terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Por que na guerra política ficar no ataque sempre é melhor?


Por lucianohenrique on 19 de dezembro de 2014 na página Ceticismo Político.

Como um exemplo do que acontece praticamente todos os dias em debates, sejam na Internet ou fora dela, observe abaixo como funciona a interação política entre um bolivariano e um republicano, em muitos casos (embora seja verdade que a coisa já está melhorando):

B: Você quer ajudar a Casa Grande e as seis grandes famílias de mídia, que não querem a evolução da sociedade.

R: Não, eu me posiciono a favor da liberdade de imprensa e este sistema é melhor para nós, pois sem estarem submetidas ao estado, há melhores opções para o público.

B: A elite sempre tenta nos enganar. Você, como representante da elite, quer ver os pobres sofrerem, e por isso não quer uma mídia democrática.

R: Não, não é isso. É que eu defendo o princípio… [e a conversa segue]

Sabe que isso cansa? Depois de algum tempo, já começo a perder a paciência ao ver situações deste tipo. Sob a perspectiva de padrões de linguagem, parece que um lado gosta do padrão “você é (x)”, enquanto o outro gosta do padrão “eu não sou (x)”. Mapeie os padrões e divirta-se.

Um amigo me pediu, por exemplo, uma forma de revidar o seguinte ataque: “Quero ver você falar agora que o Obama é comunista”.

Eu sugeri a resposta básica: “Eu quero ver você parar com essa encenação ridícula. Obama é um socialista. Mas qual é o cretino que te ensinou que relações diplomáticas entre Estados Unidos e Cuba igualam os dois países?”.

E não é que funcionou? O bolivariano recuou depois deste ataque.

Agora observe um ponto: em minha “resposta”, onde se encontra um padrão similar a “eu não sou (x)” em qualquer lugar que seja? Em nenhum lugar. Mesmo assim, meu ataque contém embutida minha defesa. Como sempre falo, a prioridade é o ataque.

É difícil fazer as pessoas perderem a maldita mania de usar o padrão “eu não sou (x)” e passarem a usar o padrão “você é (x)” nos debates políticos. Em suma, já passou da hora de deixarmos de tolerar que do nosso lado pessoas não executem o princípio dizendo que na guerra política o agressor geralmente prevalece sem ao menos sofrer um puxão de orelha. Nosso trabalho deve ser didático e paciente, mas também assertivo e às vezes duro.

Para que você entenda o funcionamento deste princípio na prática, basta lembrar-se de dois pontos chave:

1) Quem sofre um ataque e unicamente se defende (sem atacar) pode não ser capaz de atingir todo o público que assistiu o ataque
2) O ataque sempre se destaca mais que uma defesa, perante o público, que quer ver “sangue”

Com esses dois pontos em mente, é óbvio que todo aquele que não consegue largar a maldita mania de ficar com “eu não sou (x)” enquanto deveria estar dizendo “você é (x)” sempre ficará em desvantagem.

É evidente que uma defesa é melhor do que nada. Mas qualquer coisa é melhor que nada.

Mas difícil arrumar uma ilustração melhor do que os jogos de futebol. Aí é só lembrar o que fica na mente do público: são os gols (e os ataques) ou as defesas da zaga e do goleiro? É claro que é a primeira opção.

É exatamente o mesmo que ocorre na guerra política. São seus ataques, com base em controle de frame e rotulagem, que permanecerão na mente do público. Assim como ocorre com seu adversário. Quanto às suas defesas? Elas alcançarão bem menos pessoas que, naturalmente, não estão muito interessadas em “defesas”.

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