticos, ex-jogadores e personalidades, no anúncio do Brasil como sede da Copa. Em 2010, com os atrasos nos preparativos, o então presidente ainda afirmou: “Se o Brasil não tiver condições, garanto que volto da África a nado”.

“As coisas não estão funcionando. Muitas coisas estão atrasadas. O Brasil merece um chute no traseiro”. Jérôme Valcke, secretário-geral da Fifa, em março de 2012. A mais de dois anos da Copa, o dirigente da Fifa perdeu a paciência depois de fazer muitas cobranças de maior celeridade nas obras de construção dos estádios e não ser ouvido. O ministro do Esporte, Aldo Rebelo, se queixou do tom da crítica, e Valcke acabou se desculpando. Mas as obras se mantiveram no passo de tartaruga, e as críticas continuaram.

“O Brasil acabou de se dar conta de que começou tarde demais. É o país com mais atrasos desde que estou na Fifa, e foi o que teve mais tempo, sete anos, para se preparar”. Joseph Blatter, presidente da Fifa, em janeiro deste ano Blatter fez sua crítica mais incisiva aos atrasos do Brasil na construção dos estádios e nas obras de mobilidade prometidas para a Copa do Mundo. Um tom bem diferente da animação demonstrada pelo cartola em 2007, quando afirmou: “O país que produziu os melhores jogadores do planeta, que tem cinco títulos mundiais, terá o direito, mas também a responsabilidade, de sediar a Copa em 2014”.



“Ora, eu cansei de ir estádio para ver o Corinthians jogar. Nunca tivemos problemas em andar a pé. Anda a pé, vai descalço, vai de bicicleta, de jumento, de qualquer coisa. A gente está preocupado (sic) em ter metrô para ir até dentro do estádio? Mas que babaquice é essa?”. Lula, em maio de 2014, reagindo, em seu estilo, às críticas gerais ao atraso nas obras prometidas pelo governo para a Copa.


“As obras que não ficarem prontas para a Copa ficarão prontas em agosto, setembro. E daí? Qual é o problema?”. Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência da República, em 3 de junho. Numa tentativa de minimizar o fato de obras prometidas na Matriz de Responsabilidade da Copa não terem sido concluídas para o Mundial.


“O Brasil venceu os principais obstáculos rumo à Copa. (...) Os pessimistas diziam que não teríamos Copa porque não teríamos estádios. Os estádios estão aí, prontos. Diziam que não teríamos Copa porque não teríamos aeroportos. Praticamente, dobramos a capacidade dos nossos aeroportos”. Dilma Rousseff, a dois dias da Copa, esquecendo que parte das obras está inacabada.


Ontem, Dilma recebeu cinco estrepitosos xingamentos no jogo de abertura da Copa do Mundo. Lula ficou escondido em casa e nem foto liberou para a Imprensa. Nenhuma declaração. Nenhuma piadinha. Parece que agora os dois acordaram para uma dura realidade: o povo entendeu quem são os responsáveis pelo fracasso da Copa fora do campo. (Síntese comentada de matéria de O Globo)

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