Resposta à radicalização na segurança
Correio Braziliense - 31/01/2014 |
O
Distrito Federal registra mais de dois homicídios por dia este ano:
foram 63 até 29 de janeiro, 28% mais do que em igual período de 2013.
Outro dado assustador é o número de ocorrências violentas contra bares e
restaurantes: mais de 100 este mês. Apenas uma rede de fast-food teve
20 lojas invadidas desde dezembro. Na raiz do problema, o descaminho da
Polícia Militar, que ignora a hierarquia e a disciplina, bases da
instituição, e afronta a sociedade civil e os poderes constituídos com a
Operação Tartaruga, que já dura dois meses.
Acima do legítimo direito à reivindicação por melhoria salarial e reforço do efetivo, a PMDF, ao invés de cumprir a obrigação de manter a ordem pública e a segurança interna na capital federal, radicaliza a ponto de alguns de seus integrantes usarem a internet para tripudiar em cima das apreensões da população e celebrar a escalada do crime. E os abusos são reproduzidos do topo à base da força. Teve tenente-coronel liberando subordinados de exercer o dever, e sargento desafiando a cúpula da Segurança Pública em vídeo gravado. Sem limites, o movimento perde a razão e a legitimidade para penetrar no campo da anarquia. Pior: extrapola a esfera do interesse corporativo e invade, pelo pantanoso acesso da porta dos fundos, o ambiente eleitoral. É manipulado por interesses marginais, guiado por pretensões políticas de policiais esquecidos das finalidades precípuas da carreira — à qual devem dedicar-se integralmente, por imposição do estatuto que regula seus deveres, direitos e prerrogativas. Nesse contexto, falta à mobilização alguém com autoridade para dialogar com os próprios colegas e com o Governo do Distrito Federal. A ordem de meia-volta, volver demora tanto a chegar quanto o socorro daqueles que clamam por proteção enquanto os policiais militares retardam deliberadamente o atendimento. Representante da Associação de Praças da Polícia Militar declarou com todas as letras, insuflando os ânimos: “A palavra de ordem é radicalizar”. Lembre-se de que, em março de 2012, Operação Tartaruga da PM contribuiu para tornar o DF um dos lugares mais violentos do país, com 88 assassinatos em 30 dias, superior ao do próprio Entorno, com 54 ocorrências do gênero no mesmo período. O que está em jogo na capital da República e suas regiões administrativas é a vida do cidadão. O mesmo membro da entidade de classe acusou o GDF de omissão, deixando uma ameaça no ar, ao especular que a violência tende a atingir “níveis de guerra”. Falta pouco para tal prognóstico virar realidade. E a proximidade da Copa do Mundo e das eleições de outubro pode ser comparada a uma correnteza de gasolina fluindo rumo ao fogo. Portanto, não há o que esperar. Ou a reação é imediata, ou o radicalismo marcará o verão de 2014 com histórica página de barbárie. |
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