A menor taxa da história esconde empregos de má qualidade, a baixa qualificação e a falta de competitividade internacional
Felipe Vanini
São Paulo
30 JAN 2014 - 17:17 BRST
À medida que o Brasil criou postos de trabalho até atingir sua mais
baixa taxa histórica de desemprego, como mostrou nesta quinta-feira o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com a sua Pesquisa Mensal de Emprego que apontou em 2013 uma taxa média de desocupação de 5,4%, a produtividade do trabalhador praticamente ficou estagnada e emperra um verdadeiro salto na qualidade da economia.
Segundo um levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a produtividade da indústria nacional aumentou 1,1% de 2001 a 2012, enquanto os salários aumentaram absurdos 169%. Em comparação com outros 13 países de condições semelhantes, como Espanha, Austrália, Canadá, México, Chile, Argentina, entre outros, o estudo da CNI mostra que os trabalhadores brasileiros são mais produtivos apenas que os da Índia, que é um péssimo país para se comparar sob qualquer aspecto.
Entre as razões que mais influenciam o mau desempenho estão, como sempre, o peso dos impostos, a infraestrutura e logística e a educação, avalia a CNI. Outra pesquisa da Fundação Getúlio Vargas mostrou o mesmo na comparação com a economia mais eficiente do mundo, a dos Estados Unidos, chegando à conclusão de que um norte-americano era 82% mais produtivo que um brasileiro em 2012.
O Brasil tem sido um sucesso em um tipo de criação de emprego: os de má qualidade, ocupados por trabalhadores de baixa qualificação e que recebem salários altos. Ou que custam caro demais para quem tem de arcar com eles. Empregos com esse perfil compuseram o grosso do 1,1 milhão de vagas que o Cadastro Geral de Empregos (Caged) apurou em 2013.
Para 2014, o ministro do Trabalho, Manoel Dias, diz esperar que sejam criados 6 milhões de postos de trabalho. E a perspectiva é que não sejam muito melhores do que os criados no ano passado.
Mas, além da baixa produtividade, a distribuição do emprego no país tem se dado de forma desigual na comparação entre as regiões. A região Sul, por exemplo, teve uma taxa de desemprego de 3,8% para sua população entre 25 e 39 anos, enquanto no Nordeste o índice chegou a 10,3%, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD) mais recente, feita pelo IBGE.
Para Alcides Leite, professor de economia da Trevisan Escola de
Negócios, a disparidade deve-se à diferença da estrutura econômica das
regiões brasileiras, que é menos desenvolvida nas regiões Nordeste e
Norte.
Mas ele também avalia que os programas de assistência social, como o Bolsa Família, mais fortes nessas áreas, em vez de criar laços que deixam as famílias dependentes, ativam as engrenagens econômicas regionais, irrigando o comércio local com mais recursos. “O que se observa no Nordeste é que muitos trabalhadores chamados de desalentados, ou seja, que não procuravam mais emprego, agora buscam essas oportunidades, que existiam para poucos antes e isso tem impacto no resultado da pesquisa”, avalia.
Essa saudável existência de mais postos de trabalho, no entanto, acaba alimentando o motor da alta rotatividade. Para o secretário-geral da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Sérgio Nobre, hoje é comum um trabalhador trocar de emprego duas ou três vezes por ano. “Às vezes, fazem isso por aumentos salariais que não chegam nem mesmo a 100 reais. Se o Brasil não criar oportunidades mais estáveis, nunca vamos conseguir entrar no mesmo quadro de comparação das economias desenvolvidas”, diz Nobre.
No Brasil, após seis meses de trabalho com a carteira assinada, como é chamado o contrato formal, o cidadão passa a ter direito ao seguro desemprego, pago pelo Governo pelo prazo de três a cinco meses e que pode atingir o valor máximo de 1.268,49 reais (308 dólares).
Como o pagamento de hora extra é bastante incomum devido aos altos custos ligados a isso, muitos trabalhadores usam o famoso jeitinho para conseguir “acordos” em que são demitidos, deixando, assim, de entrar com uma ação judicial. Desse modo, eles podem acessar o salário desemprego, desde que não sejam contratados na carteira novamente. A Justiça trabalhista brasileira é rigorosa e, em regra, decide rapidamente e a favor dos trabalhadores.
O economista Julio Gomes de Almeida, da Universidade de Campinas (Unicamp), chega a dizer que já existe uma cultura em que a troca de emprego virou uma norma. “Existem pessoas que saem de um emprego já contando com os recursos da demissão até uma futura contratação numa posição muito semelhante à que foi abandonada”, afirma. “Não faz muito sentido financeiro do ponto de vista de um economista, mas muita gente está nessa.”
A educação poderia ser a resposta. Mas a reclamação de parte do
empresariado é que o ensino básico da população que disputa as vagas de
salários mais baixos é tão fraca que se torna difícil conseguir ensinar
qualquer coisa mais elaborada para eles.
Além de afetar a produtividade, colocando o país em desvantagem na competição com os rivais internacionais, a baixa qualificação é um peso diário para quem precisa contratar. E pode ser sentida em negócios tão simples como a empresa de decoração de gesso que Adalberto Antão possui na cidade de Santo André, na Grande São Paulo. De acordo com ele, um instalador de gesso pode faturar cerca de 4.500 reais por mês.
No entanto, ele sofre para encontrar profissionais e na maioria das vezes precisa arcar com os 400 reais do curso de capacitação inicial para formar seus funcionários.
Já Henrique Coronati, diretor-geral da loja Retrô Gol, que vende camisas de clubes esportivos antigas em quatro endereços em São Paulo, afirma que após quatro anos no ramo de franquias ainda não conseguiu fechar uma folha salarial anual de um funcionário, pois eles saem antes de completar um ano. “Para nós que lidamos com o comércio e não podemos pagar um salário alto, é praticamente impossível segurar um trabalhador. E cada vez mais parece que eles olham o emprego como algo descartável”, diz.
E enquanto os empregos que o Brasil cria continuarem sendo de má qualidade, caros para os empregadores, ruins para os empregados, e de baixa produtividade, eles devem ser medidos pelo peso que têm e vistos, de fato, como descartáveis.
Segundo um levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a produtividade da indústria nacional aumentou 1,1% de 2001 a 2012, enquanto os salários aumentaram absurdos 169%. Em comparação com outros 13 países de condições semelhantes, como Espanha, Austrália, Canadá, México, Chile, Argentina, entre outros, o estudo da CNI mostra que os trabalhadores brasileiros são mais produtivos apenas que os da Índia, que é um péssimo país para se comparar sob qualquer aspecto.
Entre as razões que mais influenciam o mau desempenho estão, como sempre, o peso dos impostos, a infraestrutura e logística e a educação, avalia a CNI. Outra pesquisa da Fundação Getúlio Vargas mostrou o mesmo na comparação com a economia mais eficiente do mundo, a dos Estados Unidos, chegando à conclusão de que um norte-americano era 82% mais produtivo que um brasileiro em 2012.
O Brasil tem sido um sucesso em um tipo de criação de emprego: os de má qualidade, ocupados por trabalhadores de baixa qualificação e que recebem salários altos. Ou que custam caro demais para quem tem de arcar com eles. Empregos com esse perfil compuseram o grosso do 1,1 milhão de vagas que o Cadastro Geral de Empregos (Caged) apurou em 2013.
Para 2014, o ministro do Trabalho, Manoel Dias, diz esperar que sejam criados 6 milhões de postos de trabalho. E a perspectiva é que não sejam muito melhores do que os criados no ano passado.
Mas, além da baixa produtividade, a distribuição do emprego no país tem se dado de forma desigual na comparação entre as regiões. A região Sul, por exemplo, teve uma taxa de desemprego de 3,8% para sua população entre 25 e 39 anos, enquanto no Nordeste o índice chegou a 10,3%, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD) mais recente, feita pelo IBGE.
O Brasil tem sido um sucesso em um tipo de
criação de emprego: os de má qualidade, ocupados por trabalhadores de
baixa qualificação e que recebem salários altos. Ou que custam caro
demais para quem tem de arcar com eles.
Mas ele também avalia que os programas de assistência social, como o Bolsa Família, mais fortes nessas áreas, em vez de criar laços que deixam as famílias dependentes, ativam as engrenagens econômicas regionais, irrigando o comércio local com mais recursos. “O que se observa no Nordeste é que muitos trabalhadores chamados de desalentados, ou seja, que não procuravam mais emprego, agora buscam essas oportunidades, que existiam para poucos antes e isso tem impacto no resultado da pesquisa”, avalia.
Essa saudável existência de mais postos de trabalho, no entanto, acaba alimentando o motor da alta rotatividade. Para o secretário-geral da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Sérgio Nobre, hoje é comum um trabalhador trocar de emprego duas ou três vezes por ano. “Às vezes, fazem isso por aumentos salariais que não chegam nem mesmo a 100 reais. Se o Brasil não criar oportunidades mais estáveis, nunca vamos conseguir entrar no mesmo quadro de comparação das economias desenvolvidas”, diz Nobre.
No Brasil, após seis meses de trabalho com a carteira assinada, como é chamado o contrato formal, o cidadão passa a ter direito ao seguro desemprego, pago pelo Governo pelo prazo de três a cinco meses e que pode atingir o valor máximo de 1.268,49 reais (308 dólares).
Como o pagamento de hora extra é bastante incomum devido aos altos custos ligados a isso, muitos trabalhadores usam o famoso jeitinho para conseguir “acordos” em que são demitidos, deixando, assim, de entrar com uma ação judicial. Desse modo, eles podem acessar o salário desemprego, desde que não sejam contratados na carteira novamente. A Justiça trabalhista brasileira é rigorosa e, em regra, decide rapidamente e a favor dos trabalhadores.
O economista Julio Gomes de Almeida, da Universidade de Campinas (Unicamp), chega a dizer que já existe uma cultura em que a troca de emprego virou uma norma. “Existem pessoas que saem de um emprego já contando com os recursos da demissão até uma futura contratação numa posição muito semelhante à que foi abandonada”, afirma. “Não faz muito sentido financeiro do ponto de vista de um economista, mas muita gente está nessa.”
Existem pessoas que saem de um emprego já contando com os recursos da demissão até uma futura contratação numa posição muito semelhante à que foi abandonada. Não faz muito sentido financeiro do ponto de vista de um economista, mas muita gente está nessa"
Além de afetar a produtividade, colocando o país em desvantagem na competição com os rivais internacionais, a baixa qualificação é um peso diário para quem precisa contratar. E pode ser sentida em negócios tão simples como a empresa de decoração de gesso que Adalberto Antão possui na cidade de Santo André, na Grande São Paulo. De acordo com ele, um instalador de gesso pode faturar cerca de 4.500 reais por mês.
No entanto, ele sofre para encontrar profissionais e na maioria das vezes precisa arcar com os 400 reais do curso de capacitação inicial para formar seus funcionários.
Já Henrique Coronati, diretor-geral da loja Retrô Gol, que vende camisas de clubes esportivos antigas em quatro endereços em São Paulo, afirma que após quatro anos no ramo de franquias ainda não conseguiu fechar uma folha salarial anual de um funcionário, pois eles saem antes de completar um ano. “Para nós que lidamos com o comércio e não podemos pagar um salário alto, é praticamente impossível segurar um trabalhador. E cada vez mais parece que eles olham o emprego como algo descartável”, diz.
E enquanto os empregos que o Brasil cria continuarem sendo de má qualidade, caros para os empregadores, ruins para os empregados, e de baixa produtividade, eles devem ser medidos pelo peso que têm e vistos, de fato, como descartáveis.
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