domingo, 1 de junho de 2014

Crediário virou religião, mas o deus Aprazo faliu



Josias de Souza

Shutter StockO IBGE informou que o PIB-anão registrou no primeiro trimestre de 2014 um crescimento que só pode ser enxergado com lupa: 0,2%. Houve uma freada geral. Sob densa bruma de pessimismo, os empresários seguram os investimentos. E os consumidores se retraem.


O ministro Guido Mantega (Fazenda) disse que as famílias pararam de consumir porque os juros subiram e a inflação não caiu. Em consequência, as mercadorias e o crédito ficaram mais caros. “Os juros são um remédio necessário para conter a inflação”, disse Mantega. “Infelizmente, os efeitos são esses. À medida que a inflação cair, haverá uma retomada do consumo.”


Mantega não disse, mas a inflação foi ao teto da meta por causa das derrapagens do governo. Vem daí o mau humor que os eleitores despejam nas pesquisas de 2014.
O crediário tornara-se uma espécie de religião. Sempre que ouvia ‘sem entrada’, o brasileiro entrava. A nova classe média, cantada em prosa e verso, entregara sua alma ao deus Aprazo.


Mantega diz que houve “um crescimento da massa salarial de 4% nos últimos doze meses”. O diabo é que, sob um regime de pleno emprego de dois salários mínimos, a renda só deu para levar as ovelhas até a porta do inferno, onde se lê: ‘SPC’.


Muitos crediaristas se arrependem: “Misericórdia, senhor, atrasei as prestações de março e abril.” Mas o deus Aprazo é inclemente: “Acerte maio, pague os atrasados com juros de mora e lembre-se: o senhor é seu pastor. Mas se não for bom pagador, o crédito lhe faltará.”

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