Para
Rollemberg, o que estão querendo fazer com a Embrapa Cerrados, e com 35
anos de pesquisas na unidade de Planaltina, é uma agressão ao bom senso
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Por Agência Senado
Se
o governo do Distrito Federal (GDF) implementar projeto para construção
de conjunto habitacional em parte da área hoje ocupada pela Embrapa
Cerrados estará colocando em risco nascentes de importantes bacias
hidrográficas e levando à destruição de experimentos desenvolvidos há
pelo menos 35 anos no local.
O alerta foi feito pelo Ministério Público e por pesquisadores da
Embrapa e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC),
durante audiência pública nesta quinta-feira (15) na Comissão de
Agricultura e Reforma Agrária (CRA).
A unidade da Embrapa realiza desde 1975 pesquisas em cerca de mil
hectares nas proximidades da cidade de Planaltina, no Distrito Federal, e
o GDF anunciou que pretende destinar uma parte dessa área, às margens
da BR-020, para a construção de moradias para reduzir o déficit
habitacional da capital.
Conforme lembrou Cristina Montenegro, promotora de Justiça do
Distrito Federal, a região onde está localizada a unidade de pesquisa é
denominada Águas Emendadas por concentrar nascentes que dão origem às
bacias do Tocantins e do Paraná-Prata.
– Adensar ainda mais a região é fechar os olhos para problemas que
a população já enfrenta. Não estamos num jogo de trocar uma coisa por
outra. Temos que entrar no jogo de ganha-ganha – disse. Para ela, a
manutenção da área com a Embrapa ajuda o governo a preservar os recursos
hídricos e a empresa a manter pesquisas para exploração sustentável do
cerrado.
Avanços
O chefe-geral da Embrapa Cerrados, José Roberto Peres, e a
pesquisadora Ieda Mendes explicaram aos senadores que o local foi
escolhido por ser representativo do relevo, solos e vegetação do
cerrado. Conforme disseram, os experimentos ali desenvolvidos geraram
conhecimentos que viabilizaram o crescimento da produção agropecuária na
região central do país.
Desde a criação da Embrapa, frisaram, a área cultivada na região
cresceu 31% e a produção cresceu 366%, o que demonstra que a
agropecuária avançou a partir de ganho tecnológico.
– Se as terras forem utilizadas para o empreendimento
habitacional, vamos perder 35 anos de pesquisa. Essa área é uma memória
fidedigna de tudo o que foi feito na agricultura de cerrado. Se formos
para outra área, vamos começar do zero – explicou Ieda Mendes.
Para Helena Narder, presidente da Sociedade Brasileira para o
Progresso da Ciência (SBPC), é preciso proteger esse patrimônio
científico e reconhecer que a distribuição de renda no país se deve, em
grande parte, ao desenvolvimento da agropecuária, com base em
conhecimento gerado pela Embrapa.
Interesse social
Conforme Paulo Valério Silva Lima, da Secretaria de Habitação,
Regularização e Desenvolvimento Urbano do GDF, o governo elaborou
projeto para construir habitações na parcela porque o Plano Diretor de
Ordenamento Territorial indicou a área como de uso urbano e de interesse
social.
Ele disse que o empreendimento deverá ocupar 10% da área hoje
ocupada pela Embrapa e atenderá a uma população que já vive na região e
ainda não dispõe de moradia.
– Estamos falando de uma área que pertence ao conjunto da
sociedade do Distrito Federal, que é malha urbana, é zona especial de
interesse social. Não se coloca em dúvida a importância da Embrapa ou o
mérito do conhecimento gerado, mas estamos debatendo uma área que tem
instrumento pactuado com a sociedade – disse.
De acordo com Luciano Nóbrega, da Agência de Desenvolvimento do
Distrito Federal (Terracap), o déficit habitacional do DF chega a 450
mil moradias e o governo também está desenvolvendo projetos
habitacionais em outras regiões, mas não dispõe de outra área de tamanho
semelhante que já não esteja ocupada.
Já Sérgio Gonçalves, da Superintendência do Patrimônio da União no
DF, disse acreditar em uma solução negociada, que propicie a
regularização das terras ocupadas pela Embrapa.
Falta de bom senso
Para os senadores Rodrigo Rollemberg
(PSB-DF) e Ana Amélia (PP-RS), autores do requerimento para realização
do debate, a construção de moradias na área da Embrapa Cerrados seria
uma demonstração de falta de bom senso do governo do Distrito Federal.
– O que estão querendo fazer com a Embrapa Cerrados, o que estão
querendo fazer com a sociedade brasileira nesse caso é uma agressão ao
bom senso - disse Rollemberg.
O senador considerou equivocada qualquer tentativa de colocar em
oposição a pesquisa agropecuária realizada pela Embrapa e a construção
de moradias, ambas consideradas importantes e relevantes.
Após ouvir os representantes do GDF e concluir que o governo se
mantém firme na disposição de fazer o conjunto habitacional, Ana Amélia
fez nova tentativa de entendimento, mas também reafirmou sua confiança
no Ministério Público e na Justiça.
– Faço um apelo, vamos encontrar um caminho, uma solução. Mas se
não houver, que seja o caminho a judicialização – disse a senadora.
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domingo, 1 de junho de 2014
SOBRE a nova loucura da SEDHAB : Público e pesquisadores defendem manutenção da área da Embrapa Cerrados
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