BLOG PRONTIDÃO
Cidades-sede da Copa vivem epidemia de homicídios
Polícia pretende concentrar o reforço policial nas áreas centrais e turísticas - demais locais vale o que o ministro do Esportes, Aldo Rebelo, recomendou aos turistas: não saiam à noite, evitem andar desacompanhados, não conduzam dinheiro ou objetos de valor
Das 12 capitais brasileiras que sediarão os jogos da Copa do Mundo, sete tiveram aumento dos assassinatos na última década. O quadro é apontado por cálculo feito com exclusividade para O GLOBO a partir dos dados de taxa de homicídio do Mapa da Violência 2014, lançado semana passada. Mesmo entre as outras cinco cidades-sede que tiveram redução no percentual de homicídios por cem mil habitantes, houve crescimento de outros tipos de crime, como roubo ou estupro, segundo outro levantamento feito também a pedido do GLOBO, este pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
“Assassinato virou rotina"
Em Salvador, mesmo morando a menos de dez quilômetros da Arena Fonte Nova, o estádio da Copa na capital baiana, a esteticista Anete Chagas, de 30 anos, não acredita que o reforço policial programado para os dias do Mundial vai conseguir diminuir a violência do seu bairro, o Iapi. — Assassinato aqui virou rotina.
Esta semana mataram um menino, e ninguém pode falar nada — diz Anete, chorando a morte do tio Ednilson Nunes, assassinado no dia do aniversário do filho. — Estava a família reunida, era aniversário do meu primo. Quando abrimos a porta, encontramos meu tio morto em casa. Havia um tiroteio, e um dos caras pulou o muro e o atingiu. O caso nunca foi resolvido.
Além dos homicídios, o levantamento do Fórum mostrou aumento nas taxas de registros de ocorrências policiais de outros crimes em parte das cidades-sede. Em São Paulo, apesar da queda nos homicídios, houve aumento de 75,7% em estupros e de 29,5% em roubos de veículos entre 2009 e 2013. Salvador, além do aumento de homicídios, teve crescimento de 332,6% em furtos de veículos de 2010 a 2013.
Já Brasília teve aumento de 132,2% no tráfico de drogas de 2006 a 2011. O Rio viu um crescimento de 199,6% em estupros de 2009 a 2013. E Cuiabá teve aumento de 91,1% em roubos de veículos de 2011 a 2013. — Em Recife, quando vemos os dados absolutos de 2006 a 2011, houve aumento de 72% em roubos de veículos e 411% em estupros — diz José Maria Nóbrega, coordenador do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade Federal de Campina Grande, ressaltando que no Nordeste têm crescido, ainda, os assaltos a bancos e caixas eletrônicos, muitas vezes com uso de explosivos.
O quadro de violência crônica nas capitais não é o único problema a ser levado em conta. Há a criminalidade nas periferias e regiões metropolitanas dessas capitais, que corre o risco de aumentar nos jogos — algo “muito provável”, segundo Julio Jacobo:
— A concentração de polícias estará nas zonas da Copa. E a criminalidade não vai para lá; estará nas cidades periféricas das capitais e em zonas menos protegidas das próprias capitais.
SP e Rio entre as melhores Autor do Mapa da
Violência, o sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz calculou para O GLOBO as
taxas de homicídio nas 12 cidades-sede do Mundial de 2002 a 2012, ano com os
dados mais recentes. Aquela com taxa mais baixa, São Paulo, tinha em 2012
índice de 15,4%. Em segunda melhor colocação vem o Rio (21,5%). Os piores casos
estão no Nordeste: Fortaleza (76,8%) e Salvador (60,6%).
Quando é vista a variação entre 2002 e 2012, cinco das 12
cidades-sede tiveram queda na taxa de homicídio, baseada no Sistema de
Informações de Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde: Belo Horizonte,
Cuiabá, Recife, Rio e São Paulo. Mas, de 2011 para 2012, as capitais mineira e
paulista viram aumento nas taxas.
— Na última década, a violência no país, antes mais
concentrada nos centros urbanos do Sudeste, espalhou-se por outras capitais,
para o Nordeste, e também para cidades menos populosas próximas das capitais.
Esse processo se deveu ao crescimento econômico em outras regiões; o aumento da
riqueza não foi acompanhado de melhora das instituições de segurança — diz
Jacobo.
“Epidemia” é como o vice-presidente do Fórum
Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima, classifica a situação
dos homicídios nas capitais do Mundial. Isso porque todas têm taxas de
homicídio acima de 10 por cem mil habitantes, o patamar considerado tolerável
pelos padrões internacionais.
Redução momentânea Segundo Zanetic, a cidade do Rio teve queda em 13 de
20 tipos de crimes (na comparação entre junho a agosto de 2007 e os índices
previstos para o período).
Já na Baixada, houve aumento em seis tipos: por exemplo, o
latrocínio aumentou 110,3% lá, enquanto caiu 32,5% na capital. — Essa redução
momentânea na capital foi principalmente entre os crimes patrimoniais, furtos e
roubos, com maior risco de crescer em grandes eventos, pelo maior fluxo de
turistas e de movimentação financeira, e que foram um dos principais alvos do
reforço policial — diz Zanetic. — Mas, depois do Pan, os crimes
patrimoniais voltaram a crescer.
Fonte: O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário