MANIFESTO A FAVOR DO ESCÂNDALO
Há uma semana que os jornais não falam de outra coisa.
Agora o “blocão” dos “aliados”, chefiado pelo
PMDB, “impôs uma derrota ao governo”.
A foto do Globo dessa galera em delírio de “júbilo cívico” é impressionante.
E qual o feito épico que comemoravam?
Por se sentirem lesados na divisão daquilo que eles e o PT nos arrancam juntos os “aliados”
romperam o pacto de silêncio sobre as falcatruas uns dos outros que
eles mantêm contra nós, o povo brasileiro.
É isso que eles chamam de “votar todos os projetos com independência”.
Resultado do “voto independente” de ontem?
Vão,
finalmente, dar uma olhada na roubalheira que rola dentro da Petrobras,
coisa de 140 milhões de dólares de suborno pago por uma empresa que
aluga plataformas de petróleo que está sendo investigada ha mais de um
ano pelos governos da Holanda, da Inglaterra e dos Estados Unidos, mas
não pelo do Brasil, que é o principal interessado.
“Se quiser refazer o acordo”, diz o pessoal do PMDB (isto é, o acordo de sempre pra todos voltarem a jogar unidos CONTRA NÓS), “o governo vai ter que sentar e conversar” (isto é, de nos dar uma fatia maior do que está enfiando sozinho no bolso).
Agora, o que mais me assusta é que a imprensa noticia tudo isso pelo ângulo tranquilo e plácido do “debate político”.
Segundo os "pundits" de Brasília tudo não passa de uma "crise da base de sustentação"
normal para essa época de eleição (que, na verdade, é quando as máfias
políticas que estão aí combinam quem vai ficar com quanto daquilo que
nos tungam).
Essa
perda de sensibilidade da imprensa, o fato dela assumir candidamente a
linguagem e o padrão de normalidade ditado pela moral dos bandidos é,
com certeza, muito mais grave que essa “afanadinha” que deram na Petrobras que não é nem a pontinha do iceberg do que rola lá dentro daquela caixa preta gigante.
A
imprensa é o sistema imunológico da democracia; o agente que dá o
alarme para que os anticorpos entrem em ação quando o organismo dela é
invadido por alguma doença que pode matá-la.
O que nós estamos vendo é que o sistema imunológico da nossa democracia está “deprimido”.
Ele também está doente.
O vírus entra, deita, rola e arrebenta e ele
não dá o alarme; continua agindo como se tudo estivesse normal.
Com
isso o organismo social não reage e deixa que a doença vá matando a sua
sensibilidade moral que é o que segura a democracia em pé.
É
preciso resgatar o valor do escândalo. Tem escândalo falso e tem
escândalo autêntico. E o autêntico, mais que necessário, é o sinal vital
da democracia.
A capacidade de se indignar é imprescindível para a
saúde moral da Nação.
E isso SÓ A IMPRENSA PODE FAZER REVIVER. Dos
políticos é que não virá.
É
preciso parar com essa ideia falsa de que ser profissional em
jornalismo é tratar como se fosse normal aquilo que não é normal ou como
se fosse saudável aquilo que é doente
.
Veja-se o exemplo da cidadezinha de Hampton, na Florida, que o Jornal Nacional
mostrou ontem. Montaram lá uma indústria de multas de trânsito; os
funcionários da prefeitura gastaram 70 mil com cartões corporativos; a
cidade deve 300 mil e não paga.
Normal?
No
Brasil é coisa de criança. Não ha quem não faça. Mas lá o prefeito já
está na cadeia, com o devido uniforme de presidiário, mas só isso não
basta.
Se não aparecer a grana da indústria de multas que sumiu e a
cidade não pagar sua dívida, vão acabar com ela como unidade política
autônoma e incorporá-la à cidade vizinha.
É assim que se trata essas estripulias. É assim que se trata essa cambada!
Corrupto tem em todo lugar. Não é privilégio do brasileiro. É privilégio da espécie humana.
Mas
se deixar o corrupto ganhar a parada depois de desmascarado como
corrupto vai tudo pra cucuia.
Não dá mais nem pra mãe da favela
convencer o filho de que é melhor estudar que entrar para o tráfico, nem
pra mãe do Leblon convencer o dela que é melhor trabalhar que puxar
saco de político pra arrumar uma beira pra roubar a Petrobras. E o país
apodrece de cabo a rabo.
Teve outro momento chocante no Jornal Nacional
de ontem, aliás, que ligou alarmes em mim que nunca tinham soado antes.
Viram aqueles moleques do morro depredando um carro da polícia e dando
porrada nos PMs que corriam pra lá e pra cá sem reagir?
O que é que é aquilo, meu deus do céu?!
Segundo a Globo
– e eu vi a cena e a repetição desse diagnóstico umas 10 vezes em todo
os jornais de todos os canais de notícias de Jacarepaguá que estão
sempre ligados aqui no meu posto de observação – trata-se de “uma nova estratégia usada pelo tráfico para desmoralizar as UPPs”!!!
É
nada! Quem desmoraliza a polícia é a imprensa com o modo absurdamente
desequilibrado como ela cobre um lado e outro dessa guerra.
Não precisa “estratégia” nenhuma pra desmoralizar as UPPs.
A
PM está tomando cascudo e chute na bunda de pivete no centro nacional
do crime organizado na véspera da Copa do Mundo porque a polícia já está
desmoralizada. E não foi o tráfico que fez isso.
O tráfico não tem
poder para tanto, como já mostrei no artigo de ontem.
Enfim,
meus caros amigos, a imprensa está precisando ir pro divã correndo.
Ela
é a única esperança que nos resta mas, se não abrir o olho, se não
reativar o seu nervo moral adormecido, se não reassumir a função
institucional para a qual está titulada e legitimada em todo lugar
civilizado do mundo, roda já pra onde já rodaram as da Venezuela e da
Argentina, e nós todos com ela porque já não sobra mais nada em pé.
Nenhum comentário:
Postar um comentário