Vespeiro
11 de março de 2014
No essencial a humanidade é uma coisa só e reage do mesmo jeito aos
mesmos impulsos, seja qual for o tamanho ou a localização da fatia dela
que se queira analisar.
Vejam o caso desse titerezinho da Ucrânia.
Enfrentado, deixou para traz a “dacha”
obscena e, disfarçado e por rotas de fuga previamente mapeadas, recurso
de todo e qualquer criminoso desde sempre, correu com o rabo entre as
pernas disposto a desaparecer para sempre nas trevas, tomando o cuidado
de levar o quanto pode do que roubou do povo da Ucrânia, ladrão que é, e
que deve ter sido bastante posto que a profissional que anda com ele,
uns 30 anos mais jovem, achou que ainda tinha a ganhar continuando ao
lado do velhote.
Amparado por uma autoridade constituída, com um poderoso exército nas
mãos e disposta a garantir-lhe a impunidade com tanques, aviões e fuzis
kalashnikov, ei-lo de volta à luz do sol, “agrandado“, arreganhando os dentes para o povo da Ucrânia que o escorraçou e para o mundo que lhe “deu mole”.
Ontem escrevi sobre esse mesmo tema e fui mal compreendido por uma
leitora.
Mostrava como o crime reflui imediatamente, assim que o Estado
lhe opõe resistência, e como faz mal para a nossa segurança e a de
nossos filhos e mães ficar tergiversando a esse respeito como se
houvesse qualquer dúvida razoável de que tirar criminosos das ruas e
mantê-los fora delas é o caminho mais concreto para se reduzir a
criminalidade assim como manter o direito de suas vítimas potenciais de
se defender de arma na mão reduz a arrogância e a “coragem” desse tipo de covarde.
Viktor Yanukovitch acaba de provar as duas coisas, a primeira com a
ajuda de Vladimir Putin e a segunda pelo fato de, graças a ele, poder
contar agora com tanques e soldados armados e suas vítimas potenciais
não.
Os criminosos dos morros do Rio de Janeiro também já o tinham provado
praticamente tomando a cidade quando a autoridade constituída de então,
o pai do “socialismo moreno” Leonel Brizola, tirou a polícia dos
morros e entregou-os ao crime organizado, e refluindo imediatamente
assim que o Estado, 30 anos depois, resolveu finalmente exercer o papel
para o qual foi criado e estabelecido.
A presença e a força do crime organizado, aliás, é inversamente
proporcional à quantidade de democracia de que desfruta uma sociedade.
Pois democracia não é muito mais que uma série simples de arranjos para
por o destino das autoridades constituídas nas mãos do povo de modo a
obrigá-las a jogar a favor dele ou perder o cargo e ir se haver com os
joaquins barbosas da vida lá na Papuda.
Totalitarismo é precisamente o avesso disso.
O extremo oposto.
É pôr o
destino do povo nas mãos das autoridades que se impuserem pela força de
modo a deixá-lo inteiramente dependente delas e obrigado a obedecê-las
cegamente ou ir parar num campo de concentração, num manicômio ou
simplesmente perder a vida.
Vladimir Putin foi o chefe da polícia secreta encarregada desses
fuzilamentos e condenações no mais longevo e violento dos regimes
totalitários que a Terra já viu, que é aquele que prevaleceu na Rússia
Soviética entre 1917 e 1989 e nas dezenas de países à sua volta que ela
invadiu e submeteu pelas armas.
O mesmo regime que esse pessoal que nos
governa hoje também tentou impor pelas armas ao Brasil.
Vladimir Putin sempre foi, portanto, um criminoso.
Para piorar as coisas, basta fazer as contas para entender que não
existe um único russo vivo hoje que tenha experimentado em casa qualquer
coisa que se assemelhe a um Estado de Direito.
De lá (1989) para cá, só
mudou o discurso, que se tornou mais honesto.
O povo já está tão
acostumado a viver nas mãos de criminosos que a coisa funciona mais ou
menos como nos morros cariocas: os trogloditas de hoje assumem-se
tranquilamente como o que são e trabalham aberta e explicitamente, tanto
para eliminar fisicamente quem se lhes opõe, quanto para cobrir de ouro
quem lhes lambe as botas.
E eles são muitos!
Os equivalentes da antiga “nomenklatura” dos tempos da Rússia
totalitária – os funcionários do partido que tinham de desfrutar seus
privilégios escondidinhos e só no território nacional – constituem-se
hoje na ponta mais exibida e cafajeste do “jet set” internacional e desfila a sua impunidade nos antigos resorts que compunham a crônica do glamour do século 20 que a “comunistas”
só era dado cobiçar de longe, com seus séquitos de prostitutas
escandalosas e suas orgias de incineração ostensiva de dinheiro fácil.
As modernas versões brasileiras desse tipo ancestral são duas:
na ponta de baixo, os traficantes dos morros com seus barracos “de luxo” e suas jacuzzis lá no topo, os correntões e os fuzis de ouro e o séquito de “popozudas“;
na ponta de cima, os barões do BNDES com seus carrões, seus jatões,
seus iatões e suas peruas carregadas de bolsas que custam o preço de
casas, disputando esses mesmos resorts com seus concorrentes russos.
Todos dependem igualmente da impunidade garantida pela autoridade
constituída sem a qual o crime organizado não sobrevive nem dez minutos.
No Brasil, onde todo mundo já sentiu, aqui e ali, um cheirinho de
democracia nos nossos momentos de transição entre extremos que, graças a
deus, nunca conseguiram se impor totalmente, a coisa toda pega mais
leve porque ainda existe a polícia lidando com a ponta de baixo e o STF
tentando lidar com a ponta de cima.
Na Rússia não tem ninguém fazendo força contra. Todo mundo só faz o que Putin quer.
Os putins da vida, para resumir, encolhem ou “se agrandam” em arrogância e truculência em função do que faz ou deixa de fazer a “policia do mundo” que são os Estados Unidos e a OTAN.
De modo que é fácil entender o que está acontecendo.
O sinal nas fronteiras a que eles limitavam a sua truculência mudou de vermelho para amarelo quando Barak Obama e a OTAN “arregaram”
diante do Irã e sua bomba atômica.
Em troca de uma vaga promessa de
adiar a explosão eles deram carta branca aos aiatolás para continuar
financiando o terrorismo em pelo menos três países do mundo – o Líbano,
Israel e o Iraque.
Não bastou. O sinal passou a amarelo piscante quando Barak Obama e a OTAN “arregaram”
novamente diante de Bashar Al Assad, o genocida, dando-lhe carta branca
para continuar massacrando a população da Síria desde que não seja por
envenenamento com gás.
E finalmente ficou verde quando, logo depois dos seus sócios
europeus, Barak Obama também anunciou que vai reduzir os gastos
militares americanos a níveis anteriores aos da 2a Guerra Mundial, o que quer dizer que quem quiser “se agrandar” que “se agrande” porque não haverá consequências.
Foi o que fez Valdimir Putin se sentir seguro o suficiente para
anunciar que a Rússia (depois da China) vai multiplicar como nunca os
seus que passarão a 730 bilhões de dólares até 2020 quando ele espera
ter concluído o seu programa de construção de mais de 100 bases aéreas e
navais em diversos lugares do mundo, incluindo, entre outros, a
Venezuela, Cuba, o Vietnã, a Nicarágua, Seychelles, Cingapura e outros.
Isso tudo partindo de uma única base fora do país hoje, localizada em
Tartus, na Síria de Bashar Al Assad e agora, provavelmente logo, uma
também na Criméia ucraniana e talvez mais que isso.
E é claro que um
empresário do crime como ele não ha de investir 730 bilhões em armas
para não usa-las jamais.
E aí, sabe como é: invadir e coçar, é só começar…
Os bandidos do mundo, enfim, sentados em tronos ou não, agem
exatamente do mesmo modo que os bandidos dos morros cariocas ou das ruas
de São Paulo e do resto do Brasil: “se agrandam” na sua
covardia assassina quando o Estado e a polícia se omitem ou tornam-se
seus aliados; fogem com o rabo entre as pernas quando o Estado e a
polícia cumprem o seu papel e os enfrentam.
O resto é conversa, em geral de gente mal intencionada, que não tem o menor respaldo nos fatos.
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