14/10/2014
às 6:45
Prestem atenção a esta fala do ministro-chefe da Secretaria-geral da Presidência, Gilberto Carvalho:
“Atravessamos um momento delicadíssimo da nossa campanha. Plantou-se um ódio enorme em relação a nós. Eu não sei o que foi aquilo. Em São Paulo, estava muito difícil andar com o broche ou a bandeira da Dilma. Em Brasília, a cidade estava amarela, sem vermelho. O ódio tem sido construído com a gente sendo chamado de ladrão. Com frequência, a gente vem sendo chamado com desprezo. Estamos sendo chamados de um grupo de petralhas que assaltaram o governo”.
“Atravessamos um momento delicadíssimo da nossa campanha. Plantou-se um ódio enorme em relação a nós. Eu não sei o que foi aquilo. Em São Paulo, estava muito difícil andar com o broche ou a bandeira da Dilma. Em Brasília, a cidade estava amarela, sem vermelho. O ódio tem sido construído com a gente sendo chamado de ladrão. Com frequência, a gente vem sendo chamado com desprezo. Estamos sendo chamados de um grupo de petralhas que assaltaram o governo”.
Opa! De
“petralhas”, eu entendo, porque fui eu que inventei a palavra, né?,
fundindo “petista” com “Irmãos Metralhas”, já lá se vão, atenção!, ONZE
ANOS. Ouça bem, ministro Carvalho! Eu criei essa palavra há 11 anos, em 2003, na primeira gestão
do seu partido à frente do governo federal. Ela já foi parar no Grande
Dicionário Sacconi da Língua Portuguesa, como vocês podem ver abaixo.
Desde o
primeiro dia, expliquei o sentido do vocábulo e deixei claro, o que está
firmado em livro — “O País dos Petralhas I” (Editora Record) —, que nem
todo petista é “petralha”, só aqueles que justificam o assalto aos
cofres públicos em nome de uma causa. Apanhei que foi uma beleza! Ainda
hoje, uma vasta rede de blogs, sites, revistas e publicações as mais
xexelentas, todos fartamente financiados com dinheiro público, tem,
entre suas missões, tentar me desqualificar.
Quando, em
passado remoto, apenas 3% dos brasileiros consideravam o governo Lula
ruim ou péssimo, eles sugeriam abertamente que eu deixasse o país, que
eu me mudasse pra Miami, que eu fosse para a ponta do pavio. Quando a VEJA me convidou para hospedar
este blog, que já existia, em 2006, vieram os vaticínios: “Vai durar
pouco! Quem vai querer ler esse cara?”. Pois é. O blog recebe, em média,
350 mil visitas por dia, com picos de mais de 500 mil.
Criei o
termo em 2003 porque pessoas vinham me contar coisas horripilantes sobre
o que se passava nos bastidores do governo. Mas quem queria saber?
“Direitista!”, gritavam. “Tucano!”, vociferavam. “Vendido!”, babavam.
Fiquei na minha. No máximo, indagava se o lado vitorioso não costuma
pagar sempre mais, se é que entendem a ironia. Aí veio o escândalo do
mensalão. Aí veio o escândalo dos aloprados. Aí veio a primeira leva de
acusações sobre desmandos na Petrobras. Aí vieram as lambanças no Dnit e
assemelhados. Aí veio a compra da Refinaria de Pasadena. Aí vieram
Paulo Roberto Costa, Alberto Youssef e cia.
A que
“ódio” se refere Gilberto Carvalho? Eu criei a palavra “petralha”, mas
eu não criei “os petralhas”. Tampouco os criou a população de São Paulo.
A fala de Carvalho sugere que há uma repulsa artificial ao partido, não
uma reação objetiva à forma como ele governa — que, ainda assim, conta
com a aprovação de milhões, a estarem certas as pesquisas de opinião.
Infelizmente,
o ministro se dedica, mais uma vez, à demonização de pessoas. Em junho,
Dilma ainda vencia a eleição no primeiro turno, e Alberto Cantalice,
vice-presidente do PT, resolveu criar uma lista negra de
nove jornalistas, articulistas e comunicadores, encabeçada por mim — os
outros são Diogo Mainardi, Augusto Nunes, Arnaldo Jabor, Demétrio
Magnoli, Guilherme Fiuza, Lobão, Danilo Gentili e Marcelo Madureira —,
que fariam mal ao Brasil. Não se ouviu um pio de protesto por aqui. Quem
reagiu foi a organização internacional de defesa da liberdade de
imprensa
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/reporteres-sem-fronteiras-a-mais-importante-entidade-internacional-de-protecao-ao-trabalho-de-jornalistas-critica-a-lista-do-pt-de-inimigos-da-patria/.
Janio de Freitas, articulista da Folha, como sou, não criticou nem a lista nem o PT, mas a… Repórteres Sem Fronteiras.
O PT tenta
posar de vítima de crime de intolerância — como se o partido fosse o
exemplo acabado da… tolerância. É uma piada! Por que seria vítima? Já
indaguei aqui: estamos diante de alguma vanguarda que desafia o statu
quo? Os petistas constituem hoje os porta-vozes da luta de oprimidos que
não têm outro canal para se expressar? A legenda representa algum valor
de vanguarda que uma sociedade atrasada e reacionária se negaria a
abrigar? Ora, ministro Gilberto Carvalho…
Dirijo, então, ao chefão petista as perguntas que fiz em minha coluna. Responda, ministro, por favor:
“É preciso
assaltar os cofres públicos para conceder Bolsa Família? É preciso usar
de forma escancaradamente ilegal os Correios para implementar o ProUni?
É preciso transformar a gestão pública na casa-da-mãe-Dilma (como Lula,
o pai, já a chamou) para financiar o Minha Casa, Minha Vida? Pouco
importa o juízo que se faça sobre esses programas, a resposta,
obviamente, é “não”. A matemática elementar nos diz que, com menos
roubalheira, sobraria mais dinheiro para os pobres.”
A fala de
Carvalho faz parte de uma ação coordenada do comando político do PT. O
partido quer despertar o poder sempre forte — e violento — das falsas
vítimas. Ódio, ministro Gilberto Carvalho, foi aquele destilado contra
Marina Silva no horário eleitoral do seu partido, acusando-a, e o senhor
sabe se tratar de uma mentira, de tentar retirar R$ 1,3 trilhão da
educação.
Ódio, ministro Gilberto Carvalho, foi aquele destilado no
programa contra Marina Silva, acusando-a de querer tirar a comida do
prato dos brasileiros, e o senhor sabe se tratar de uma mentira, porque
ela defendia a independência do Banco Central. E quem escreve aqui não é
um admirador da líder da Rede, como sabem todos. Ódio é a pregação
terrorista que se vê hoje na TV, agora contra Aécio Neves e FHC,
fraudando números, mentindo de forma descarada, massacrando a história,
distorcendo os fatos.
O PT inventou a corrupção?
Não! Eu nunca escrevi que o PT inventou a corrupção, até porque seria falso. É claro que não! Já havia antes. Está na Bíblia. Existia antes dela. A questão relevante, desde sempre, não está em ser ou não corrupto — em sendo, que o sujeito seja expelido da vida pública. A criação detestável e exclusiva do PT — e foi nesse contexto que surgiu a palavra “petralha” — é a suposta “corrupção do bem”, a suposta “corrupção necessária”, a suposta “corrupção libertadora”. Esse relativismo, diga-se, está absolutamente adequado ao amoralismo das esquerdas históricas. Stálin, por exemplo, era, a seu modo, incorruptível. Ele só não se importava em matar inocentes — inclusive ex-camaradas de jornada — para consolidar o seu poder.
Se parte
considerável da população alimenta hoje um sentimento de repulsa em
relação ao PT, isso não se deve a suas qualidades. Não conheço ninguém, e
acho que ninguém conhece, que deixe de votar no partido por causa dos
ditos “programas sociais” — que eu, no meu rigor, chamo de medidas
compensatórias; se eu fosse de esquerda, diria até que são
contrarrevolucionárias, como devem achar o PSOL, o PCO e o PSTU. Segundo
a lógica perturbada das esquerdas, eles têm razão, não é mesmo?
Se o PT
expulsasse da legenda os condenados por corrupção ativa, entre outros
crimes, em vez de chamá-los de “heróis do povo brasileiro”, talvez a
reação da população fosse outra.
E ainda
lhe dou um conselho, senhor Carvalho: não sei se sua candidata ganha ou
perde a eleição. Como o senhor sabe, torço para que ela perca. Mas, caso
vença — certamente seria por margem bem estreita —, pense que será
preciso governar depois. E chegar ao fim do mandato. Vocês perderam a
mão e a leitura da realidade.
Ah, sim:
Carvalho estava em Pernambuco, num encontro com ditos “movimentos
sociais”, que divulgaram em seguida um manifesto em favor de Dilma.
Muitos dos signatários são grupamentos fartamente financiados com…
verbas federais. Carvalho ainda não percebeu que é crescente o número de
pessoas que já não suportam esse procedimento. Justo ele, o encarregado
de “falar com a sociedade”. É que Carvalho integra aquele grupo de
homens que não entende que possa existir uma “sociedade” fora dos
interesses do petismo.
E há!
As pessoas
estão se opondo ao PT, senhor ministro, porque, de fato, não aguentam
mais os “petralhas”. Sim, eu criei o termo, mas vocês criaram a espécie.
Espalhem este artigo. Vamos fazer o debate.
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