A pouco
mais de três meses das eleições, a presidente-candidata Dilma Rousseff
tem diante de si um panorama cada vez mais desafiador. O último levantamento
do Datafolha aponta que o segundo turno é muito provável. E, no segundo
turno, Dilma tem 44% das intenções de voto contra 40% de Aécio Neves
(PSDB). Como a margem de erro é de dois pontos percentuais, há empate
técnico pela primeira vez.
A queda
nas pesquisas é lenta mas contínua. Em fevereiro, por exemplo, o
Datafolha mostrava Dilma com 54% das intenções de voto no segundo turno.
Aécio tinha 27%. Contra Eduardo Campos (PSB), o placar era de 55% a 23%
a favor de Dilma.
Alguns
dados específicos ajudam a compreender as dificuldades da campanha
petista – que, duas semanas após o início do período eleitoral, ainda
não foi às ruas. O cenário é pior nas grandes cidades, que normalmente
antecipam tendências gerais do eleitorado. Nos municípios com mais de
500.000 habitantes, a avaliação positiva do governo passou de 30% para
25% do eleitorado. Os que rejeitam a gestão de Dilma agora são 37%, ante
31% no último levantamento. Ela perderia as eleições nessas cidades,
assim como nos municípios que têm entre 200.000 e 500.000 moradores.
REJEIÇÃO DEVORA O PT
A
rejeição de Dilma é maior do que a de todos os candidatos presidenciais
vencedores desde 1994, considerado o momento da campanha. Hoje, 35% dos
eleitores não votariam na presidente de forma alguma. Também por isso,
a possibilidade de uma vitória de Dilma no primeiro turno são reduzidas:
Dilma tem pouco potencial de crescimento e dificilmente ultrapassará os
40%.
Dessa forma, ganham relevância os número sobre um eventual segundo
turno. É por isso que o empate técnico com Aécio assusta os petistas.
"Eu, no lugar dela, eu estaria muito preocupado com a possibilidade de
haver um segundo turno, que é o que tudo indica", diz o professor
Ricardo Caldas, do Instituto de Ciência Política da Universidade de
Brasília. Caldas também afirma que, embora possa
haver exceções, as tendências dos grandes centros costumam influenciar o
restante da população. Ou seja: a queda mais acentuada de Dilma nas
grandes cidades é um péssimo sinal para a campanha da petista. Mas não
foi só lá que as intenções de voto da petista se reduziram.
NORDESTE BALANÇA
No
Nordeste, que desde 2002 é uma fortaleza eleitoral dos presidenciáveis
petistas, Dilma caiu de 55% para 49% nas intenções de voto para o
primeiro turno, de acordo com o último Datafolha. Enquanto Dilma faz
campanha apenas na internet, os principais adversários da petista
priorizam os estados nordestinos. Nesta fim de semana, Eduardo Campos
vai visitar o Crato (CE). Aécio Neves viaja a Juazeiro do Norte (CE),
onde vai participar das cerimônias pelos 80 anos da morte do Padre
Cícero.
Das
quatro faixas de renda consideradas pelo Datafolha, Dilma perderia o
segundo turno em três, no cenário em que o adversáro é Aécio Neves. Ela
venceria apenas entre os eleitores com renda familiar de até dois
salários mínimos, onde ela perdeu três pontos percentuais na última
pesquisa. Dilma também é derrotada no segundo turno entre os eleitores
escolaridade de nível médio ou superior. Venceria somente no grupo que
estudou até o ensino fundamental.
A
presidente tem nas mãos a máquina do Estado e uma militância muito mais
numerosa e capilarizada do que PSDB e PSB. Além disso, ela tem quase o
dobro do tempo de TV de seus dois principais adversários somados. E, no
último Datafolha, os três perderam apoio na faixa dos eleitores que têm
renda familiar acima de dez salários mínimos. É um sinal de que as
escolhas ainda são voláteis. Hoje, 53% dos eleitores conhecem Dilma
"muito bem", mas apenas 17% respondem o mesmo sobre Aécio Neves, e 7% a
respeito de Eduardo Campos.
TODOS CONTRA DILMA
Aécio
Neves e Eduardo Campos não têm crescido significativamente nos números
do primeiro turno, apenas quando o confronto é direto com Dilma Rousseff
- ou seja, nas sondagens sobre o segundo turno. Isso indica que boa
parte do eleitor é contra Dilma e votaria no candidato que pudesse
derrotá-la, mas não tem forte afinidade com Aécio ou Campos.
Para O
PT, portanto, é mais importante melhorar a imagem da presidente do que
atacar os adversários. O problema é que os petista já vêm tentando fazer
isso há um ano, desde que as grandes manifestações de rua iniciadas em
junho de 2013 tomaram o país. E a estratégia teve pouco efeito.
Dilma
convocou representantes de setores diversos para dialogar. Intensificou
as viagens pelo Brasil, mesmo que para inaugurar obras pouco
importantes. Abusou do direito de convocar cadeia de rádio e televisão. Passou a fazer discursos mais longos, com menções aos projetos-vitrine de seu governo.Tratou a Copa do Mundo
como se fosse um programa de governo e multiplicou as críticas ao que
chamou de "pessimistas". Adotou a retórica de candidata, com ataques
políticos, em eventos oficiais.
Mas não adiantou. Na Copa, por exemplo, Dilma compareceu apenas à abertura e à final. Foi vaiada e hostilizada nos dois jogos. As aparições da presidente diante de uma plateia comum, não selecionada por sua lealdade política (como acontece nos eventos da Presidência) serviu para mostrar o quão grande é a rejeição da petista. Serão quinze semanas imprevisíveis até a eleição. Do site da revista Veja
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