31/01/2014
às 4:37
Luiz
Inácio Lula da Silva é o maior ator do Brasil, e não é de hoje que lhe
reconheço essa qualidade, entre outras. E, destaco, ele vai melhorando
com o tempo, conferindo sempre mais verossimilhança à sua fala. Por mais
avesso que a gente seja ao PT e à sua pregação, há a tentação de
considerar que Lula está sendo sincero.
O chefão
do PT gravou um vídeo que foi postado em sua página no Facebook e está
no YouTube. Lula fala sobre o papel da Internet na educação política.
Quase não há reparos a fazer a seu texto, exceção feita à parte final,
quando comenta o papel da imprensa. Ele e o PT ainda não entenderam qual
é a função do jornalismo. Mas não chega a ser, nesse caso, um pecado
mortal. Péssimas são as tentativas dos petistas de censurar a imprensa,
mas isso não está caracterizado nesse vídeo. Vejam.
Destaco trechos de sua fala.
Volto em seguida:
“Eu sou favorável a responsabilizar as pessoas que usam a Internet porque eu tenho liberdade de pegar uma estrada e fazer uma viagem com minha família, mas se eu for irresponsável, eu posso matar alguém ou posso morrer.”
“Quanto
mais a gente trabalhar no sentido de falar coisas positivas, mesmo
quando você critica, criticar com fundamento, e não ficar fazendo o jogo
rasteiro da calúnia ou do baixo nível… Quando você calunia, você não
politiza, você não ensina, você não produz um fruto.”
“Eu
acho que a internet é uma árvore que pode produzir frutos novos todo
santo dia se a gente tiver, ao sentar na frente de um computador,
interesse de que alguém aprenda algo mais nesse país ou nesse mundo.”
“Eu,
sempre que puder utilizar a Internet para passar uma mensagem que seja
uma coisa positiva, uma coisa verdadeira, eu utilizarei. Jamais usarei a
Internet para fazer uma calúnia contra quem quer que seja.”
Retomo
O vídeo vem a público dois dias depois de o PT anunciar que vai se articular com os movimentos sociais para… pautar a Internet e, como eles dizem, enfrentar os conservadores. Notem: a concepção é autoritária desde a origem, desde o princípio. Os movimentos sociais, por definição, não deveriam ter partido, certo? O que une aquelas pessoas, até onde se sabe, não é um partido, mas uma reivindicação.
Há mais:
os petistas já criaram um grupo chamado “MAV” — Mobilização de Ambientes
Virtuais.
Como já afirmei aqui, trata-se de uma espécie de polícia
política da Internet. Essa gente fica monitorando as redes sociais para
“combater” seus adversários. Também invade as páginas pessoais de
algumas pessoas conhecidas para patrulhar a sua opinião,
desqualificá-las no caso de alguma discordância, intimidá-las. Sei do
que falo porque a área de comentários deste blog enfrenta essa forma de
assédio.
Ainda não é
a pior parte. Todo mundo sabe que, por meio de publicidade da
administração direta e de estatais, os petistas mantêm uma rede de blogs
— que acabou ficando conhecida como “blogs sujos” — que têm como tarefa
principal atacar figuras da oposição e a imprensa independente, além,
claro!, de defender o governo.
E onde
ficam esses limites de que fala Lula? Ora… Trata-se de um espetáculo
grotesco de baixarias, vigarices, mentiras. Não faz tempo, um dos blogs
da turma associou a imagem do ministro Joaquim Barbosa à de um macaco.
LULA, PESSOALMENTE, TENTOU JOGAR NO COLO DA OPOSIÇÃO A COCAÍNA
APREENDIDA NO HELICÓPTERO de um deputado e de um senador.
Imediatamente a
rede suja passou a replicar a baixaria, embora a Polícia Federal
tivesse descartado o envolvimento dos próprios políticos com a droga.
Isso tudo está documentado.
Quando, no
entanto, a gente vê e ouve Lula no vídeo, é grande a tentação de
considerá-lo uma espécie de líder moral, a dizer coisas sensatas. A
campanha vem aí. E teremos, mais uma vez, a chance de ver do que são
capazes.
Imprensa
Sobre a imprensa propriamente, Lula afirmou:
“Não é que eu quero que todo mundo fale bem do governo; a mensagem é que eu quero que todo mundo seja verdadeiro, seja para criticar, seja para apoiar o governo.”
“Está
acontecendo muita coisa boa nesse país. Eu, às vezes, fico triste
porque eu vejo televisão; começa de manhã, seis e quinze da manhã, eu
estou vendo televisão, o cara já fala assalto não sei onde, morte não
sei onde, batida não sei onde, eu fico pensando: ‘Será que não nasceu
uma criança hoje no Brasil; será que ninguém foi bem atendido em algum
lugar; será que não uma coisa boa pra gente mostrar sempre os dois lados
da moeda’?.”
Vamos ver
Trata-se de um apanhado de bobagens. Pra começo de conversa, existem mais instâncias de opinião que não as favoráveis e as críticas ao governo. Essa fala de Lula traduz a sua mentalidade estatizante, governo-dependente, própria de um partido que aparelhou o estado.
De resto,
sempre que a imprensa tem uma “boa notícia”, esta merece o devido
destaque. Lula não sabe, ou finge não saber, que a imprensa é um dos
instrumentos de que dispõe a sociedade para apontar o que não vai bem,
para tentar corrigir problemas, daí sua aparente inclinação para a má
notícia.
Eu
proponho outra questão a este senhor: que tal se a propaganda oficial do
governo começar a revelar também os problemas para mostrar os dois
lados? Que tal se isso fosse feito inclusive nos pronunciamentos
oficiais? Assim, nesta quarta, em vez de apenas cantar as suas supostas
glórias, o ministro Alexandre Padilha teria se desculpado pelos 41 mil
leitos do SUS que desapareceram entre 2005 e 2012.
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