CASAMENTO EM CRISE
Aliados de Campos encomendam pesquisa sobre capacidade da vice de transferir votos
BRASÍLIA - A dificuldade da dupla Eduardo Campos (PSB) e Marina Silva (Rede Sustentabilidade) de deslanchar nas pesquisas de intenção de votos vem causando nervosismo crescente no comando da sua campanha nacional. Aliados de Campos, inclusive, encomendaram ao Ibope uma pesquisa nacional para avaliar a rejeição de Marina e sua capacidade de transferência de votos, seja como candidata a vice na chapa ou apenas como apoiadora do socialista. O objetivo é mensurar o que ocorreria com a candidatura de Campos se Marina voltasse atrás na decisão de ser sua vice por conta de alguma negociação de palanques regionais.
O foco da crise foi a decisão do diretório do PSB de São Paulo de aprovar, por unanimidade, uma coligação com o PSDB, apoiando a reeleição do governador Geraldo Alckmin. Desde que PSB e Rede resolveram se unir, em outubro passado, a candidatura própria no maior estado do país foi colocada como cláusula pétrea pelos marineiros. Por outro lado, apoiadores de Campos atribuem à ex-senadora dificuldades na formação de palanques competitivos em grandes estados. Para o diretor do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, apesar de ter um amplo capital político, Marina vem demonstrando pouca capacidade de transferência de voto como candidata a vice.
Na avaliação de Montenegro, já repetida por outros especialistas e articuladores políticos, o poder de transferência da Marina caiu muito desde a última eleição. Isso estaria sendo mostrado em todas as pesquisas e foi confirmado na última consulta do Datafolha, na qual, além da queda de quatro pontos de Campos (de 11% para 7% nas intenções de voto), 42% dos entrevistados disseram que não votariam no candidato indicado pela ex-senadora. O único cenário em que ela teria condição de mudar o jogo eleitoral, na opinião dos especialistas, seria aquele em que ela fosse candidata à Presidência. Nesse caso, poderia agregar mais votos que recebeu em 2010.
— A Marina é uma pessoa querida, correta, ética, mas, como vice, não tem poder de transferência de votos para o Eduardo Campos. Uma parte dos votos dela em 2010 foi de protesto. Os votos de protesto eram 9% a 10%. Na eleição, ela chegou a 20%. Depois, caiu para 9% e 10% de novo. No começo, a notícia da coligação Rede-PSB foi um boom, uma notícia positiva. Mas, no final, acabou dando confusão. Ela é contra o agronegócio, Campos, a favor. Depois, surgiram os problemas em Goiás, São Paulo e Minas. A coisa do açaí com tapioca faz sentido. Os dois não combinaram. Era uma coisa previsível, que ia dar confusão, e deu — avalia Montenegro.
A assessoria de Marina e integrantes do comando do PSB dizem que a pesquisa para medir a rejeição da ex-senadora não foi encomendada pelo partido, mas integrantes da campanha confirmaram a sondagem. Apesar do nervosismo que tomou conta da campanha após a queda de quatro pontos na intenção de votos no Datafolha, Campos tenta salvar a parceria com Marina. Procura compensar a incompatibilidade dos dois em São Paulo com a formação de um palanque próprio em Minas Gerais, defendida há meses pela Rede.
Os dois combinaram que ela iria ontem em Minas, retirar a candidatura do desconhecido professor aposentado Apolo Heringer (Rede), para apoiar o nome do deputado Júlio Delgado (PSB). Marina já teria gravado apoio a Delgado; porém, na reunião com a Rede, o deputado continuou sendo criticado e chamado de "laranja de Aécio Neves", pré-candidato tucano à Presidência. Marina, porém, elogiou Delgado e anunciou que os dois disputarão a candidatura na convenção.
Em São Paulo, Marina lançará um candidato ao Senado, provavelmente na chapa do PV, para que possa ter um palanque alternativo ao de Alckmin.
Ao ser firmada, a parceria de Campos com Marina levou aliados dele à euforia; hoje, porém, há no grupo do socialista quem questione essa estratégia. A esperada transferência massiva de votos não veio, e parte do grupo de Campos avalia que as interferências dela nas articulações estaduais do pernambucano deixaram o campo livre para Aécio.
— Eles, da Rede, não estão entendendo que o que Marina teve em 2010 foi o espaço que sempre teve a terceira via nas disputas presidenciais. Mas Eduardo não é uma terceira via para ter 20 milhões de votos. Ele está na disputa para ganhar. Está na hora de resolver isso — cobrou Roberto Freire, um dos aliados que mais brigaram pela aliança com Alckmin e que está incomodado com as ações do entorno de Marina para sabotar as articulações do PSB nos estados.
Há, entre os aliados de Campos, quem aposte que ele reaja ao que, entendem, Marina está articulando: usar o PSB como vitrine para se fortalecer para 2018, sem compromisso com a eleição de Campos.
— O Eduardo tem que repensar essa parceria. Foi uma aposta que não deu certo. Se ele tivesse deixado que ela se filiasse ao PPS, hoje Marina seria um problema do senhor Roberto Freire e não teria contaminado sua candidatura. Ia ter seus 6% de votos e levava a eleição para o segundo turno do mesmo jeito. Marina desidratou Eduardo — avaliou um integrante da Executiva do PSB.
Publicado no Globo de hoje.
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