terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Pior que ser brasileiro é ser ÍNDIO brasileiro!O Que os Povos Indígenas Podem Esperar?,


O Que os Povos Indígenas Podem Esperar?, por Yuri Vasconcelos

Sugerido por Almeida

O Que os Povos Indígenas Podem Esperar?
Publicado no site do PCB – Partido Comunista Brasileiro
por Yuri Vasconcelos*


A questão indígena no Brasil continua a ser um debate secundarizado ou mesmo abandonado pelas políticas públicas. Depois de séculos de extermínio sistemático e vários anos sendo considerados, legalmente, como seres inferiorizados e forçados a uma política integracionista e homogeneizadora, as políticas neoliberais na atualidade aprofundam o descaso do Estado brasileiro com as populações indígenas.


Passadas as eleições 2014, as comunidades indígenas já começam a sentir que a “nova” velha política do Estado brasileiro dará continuidade às mazelas plantadas pelo colonialismo, como a perda de suas terras ancestrais, a pobreza, os altos índices de mortalidade infantil, o preconceito, entre outras.


As políticas neoliberais implementadas pelos sucessivos governos (tucanos e petistas) intensificam os ataques aos direitos indígenas. Observa-se um aprofundamento do que chamamos de mercantilização da vida, ou seja, a mercantilização dos serviços públicos essenciais, como saúde, educação, transporte, previdência, moradia, cultura, alimentação, enfim, o direito à vida.


Os processos de privatização (estradas, telecomunicações, sistemas de geração e distribuição de energia, empresas de saneamento, sistema de ferrovias, empresas de transporte público, aeroportos) partem de uma falsa lógica de que a ação privada é melhor para o conjunto da sociedade e que levariam a uma oferta de bens e serviços de qualidade superior e preços mais adequados. Entretanto, longe de atender às necessidades da população, observa-se que as decisões políticas sempre operam no sentido de favorecer as empresas privadas, aumentando os seus lucros, como, por exemplo, nos casos das tarifas elevadas e nos péssimos serviços ofertados, como saúde e educação.


O bem público passa a ser encarado e tratado como aquilo que é a essência mesma do modelo em que vivemos: simples mercadoria. Portanto, os sérios problemas que os Povos Indígenas vivenciam hoje nos seus Territórios não serão resolvidos por dentro da institucionalidade burguesa, uma vez que não são enxergados como questões de direito a essas populações, mas como simples mercadorias.


A terra, tão essencial para as comunidades indígenas, também é vista como mera mercadoria, Continua a não ser garantido em nosso país o direito à autodeterminação dos povos indígenas – controlar suas vidas e suas terras. A presença de posseiros, o mercado ilegal de mineração, o uso de pastagem e a falta de políticas públicas são constantes nos territórios indígenas. Por outro lado, várias comunidades indígenas continuam sem possuir o direito à terra, portanto, sem o direito de locais para morar, realizar suas atividades produtivas e praticar suas manifestações culturais.


Essa situação acarreta em prejuízos econômicos, sociais, ambientais e culturais, uma vez que a vida indígena está diretamente relacionada com a terra. Expulsos dos seus territórios, com os procedimentos de demarcação de suas terras paralisados, ataque institucionais contra os seus direitos e manifestações ruralistas anti-indígenas, intensifica-se um quadro de forte violência contra esses Povos. O Conselho Indigenista Missionário (CIMI) divulgou, em julho de 2014, o relatório "Violência contra os povos indígenas no Brasil - Dados de 2013”, onde demonstra que é crescente a desvalorização e a violência contra os povos indígenas no Brasil.

REGISTROS DE CASOS CONTRA POVOS INDÍGENAS


Descrição - Quantidade


Violência contra o patrimônio - 97 casos
Conflitos relativos a direitos territoriais - 10 casos
Invasões possessórias, exploração ilegal de recursos naturais e danos diversos ao patrimônio - 36 casos
Assassinato - 46 casos (53 vítimas)
Tentativa de assassinato - 29 casos (328 vítimas indígenas, estudantes e 04 comunidades)
Homicídio culposo - 10 casos (13 vítimas)
Ameaça de morte - 10 casos (14 vítimas indígenas e várias comunidades)
Ameaças variadas - 10 casos (35 vítimas indígenas e várias comunidades)
Lesões corporais dolosas - 07 registros (08 vítimas e 01 comunidade)
Abuso de poder - 02 casos (06 vítimas e 01 comunidade)
Racismo e discriminação étnico cultural - 23 ocorrências (3.618 vítimas indígenas, várias comunidades e povos do Brasil)
Violência sexual - 11 casos (10 vítimas e 01 comunidade)
Suicídio - 54 casos (56 vítimas)
Desassistência na área de saúde - 44 casos (437 vítimas)
Morte por desassistência à saúde - 06 casos (07 vítimas)
Mortalidade infantil - 05 casos (06 vítimas)
Disseminação de bebida alcoólica e outras drogas - 04 casos (3.215 vítimas)
Desassistência na área de educação escolar indígena - 22 casos (467 vítimas)
Desassistência geral - 39 casos (3.826 vítimas)

Fonte: CIMI.

Esse quadro nefasto tende a piorar nesse próximo período, dada a omissão e morosidade por parte do governo federal na regularização das terras indígenas, seguindo uma postura de subserviência às pressões do agronegócio, especialmente da bancada ruralista no Congresso Nacional.


Observa-se a continuação e intensificação da política de favorecimento ao agronegócio, em detrimento da agricultura familiar e ao uso coletivo das terras. Essa política significa uma intensificação da concentração de terra, da destruição ambiental, com uso de transgênicos e agrotóxicos, e dos impactos sociais e culturais de grave expressão, visto as constantes expulsões dos indígenas, quilombolas, ribeirinhos e pequenos agricultores das suas terras, para tornar oportuna a produção para a exportação.


Analisando o gráfico abaixo, percebemos que o discurso de que o agronegócio é o modelo responsável por alimentar o país e empregar a força de trabalho camponesa é falacioso, uma vez que, segundo o censo rural do IBGE, a maior parte da produção para alimentação do povo brasileiro (70%) e emprego dos trabalhadores está na agricultura familiar, mesmo esta tendo menos crédito e poucas terras. O agronegócio, por sua vez, concentra terras, recebe mais créditos e produz apenas 30% do que é consumido pela população. O resto da produção, em sua maioria commodities, é exportado.

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