O comportamento de regozijo do mercado financeiro toda vez que
uma pesquisa de opinião mostra a chance de derrota de Dilma na eleição
presidencial tem gerado críticas por parte dos petistas, inclusive do
mais graduado deles, o ex-presidente Lula, que chegou a ironizar
recentemente esse comportamento:
"Pelo o que eu sei esse tal de mercado
internacional nunca votou em você (Dilma) e nunca votou em mim. Quem
vota na gente é o povo, cujo único mercado que conhece é onde compra
feijão".
Mas desde sempre a situação da economia não apenas influencia o resultado das eleições como também a situação política interfere na economia, especialmente em anos eleitorais como o que vivemos. “É a economia, estúpido”, já advertiu o marqueteiro James Carville na campanha que elegeu Bill Clinton presidente dos Estados Unidos.
Lula sabe o que é isso. Já tivemos no mercado internacional o
lulômetro, que o banco de investimentos americano Goldman Sachs criou
na eleição de 2002 para medir a influência na cotação do dólar do risco
de Lula vir a ser eleito presidente da República. O modelo matemático
previa que o dólar chegaria a 3 reais em outubro, e ele chegou a 4
diante da realidade de Lula subindo a rampa do Palácio do Planalto.
E,
diante da desconfiança do tal mercado, Lula teve que lançar a “Carta
aos Brasileiros” para garantir que não mudaria a política econômica.
Anos depois, Lula se confessaria arrependido de ter feito tal carta, o
que só reforça a desconfiança atual dos mercados com o governo Dilma.
Depois
de duas eleições em que reeleger Lula ou eleger Dilma não parecia
perigoso para a economia do país, chegamos este ano a uma eleição
diferente. O ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, que deve ser o
principal nome da economia em um eventual governo do tucano Aécio
Neves, já previra que a possibilidade de Dilma se reeleger no primeiro
turno, como indicavam as pesquisas até pouco tempo, poderia ter o mesmo
efeito que a vitória de Lula em 2002.
Em consequência, a
possibilidade de haver segundo turno, com boa chance de derrota do PT,
poderia fazer a Bolsa de Valores retomar o crescimento, depois de ter
caído quase 40% nos anos Dilma.
zxy5Na semana passada, diante da
pesquisa Datafolha que mostra um empate técnico entre a presidente Dilma
e o candidato do PSDB Aécio Neves num segundo turno, o Ibovespa subiu,
empurrado especialmente pelas ações das estatais.
O que quer dizer que
os investidores acreditam que num novo governo as estatais não serão
mais usadas como instrumentos de política econômica, mas como empresas
competitivas num mercado internacional cada vez mais difícil.
Isso
por que o mercado, dizem os especialistas, é essencialmente um
instrumento da democracia, como transmissor de informações e expressão
da opinião pública. Lembrei-me de um debate, anos atrás, em que fiz a
mediação entre dois dos pais do Real, os economistas Gustavo Franco e
André Lara Resende, hoje atuando como assessor de Marina Silva, sobre o
qual já escrevi na coluna.
Quando o assunto foi o mercado, os dois
concordaram em que a sua impessoalidade sai sempre mais barata para o
contribuinte. “Goste-se ou não, o mercado é a forma mais eficiente e
influente de expressão da opinião pública, e transparência é tudo quando
se trata do funcionamento do mercado”, disse Gustavo Franco.
Para
ele, uma coisa é certa: “quanto mais distantes do mercado estiverem as
relações entre o público e o privado, quanto mais discricionárias as
decisões, e quanto menor a transparência, maior será a corrupção”.
André
Lara Resende destacou que a contribuição mais relevante do economista
austríaco liberal Friederich Hayeck “é o seu papel de defensor dos
mercados, como insuperável transmissor de informação e estimulador da
criatividade, onde se pode encontrar a mais coerente e fundamentada
análise dos riscos econômicos e sociais do aumento do papel do Estad;&
Para
Franco, “quem vai terminar com a sociedade do privilégio é a economia
de mercado, e não é outro o motivo pelo qual a estabilização, a
abertura, a desregulamentação, e a privatização geraram tantas tensões”.
A economia de mercado, na definição de Franco, “é subversiva numa
sociedade do privilégio, pois propugna a competição, a impessoalidade e a
meritocracia, e dispensa, tanto quanto possível, a interveniência de um
Estado cheio de vícios”.
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